Cunha dá nó na esquerda com proposta de consulta popular sobre maioridade penal
Neste domingo, Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, usou sua conta no Twitter para anunciar sua disposição em levar o tema da maioridade penal adiante: “A próxima polêmica após a conclusão da reforma política será a redução da maioridade penal, que votaremos até o fim de junho em plenário”, escreveu o peemedebista. “A comissão especial da redução da maioridade penal deve concluir seu trabalho até o dia 15 de junho e levaremos imediatamente ao plenário.”
O deputado também aproveitou para cutucar o PT, cuja bancada é contrária à alteração, e com quem trava sucessivas quedas de braço. “O PT não quer a redução da maioridade e acha que todos têm de concordar”, escreveu. “Além dessa polêmica, teremos ainda muitas outras já que não vamos deixar de levar à votação matéria porque um grupo do PT não quer”. Assim é a democracia e a divisão dos poderes, fundamental para o funcionamento republicano do governo.
Cunha propõe também uma consulta popular sobre o assunto. Jogada de mestre, que dá um nó na esquerda. Afinal, liberais e conservadores sempre defenderam a democracia representativa, e mesmo assim com ressalvas e cautela. Sabem que democracia não pode ser sinônimo de “ditadura da maioria”, que o sufrágio universal não é o mesmo que liberdade individual, que Rousseau e sua “vontade geral” são um perigo, e que é fundamental limitar o poder estatal, independentemente do desejo da maioria, justamente para preservar os direitos das minorias. Os liberais e conservadores entendem, enfim, que certas questões não devem ser decididas pela maioria.
Mas esses são os liberais e conservadores. Já os esquerdistas costumam enaltecer a “democracia direta”, justamente porque pregam o populismo e a demagogia, sabem que é possível manipular as massas e usar minorias organizadas para falar em nome da maioria, mas agir de acordo com os interesses dos poderosos. O “orçamento participativo” de Olívio Dutra no Rio Grande do Sul foi assim. A tomada de poder de Chávez na Venezuela foi assim. Destrói-se a democracia de dentro dela.
Só há um pequeno problema: essa ideia de consulta popular, democracia direta e tudo mais só é aplaudida pela esquerda quando ela sabe que o tema em questão lhe será favorável, ou seja, quando dá para usar a demagogia em troca de votos. Quando a pesquisa popular ou o referendo são sobre coisas que a ampla maioria discorda da esquerda “progressista”, os “democratas fanáticos” se tornam instantaneamente defensores do autoritarismo de uma elite “ungida”. Referendo sobre estatuto do desarmamento? Deixa pra lá…
E que tal uma consulta popular sobre a maioridade penal? Nem pensar! A esquerda não é trouxa e viu as pesquisas mostrando que uns 90% da população brasileira querem sua redução, pois não suportam mais a impunidade dos galalaus assassinos, tratados como “vítimas da sociedade” por essa esquerda insensível. Como fica? Vamos escutar a voz do povo ou não? Vox populi, vox Dei, não é verdade? Ou será que a esquerda agora vai mostrar sua verdadeira cara e deixar o véu da hipocrisia cair, expondo sua faceta antidemocrática?
Rodrigo Constantino
Tags: Eduardo Cunha, maioridade penal
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http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/democracia/cunha-da-no-na-esquerda-com-proposta-de-consulta-popular-sobre-maioridade-penal/
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