Um incêndio destruiu parte do prédio da estação da Luz, patrimônio histórico na região central de São Paulo erguido 148 anos atrás, e devastou toda a instalação do Museu da Língua Portuguesa, um dos mais visitados da cidade e abrigado no local desde 2006. Um bombeiro civil que trabalhava no local, intoxicado com a fumaça, morreu com parada cardiorrespiratória. Segundo os bombeiros, as chamas destruíram o segundo e terceiro andares do prédio, mas, em princípio, não afetaram a estrutura da estação de trem local – onde passam 200 mil pessoas ao dia. O governador Geraldo Alckmin (PSDB) disse que irá reconstruir o museu. O incêndio começou por volta das 15h50 e foi controlado duas horas e meia depois. Uma imensa nuvem de fumaça cinza se espalhou pelo centro da cidade, e o teto de madeira do prédio, restaurado no século passado, desabou. Para conter as chamas, os bombeiros contaram com a ajuda da forte chuva que desabou à tarde na capital.
Como toda segunda-feira, o museu estava fechado ao público. Funcionários relataram que deixaram o prédio após ouvir o alarme de incêndio. "O museu foi totalmente afetado, é uma tragédia", disse o secretário estadual de Cultura, Marcelo Araújo. Todo acervo do museu, porém, é digital e, segundo ele, conta com cópia de segurança – ainda não há estimativa de prejuízo. O museu e todo o complexo da estação da Luz não tinham aval dos bombeiros para funcionar. Segundo a corporação, os responsáveis pelo museu apresentaram projeto em 2004 (que foi aprovado), mas não deram prosseguimento ao pedido. A apresentação é só a primeira fase de um processo para obtenção do AVCB (Auto de Vistoria do Corpos de Bombeiros). O segundo passo é um pedido de visita dos bombeiros para análise das edificações. Construída para ser a grande porta de entrada da cidade, por onde passaria o café do interior e os imigrantes vindos de Santos, a Estação da Luz, muito semelhante à atingida agora, existe desde 1902. Uma outra, modesta, funcionava ali desde 1867. "O que veio da Europa, desmontado, era o teto de aço. Os tijolos, por exemplo, foram feitos aqui, em olarias que a própria SP Railway incentivava que fossem feitas", afirma o arquiteto Lúcio Gomes Machado, professor da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo), da USP. A partir dos anos 1950, com o incentivo ao transporte por automóvel, as ferrovias caíram no ostracismo. No centenário do prédio, em 2002, começaram as obras de restauração do edifício. Parte do local, que estava em estado de abandono, é que recebeu o Museu da Língua Portuguesa. Os bombeiros já iniciaram as investigações sobre as causas do incêndio. Ainda será realizada uma perícia. Atualmente, a mostra exposta no museu contava a história do etnógrafo potiguar Câmara Cascudo. Para tanto, havia um corredor com 20 mil livros, que levava à "Babilônia", uma instalação de madeira feita para recriar o caos da biblioteca do autor. Havia, também, 1.100 figuras de gesso que representavam entidades do candomblé e do catolicismo e bonecos do folclore brasileiro. Segundo sua neta, Camilla Cascudo, eram reproduções ou objetos feitos especialmente para a exposição – o acervo de Cascudo está intacto, em Natal (RN). Esse não foi o primeiro incêndio no local. Em 1946, o foco engoliu parte da estação. As chamas, segundo noticiou a "Folha da Manhã", destruíram o famoso relógio da estação, no alto de uma torre. Nesta segunda-feira, porém, o relógio não foi atingido e registrava 18h15 quando os bombeiros controlaram o fogo. A Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo afirmou que o acervo do Museu da Língua Portuguesa, na região da Luz, em São Paulo, terá "recuperação plena" após o incêndio que tomou sua estrutura na tarde desta segunda-feira. "A Secretaria esclarece que todo o acervo do museu era virtual, por isso, sua recuperação plena será possível após a reconstrução do edifício, medida já anunciada pelo governador Geraldo Alckmin", diz o texto, que também afirma que a obra será priorizada pela gestão estadual em parceria com entidades parceiras. A secretaria garante que o museu atendia a todos os requisitos necessários para a segurança e a circulação de visitantes e funcionários e que os procedimentos de segurança eram verificados periodicamente. "Além disso, possui seguro contra incêndio da ordem de 45 milhões de reais." Nesta segunda, o museu estava fechado, como acontece semanalmente, por isso não recebia visitantes na hora do incêndio. A secretaria também lamentou a morte do bombeiro civil Ronaldo Pereira, morto durante o combate às chamas no museu. Ele chegou a ser socorrido e levado para o Hospital das Clínicas, mas não resistiu. "A destruição parcial do prédio é uma grande perda, mas nunca comparável à vida humana, essa sim, insubstituível. Nos solidarizamos com seus familiares", diz o comunicado. O incêndio, que começou no primeiro andar do edifício, segundo os Bombeiros, consumiu praticamente todo o telhado do prédio. De acordo com o secretário estadual de Cultura, Marcelo Araújo, uma perícia vai apurar as causas do incêndio.
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