O truque bolivariano de chamar Marina de “extrema direita”
Quem fez a síntese de que Marina é o plano B do Foro de São Paulo foi Olavo de Carvalho. Eu, muito embora tenha me limitado a cobrar que ela fosse questionada no 1º turno sobre o vínculo do seu partido com o Foro e especialmente sobre seu apoio ao decreto 8.243, uma ideia já presente anteriormente na agenda da entidade, não posso deixar de constatar o óbvio:
Se em um (hum!) artigo publicado no site da Telesur, um (hum!) esquerdista bolivariano, Miguel Angel Ferrer, rotula Marina como representante da “extrema direita”, como a esquerda radical sempre rotulou qualquer candidato esquerdista que não fosse o seu preferido, isto não refuta em nada a tese do Olavo.
Mesmo que a esquerda bolivariana inteira atacasse o suposto plano B do Foro de São Paulo, isto só mostraria – se tanto – que a preferência é pelo plano A. Ademais, só amadores que não estudaram Hegel menosprezam a malícia de esquerdistas. Eles são profissionais do teatro, perfeitamente capazes de fingir que um subordinado direto ou indireto é alguém de cujo governo eles não se beneficiariam também.
Com tanta sujeira já exposta no governo do PT, não duvido que um governo Marina seja uma oportunidade até melhor para que a canalhada mantenha seus esquemas de poder e corrupção, sem dar tanto na vista do público. O perigo patente da eleição de Marina é esse: resultar em um petismo igual ou pior, pois que encoberto e dissimulado por novos ares messiânicos.
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Duas notas recentes do Olavo sobre o tema:
1) Não é de hoje que a esquerda se divide para assim monopolizar o espaço do debate e da concorrência. Prestes x Marighela, Brizola x Lula, PT x PSDB, lulistas (“moderados”) x “radicais” e assim por diante. É uma técnica e uma compulsão ao mesmo tempo. Faz parte da estrutura dos movimentos revolucionários. Cada vez que aparece uma dessas divisões, os idiotas da direita festejam, achando que vai enfraquecer a esquerda.
2) Há duzentos anos Hegel ensinou que é impossível mover a História com uma força linear; só é possível fazê-lo através de duas forças opostas unificadas numa síntese superior. Os comunistas decoraram essa lição, que os liberais não conseguem mesmo aprender.
A estratégia de “dividir para reinar” não pode funcionar contra quem VIVE da divisão.
Quantos comunistas desiludidos não deixaram de se tornar liberais ou conservadores porque encontraram, mais à mão, a alternativa trotsquista? E assim por diante.
Se quer entender o comunismo, estude Hegel antes. Deslizar entre os opostos é, mesmo para o mais burro dos comunistas, quase um instinto. Não há teses opostas entre si que não tenham sido defendidas, em ocasiões diversas ou até simultaneamente, por autores comunistas.
Vocês leram “Il Gattopardo” de Giuseppe Tommasi di Lampedusa, ou viram o filme [de Luchino Visconti, com Burt Lancaster e Alain Delon]? Pois é. O príncipe defende o regime e ao mesmo tempo manda um sobrinho lutar contra. Defende a aristocracia e sobrinho com a filha do burguês arrivista. Tudo calculado. Tommasi era um reacionário marxista.
Aplique esse raciocínio a nós mesmos: a direita brasileira não tem crescido por meio da disputa entre conservadores e liberais? A diferença é que os comunistas usam a divisão conscientemente, a direita acredita piamente que a divisão é a tragédia das tragédias.
* Artigos antigos de OdeC sobre o tema:
- A mentira como sistema;
- Antropofagia;
- Da ignorância à maldade;
- Dormindo profundamente;
- O óbvio esotérico.
- A mentira como sistema;
- Antropofagia;
- Da ignorância à maldade;
- Dormindo profundamente;
- O óbvio esotérico.
Felipe Moura Brasil ⎯ http://www.veja.com/felipemourabrasil
Tags: comunismo, esquerda, Foro de São Paulo, Hegel, Marina Silva, Miguel Angel Ferrer, Olavo de Carvalho,PSB, PT, Telesur
link:
http://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil/2014/09/23/o-truque-bolivariano-de-chamar-marina-de-extrema-direita/
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