quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

10/12/2014
 às 19:00 \ Política & Cia

Segundo o FMI, o Brasil poderia ser um gigante da economia mundial, mas, por enquanto, é apenas o atrasado da América Latina

(Imagem: Michael Friedel/Rex Featurs/Jon Berkeley)
Na famosa imagem da revista The Economist, o Brasil decola, mas volta a cair (Imagem: Michael Friedel/Rex Featurs/Jon Berkeley)
O BRASIL RETARDATÁRIO
Editorial publicado no jornal O Estado de S. Paulo
Enquanto o governo faz malabarismos para fechar suas contas de 2014, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, manifesta otimismo em relação ao país.
Ela se disse “encorajada” com a equipe econômica do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. E foi além: o Brasil, segundo ela, pode ser um gigante, do ponto de vista econômico, se o governo adotar políticas fiscais sólidas, atacar os gargalos e realizar as reformas estruturais necessárias.
O comentário sobre a nova equipe deve ser sincero, mas dificilmente a principal executiva de uma entidade multilateral diria algo diferente sobre o governo de um país associado. Quanto à outra declaração, é quase uma redundância. A mesma observação tem sido feita sobre outras economias latino-americanas, embora quase todas estejam em situação melhor que a do Brasil.
Christine Lagarde falou sobre as perspectivas brasileiras em entrevista coletiva em Santiago, onde participou de uma conferência regional promovida pelo governo chileno e pelo FMI, na semana passada. A reunião evidenciou mais uma vez o descompasso entre a evolução da economia brasileira, nos últimos dez anos, e a da maior parte da região.
Nas últimas duas décadas, disse a diretora do Fundo, a maioria dos países latino-americanos conseguiu avançar com inflação baixa, disciplina fiscal e estabilidade financeira. Além disso, a crise iniciada em 2008 produziu menos danos na região do que em outras partes do mundo. Mas o próprio Fundo, em suas estatísticas e projeções, mostra diferenças importantes entre os países da América Latina e do Caribe.
Suas últimas estimativas, divulgadas em outubro, apontaram para o Brasil crescimento de 0,3% em 2014 e de 1,4% em 2015, bem abaixo da média regional, de 1,3% para este ano e de 2,2% para o próximo. As médias seriam muito mais altas sem o péssimo desempenho de Brasil, Argentina e Venezuela.
As novas projeções da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), publicadas pouco antes da reunião de Santiago, também mostram o Brasil como retardatário na corrida do crescimento. A expansão estimada para o país ficou em 0,2% em 2014 e em 1,3% em 2015. Só quatro economias aparecem com desempenho pior que a do Brasil em cada um dos dois anos: Argentina, Venezuela, Barbados e São Vicente e Granadinas.
Com alguma diferença nos números, essa classificação é igual à da tabela do FMI. A secretária da Cepal, Alicia Bárcena, também esteve em Santiago e comentou a situação regional.
Lagarde e a equipe do Fundo insistiram no receituário formulado há algum tempo, com ênfase na consolidação das contas públicas, maior cuidado com o déficit na conta corrente do balanço de pagamentos, eliminação de gargalos de infraestrutura e, para efeito em prazo mais longo, maior empenho na educação e na formação de capital humano.
O roteiro indicado pelos economistas da Cepal é parecido com esse em vários pontos e mais enfático no caso da integração comercial entre os países da região. Seria uma forma de garantir maior demanda numa fase de baixo crescimento do comércio internacional e de menor dinamismo na China.

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