quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Educação domiciliar ganha força no DF, mas enfrenta problemas com governo e leis delinquentes

Moradores de Sobradinho, Darcília e Josué Bueno optaram por educar os 10 filhos fora da escola. Cerca de mil famílias brasileiras adotam esse caminho. O método, comum nos Estados Unidos, enfrenta problemas de regularização no país

Manoela Alcântara
Aos 4 anos, Mikael Andrade Bueno forma palavras com letras de plástico, desenha melhor do que muitos adultos e consegue pronunciar “helicóptero” sem nenhum tropeço. O irmão de 6 anos, Immanuel, lê livros infantis em voz alta sem perder a concentração ou gaguejar. Os dois nunca frequentaram uma escola nos moldes tradicionais. Os conhecimentos são adquiridos em casa, com a ajuda da mãe, Darcília dos Reis Mazoni Bueno, 42, e do pai, o taxista Josué Peixoto Bueno, 52. Eles optaram pela educação domiciliar e abriram mão de salários melhores para ficar mais tempo no lar, em Sobradinho, e ensinar os 10 filhos.
A família Bueno divide o ensino em dois períodos: de manhã, estudam os pequenos e, à tarde, os adolescentes encaram os livros. O caçula, de 4 anos, já forma palavras e o irmão de 6 lê com desenvoltura
Este ano, viram a primogênita, Yael, 18 anos, formar-se no ensino médio e passar em dois vestibulares. A jovem foi exemplo para os irmãos. Aos 6, sabia toda a tabuada de cor, além de ler e escrever. Agora, fala inglês e espanhol e se prepara para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Minha educação me levou a ser autodidata. Comprei a apostila e estudo por ela. Passei em duas provas de universidades privadas, mas só vai contar mesmo quando passar em uma pública”, disse a futura nutricionista, enfermeira ou professora. Ela está em dúvida entre as três carreiras.
Os 10 filhos da família Andrade Bueno têm rotina de estudos quase integral. Em uma sala com prateleiras cheias de livros, computadores, mesas e cadeiras, os pequenos estudam de manhã. Acordam, tomam café e começam a rotina. À tarde, é a vez dos adolescentes aprenderem os assuntos pertinentes à idade, sempre acompanhados pela mãe, que estudou para ser professora no ensino Normal. Eles também orientam os mais novos na alfabetização e auxiliam nas tarefas domésticas.
A opção dos pais em não matriculá-los em escolas vem desde o casamento. Embora estejam satisfeitos com os resultados, Darcília e Josué já enfrentaram problemas devido à falta de legalização da modalidade educacional. Parentes estranharam o método e denunciaram a atitude ao Conselho Tutelar.
Divulgação: www.juliosevero.com
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