SUSPEITAS DE CORRUPÇÃO
Vice-presidente da Argentina envolvido outra vez em irregularidades
Documentos mostram que quando ele era ministro da Economia teria intercedido para favorecer possuidores de títulos da dívida argentina, reestruturada em 2010. Provas são parte da investigação sobre pagamento de mais de US$ 12 bilhões - correspondentes ao default da histórica crise de 2001. Amado Boudou está envolvido em outros casos investigados pela justiça.
Por NICOLÁS WIÑAZKI
A reestruturação da divida, realizada pelo governo da presidente Cristina Kirchner, em 2010, em uma operação financeira de mais de 12 bilhões de dólares, está sendo investigada pela Justiça.
O atual vice-presidente da Argentina, Amado Boudou, era o então ministro da Economia e dirigiu as negociações com os que possuíam títulos da divida do País.
Desde meados de maio, Boudou está vinculado em uma causa judicial que investiga se ele cometeu o delito de tráfico de influências para beneficiar os proprietários dos títulos da dívida: a suspeita dos investigadores se baseia no papel que a consultoria Arcadia Advisors, com vínculos com Boudou e outros funcionários do governo e ao mesmo tempo representante dos portadores de bônus, teve nessa operatória.
Depois de uma questão de competência entre tribunais resolvida pela Câmara Federal, a causa ‘Dívida’ ficou sob instrução do promotor Jorge Di Lello e do juiz Ariel Lijo – os mesmos que investigam o vice-presidente em outro caso - o caso ‘Ciccone’ (uma empresa que imprimia o dinheiro dos argentinos, o peso, e foi apontada com vínculos com Boudou e uma série de irregularidades).
O jornal Clarín teve acesso a documentos que mostram que, pelo menos desde agosto do 2009, Boudou trocava informação governamental e opiniões sobre a reestruturação da dívida –que se formalizaria em abril de 2010– com um dos sócios de Arcadia, Marcelo Etchebarne.
Esta consultoria representava os portadores de bônus que se beneficiariam com a operação financeira regulamentada por Boudou.
Etchebarne levou os clientes a um sucesso garantido.
Oito meses antes de o governo anunciar a reabertura desta operação da dívida, Etchebarne aconselhou a Boudou que deveria preparar a instrumentação legal dessa operatória financeira, mas sem fazer anúncios formais a respeito.
Os argumentos que Etchebarne deu ao então ministro foram, entre outros, que a troca de papéis da dívida bem-sucedida provocaria a volta da Argentina aos mercados de crédito, potencializando assim o financiamento da produção no País.
Quando defendeu publicamente a reabertura desta reestruturação, Boudou usou uma linha discursiva calcada na de Etchebarne: “Haverá um fluxo forte de investimentos voltados ao setor produtivo, que permitirá criar postos de emprego de qualidade”, disse no dia 8 de abril do 2010 em uma visita a Washington.
No intercâmbio de comunicações entre Etchebarne e Boudou, o representante da Arcadia foi muito claro a respeito de seus objetivos.
No dia 4 de agosto de 2009, por exemplo, disse que as regras da reestruturação tinham que estar preparadas para que o processo se realizasse mais rapidamente uma vez anunciado publicamente.
O consultor avisou o ministro que achava que podia ser inconveniente que a operação não estivesse preparada quando o governo tomasse uma decisão sobre esse ponto.
“Ter tudo preparado leva vários meses”, afirmou Etchebarne a Boudou.
No dia 4 de agosto de 2009, Etchebarne enviou ao Ministério de Economia dois estudos sobre o impacto que a troca de papéis da dívida provocaria nos mercados do mundo e também na economia local.
Entre outros pontos, dizia que o risco país da Argentina diminuiria e que seria possível renegociar a dívida com o Clube de Paris.
Etchebarne também deu a Boudou informação sobre os portadores de bônus: avisou que aceitariam uma oferta menor do que a que o governo tinha feito na reestruturação anterior, de 2005.
O jornal Clarín soube que em 2009 Etchebarne organizou reuniões privadas de Boudou com autoridades dos bancos que realizariam a reestruturação vários meses depois.
A denúncia sobre o papel de Arcadia na operação da dívida de 2010 e seus vínculos com Boudou foi realizada no Congresso Nacional pelo deputado da oposição Claudio Lozano, da Frente Ampla e Progressista (FAP).
O deputado Fernando “Pino” Solanas, do também partido opositor ‘Proyecto Sur’, a levou à Justiça.
Há duas semanas, quando saiu a notícia que Boudou foi vinculado na causa Arcadia, Etchebarne, o principal sócio da consultoria, fez uma declaração aos meios de comunicação e apontou a Lozano:
“As denúncias de Lozano são, além de falsas, absurdas”, disse, e acrescentou que “Arcadia e Barclays (o banco) assessoraram nos EUA um grupo de investidores institucionais, regulados pela SEC, que aprovou a transação”.
Etchebarne também especificou que para esta operatória o governo tinha contratado os bancos Barclays, Deutsche e Citi em setembro de 2008, quando Boudou ainda não estava à frente do Ministério da Economia.
Lozano diz agora que essas declarações de Etchebarne reafirmam sua denúncia: “Ficamos sabendo que existia uma contratação do ano 2008 do grupo de bancos organizadores das reestruturações que não ficou objetivada em Decreto ou Resolução alguma”.
Em 2010, quando a troca de títulos da dívida foi realizada, Etchebarne e Emilio Ocampo eram sócios da consultoria Arcadia Advisors.
Quem eram os donos dos títulos da dívida que se beneficiaram com a operação de 2010?
Na época, Lozano apresentou um projeto de resolução no Congresso Nacional para que o governo informasse sobre a questão, o que poderia permitir indagar sobre o possível vínculo desses beneficiários com as autoridades do Executivo.
O governo nunca respondeu sobre esse ponto.
Uma das primeiras medidas de prova que o promotor da causa ‘Dívida’, Di Lello, pediu foi precisamente essa: quer saber quem são os portadores de bônus que entraram na reestruturação impulsionada por Boudou. E por Arcadia.
Fonte:
http://www.clarin.com/br/Vice-presidente-Argentina-envolvido-outra-irregularidades_0_934707036.html
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