quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Ditaduras na américa latina

Desde a independência, a América Latina não conheceu partidos políticos fortes, coesos, e as disputas eleitorais e políticas davam-se mais entre líderes, personalidades, do que entre programas políticos. Por isso, os exércitos latino-americanos sempre tiveram grande influência e, algumas vezes, o controle político nesses países. Os partidos políticos latino americanos muitas vezes eram liderados por militares ou ainda eram a base de apoio dos ditadores civis. Até mesmo líderes populistas, como Perón, eram militares ou governavam com o consentimento e o apoio dessa classe. Em nosso continente, jamais se passou uma década sem golpes ou ditaduras militares. A partir de 1960, a situação agravou-se. A América Latina tomou-se um continente de ditaduras militares ou civis, sustentadas pelos militares, ao lado de uns poucos governos constitucionais.
Sem sombra de dúvida, a emergência dessas ditaduras esteve ligada a três fatores: a Guerra Fria, a Revolução Cubana e o colapso do populismo. Durante a Guerra Fria, a América Latina era uma zona de influência dos EUA, que controlavam nossas reservas minerais estratégicas. Deveria também ser um campo de investimento para os capitais norte americanos. Na visão dos estrategistas dos EUA, os soviéticos sempre criavam problemas ao apoiar os movimentos antiimperialistas na região. Além disso, os governos populistas, com a retórica nacionalista e antiamericana, tornavam essa região potencialmente perigosa aos interesses americanos. A Revolução Cubana de 1959 foi uma linha divisória nos destinos da América Latina, pois, surpreendidos, os Estados Unidos trataram de isolá-la do sistema interamericano e evitar o surgimento de outro país socialista no continente.
Para isso, em 1961,0 presidente norte-americano John Kennedy lançou o programa Aliança para o Progresso, que, contando com o apoio de organismos e assessores americanos, pretendia promover a industrialização e a realização de reformas sociais na América Latina, diminuindo o antiamericanismo e o perigo de novas revoluções socialistas na região. O fracasso dessa política e o assassinato de Kennedy levaram a uma mudança na estratégia norte-americana, que passou a incentivar golpes militares e a deposição dos governos populistas, nacionalistas ou reformistas na América Latina. A justificativa ideológica para as intervenções era a Doutrina de Segurança Nacional, elaborada nas escolas militares mantidas pelos Estados Unidos, onde se formou boa parte das elites militares latino-americanas.
Por essa doutrina, a luta contra o comunismo era uma guerra total: militar, econômica, política, social e psicológica. Essa passou a ser concebida não apenas como uma guerra entre nações, mas como uma guerra entre os vários grupos políticos de uma nação. Os Estados Unidos, potência líder do mundo capitalista, deveriam preparar suas tropas e forças nucleares para o combate direto contra a União Soviética; aos exércitos latino-americanos caberia a função de combater os inimigos internos, como os movimentos e os partidos de esquerda ou os estudantes esquerdistas. Portanto, os inimigos dos exércitos latino-americanos não estavam fora, mas dentro de seus países. Toda a ajuda americana em armas,treinamento, pessoal, alimentos e propaganda seria posta a serviço do combate à subversão interna. O desenvolvimento da Doutrina de Segurança Nacional entre os militares da América Latina co-incidiu com a falência do populismo nesses países. O populismo já não servia mais como forma de controle político dos setores populares. Esses conscientizaram se de que não eram beneficia dos pelo desenvolvimento econômico, agora estagnado, e queriam aumentar sua participação na distribuição da renda. No campo, o ambiente também era de inquietação. Formavam-se sindicatos e ligas de trabalhadores rurais; que exigiam reforma agrária e ocupavam fazendas. As classes dominantes e as médias, os setores militares, as multinacionais e o governo dos Estados Unidos estavam temerosos. Todos esses setores incentivaram e exigiram a de posição dos governos populistas.
Os governos militares que se instalaram na América Latina tinham verdadeira obsessão pela segurança e pela ordem. Por isso, criaram, em menor ou maior grau, um Estado policialesco, que suprimiu as liberdades individuais e as oposições p0líticas ou, quando muito, essas foram mantidas sob severa vigilância. O Estado policial prendia, torta raça e matava, não apenas os adversários do regi- me que ousavam enfrentá-lo por meio da luta armada, mas também a oposição da esquerda não-violenta e a oposição liberal. Os órgãos de segurança de diversos países, principalmente no Cone Sul, atuavam em conjunto na eliminação desses opositores. A Argentina teve uma das ditaduras mais violentas do continente. Segundo os comitês de direitos humanos, dezenas de milhares de pessoas foram presas, torturadas, mutiladas e mortas pelos órgãos de repressão política naquele país. Recém nascidos nas prisões ou filhos menores de prisioneiros políticos eram doados a famílias, até estrangeiras, sem que seus familiares soubessem. As execuções na Argentina foram realizadas em massa e com requintes sádicos: os prisioneiros eram, como se dizia, “churrasqueados” vivos nos altos-fornos da Marinha, ou sangrados, dopados e atirados pelos aviões da força aérea em alto-mar, para serem devorados pelos tubarões.
Em defesa da estabilidade econômica e social, não existiam eleições, sindicatos e partidos livres e todas as oposições eram esmagadas. Essa estabilidade e o conseqüente desenhou vi mento foram conseguidos com capitais externos. Devido ao excesso de dólares no mundo, os juros eram baixos, e os países latino-americanos tomaram empréstimos vultosos à taxa de juros não fixa. Muito desse capital foi utilizado em obras de infra-estrutura, que tinham um propósito político muito claro: melhorar as condições de vida das populações pobres para garantir seu apoio aos governos. Porém, grande parte desse dinheiro também foi usada para obras suntuosas, inacabadas, na corrupção ou desviado para contas secretas nos paraísos fiscais do mundo. A falta de controle da sociedade sobre o Estado levou a sua degradação. Vários órgãos foram criados para dar emprego aos que apoiavam as ditaduras; projetos foram iniciados e, depois de muitos gastos, interrompidos. Empregava-se muito na modernização das forças armadas e di-meneiam se os gastos com educação, saúde e habitação. A economia de muitos países estava crescendo de forma alarmante, mas as condições de vida da população pioravam.
Em 1974, os preços internacionais do petróleo quadruplicaram, as taxas de juros internacionais elevaram-se e, conseqüentemente, as dívidas dos países latino-americanos cresceram. A situação tornou-se mais grave nos nações dependentes da importação de petróleo, que gastariam mais. No ano de 1980, os Estados Unidos passavam por uma estagflação, que é a combinação de inflação alta com baixo crescimento econômico. A fim de combatê-la, o presidente americano Ronald Reagan procurou conter os gastos públicos, controlar a emissão de moedas e diminuir os impostos. Para não emitir moedas e continuar financiando as despesas públicas, o governo norte-americano pagava altas taxas de juros nos empréstimos que tomava. Isso elevou os juros internacionais, o que afetou ainda mais os países devedores da América Latina. A recessão causada nos Estados Unidos pelo aumento dos juros restringiu o  mercado para as exportações latino-americanas; o aumento dos juros elevou ainda mais as dívidas da América Latina e fez com que os capitais dessa região, atraídos pelos altos juros americanos, fossem aplicados nos Estados Unidos. Dívidas enormes, queda das exportações, evasão de capitais e falta de capitais para investimentos produtivos levaram a América Latina à falência.


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