Obrigado,Google por estar nos transformando em meros retardados!
Eu me lembro quando a Internet começou a expandir-se de forma que todos os mortais pudessem ter em casa. Diziam que as pessoas teriam mais informação, aprenderiam mais etc. Ledo engano. Houve foi uma disseminação de gente burra e preguiçosa (ou preguiçoso e burro. Não sei o que veio antes). Por um lado, o Google facilitou as nossas vidas, garimpando as informações e servindo de aliado no nosso dia-a-dia. Pelo outro, ele ajuda a atrofiar o cérebro, onde as pessoas não usam o órgão (o cérebro! O cérebro!) como deveria. Pelo menos, é o que sugere uma pesquisa feita por várias universidades. Estamos ficando burros mesmo, ou isso só ficou mais facilmente constatado?
Algum mané é bem capaz de chegar aqui e me xingar (grande novidade!). Irão falar que eu sou contra a tecnologia (como coisa que “tecnologia” só apareceu depois do cara ter comprado seu core i7 e que eu estou ultrapassado. A questão não é bem essa. Eu sou do tempo que tinha que decorar os afluentes das margens esquerda e direita do rio Amazonas. Meu pai sabe, mas isso não angariou nenhuma informação relevante. Com 2 segundos de Google, eu posso saber. O dr. Watson ficou estupefato ao tomar conhecimento que o inteligentíssimo Sherlock Holmes não sabia que a Terra gira em torno do Sol. Para Sherlock Holmes, “Para mim, o cérebro de um homem é como se fosse originariamente um sótão vazio, o qual deve ser entulhado com os móveis que escolhermos. Um tolo o enche com toda quinquilharia que vai encontrando pelo caminho… O especialista, pelo contrário, mostra-se extremamente cauteloso quanto ao que coloca em seu cérebro-sótão. Depositará lá apenas as ferramentas que poderão ajudá-lo a realizar o seu trabalho, mas delas terá um vasto sortimento e todas arrumadas em perfeita ordem… é da máxima importância evitarmos que dados inúteis ocupem o lugar dos úteis”. Trecho oriundo do livro Tabloide Negro*.
Elementar, não é mesmo? Não, não é elementar, já que nos livros de Sherlock Holmes NUNCA apareceu a frase “elementar, Watson”. Sherlock ensina que o cérebro é por demais precioso para guardar quaisquer tipos de informação. Mesmo porque, informação NÃO É conhecimento. Quando meus alunos perguntam para que serve os níveis e subníveis energéticos, eu só respondo: “nos tempos que trabalhei em indústrias, nunca usei nada disso”. Níveis e subníveis energéticos <pausa dramática. André olha para a plateia e a música incidental dá um acorde> não existem! São modelos matemáticos. Níveis como as cascas de uma laranja são apenas uma forma de explicar o que existe no interior do átomo. São modelos e não representações reais. É realmente necessário saber isso? Creio que não, mas é matéria de vestibular e pronto, acabou-se.
O Google facilitou muito a tarefa de ter estas informações, assim como facilitou outras coisas, até mesmo fazendo contas (escreva 3598745211-25445 na barra de busca do Google). Se eu escrever “Boltzmann constant”, ele não titubeará e dará o valor 1,3806503 × 10—23 m2 kg s—2 K—1. Ok, eu tenho coisa mais importante a me lembrar de constantes físicas que são… constantes. Eu posso muito bem consultá-las. Por outro lado, as pessoas estão perdendo a capacidade de exercitar a memória. Elas sabem que basta ir no Google para saber o telefone de uma loja. Mesmo no caso da pessoa já ter visitado a loja e ter pego um cartão de visitas.
Pesquisadores da Universidade Harvard, a de Wisconsin-Madison e da Universidade de Columbia, todas nos EUA, realizaram testes para analisar como anda nossa dependência de informações que são triviais, mas as pessoas tendem a usar o Google. Como é esta tendência? Entre os testes estava um que estipulava o grau de dependência de informações online, para o caso de perguntas que não se saberia o teor com antecedência. Em outras palavras, os pesquisadores trabalharam com duas linhas de perguntas. Em uma delas, os entrevistados saberiam sobre o que, especificamente, iria ser perguntado; em outra parte, os pesquisadores não davam nenhuma pista aos entrevistados. O que se seguiu foi que quando a cobaia sabia o que ia ser perguntado, meio que relaxava, pois sabia que a informação poderia se facilmente encontrada online.
Em seguida, eles testaram como andava a memória das cobaias. Os testes mediam o grau de lembrança que os ratinhos-brancos-de-duas-pernas de sites e informações que já tinham pesquisado antes. Os resultados mostram que mais uma vez a preguiça falou mais alto e São Google de Xangô salvou o dia mais uma vez.
Isso se reflete das maneiras mais danosas possíveis.
CASO 1
Eu passei um trabalho certa vez. Como estava abordando a matéria de compostos nitrogenados, pedi um trabalho sobre explosivos. Um dos alunos demorou a me entregar o trabalho. Perguntou se podia mandar por e-mail. Concordei. Abri o e-mail na frente dele e vi o maravilhooooooso trabalho que começava com a mais profunda pérola em termos de informação do ponto de vista químico:
Explosivo é aquilo que explode.
(eu quase explodi com essa)
Olhando o trabalho, ele só tinha UMA página. Eu perguntei cadê as informações que eu tinha pedido quando passei o trabalho. Ele me responde como se eu fosse uma criança com problemas mentais: “Ué? Não tá vendo que cada linha tem um link? Basta clicar no link e você verá as informações”.
(calma, André. Homicídio é crime. Se bem que inseticídio não é. hummmmm…)
Na outra turma, de 1º ano do Ens. Médio, pedi um trabalho sobre cimento. O miserável fedorento esquisito emo desgraçado criatura dos infernos aluno me entrega quase 50 páginas de texto. O problema é que era um catálogo de uma fabricante de cimento, com informações tão similares ao que eu pedi quanto uma receita da cozinha maravilhosa da Ofélia (acabei de entregar a minha idade).
Quando eu informei a todos que parte da matéria da prova era exatamente sobre os trabalhos que pedi, uma horda de alunos invadiu a sala do coordenador para reclamar a minha cabeça, pois era um “absurdo que o professor passe um trabalho e queira que os alunos estudem o trabalho ou sequer o leiam depois, como se aquilo fosse importante” (sic). O negócio foi tão idiota que o coordenador nem deu trela a eles.
CASO 2
Estava eu na minha sala, pensando nas vicissitudes da vida (e doido pra ir pra casa) quando uma das alunas pergunta se eu podia ajudá-la com um trabalho. Era um exercício de matemática que ela não entendia. Eu falei pra ela puxar uma cadeira e expliquei detalhadamente cada passo do exercício até a resolução. Mandei ela reler tudo enquanto eu atendia outro aluno por causa de uma prova. Quando termino a aluna tinha, simplesmente, APAGADO todo o desenvolvimento que eu fiz e me perguntava a resposta do exercício. Depois de um esporro, eu disse que não a ajudaria em nada mais. Ela sai e depois de algum tempo volta com o exercício impresso, totalmente feito. Ela tinha pedido ajuda a uma “professora” e esta disse para usar o Gúgou.
Teste rápido. Esta “professora” é:
a) Química
b) Matemática
c) Engenheira
d) Psicopedarretardada
Outra pergunta: o Gúgou ajudou a aluna? Eu perguntei isso e arrematei: seu professor deixará, no dia da prova você abrir o notebook e consultar o Google? A resposta foi que eu não sabia de nada de tecnologia. De acordo com Nicholas Carr, atualmente somos incapazes de nos concentrar por longos períodos por causa de como usar a web nos afetou. Antes era comum as pessoas lerem livros de grandes a imensos (Os 3 Mosqueteiros, por exemplo, são 5 volumes deeeeste tamanho). Como percebo aqui mesmo, qualquer texto com mais de 5 linhas torna-se incompreensível para 60% das pessoas. Qual a saída então? Desinventar as coisas? Seria se tal coisa fosse possível, mas não é. Há vários exercícios para treinar a memória, melhorar o aprendizado e incrementar a concentração, mas ninguém quer isso. Mais fácil “liga pro meu celular pra eu registrar aqui” do que anotar 8 algarismos de um número de telefone. A imbecilização é o caminho natural, então? Não sei, mas parece.
Enquanto isso, postagens, comentários e mensagens à deriva pela internet mostram que educação, ensino e aprendizado são coisas que realmente não passam na mente da maioria das pessoas, já que o Gúgou trará a resposta. E se não trouxer, basta perguntar no Yahoo!Respostas. E se não trouxer? Ah, ki diferenssa faiz?
Pra mim? O futuro só não é negro, pois consegue ser bem pior.
*PS. Arthur Conan Doyle jamais escreveu um livro de nome Tabloide Negro. Você não sabia e esquecerá isso daqui a meia-hora.
Fonte: Daily Mail
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