Futebol
Blatter, já garantido no poder, agora enfrenta a etapa mais difícil: suportar a pressão pelas mudanças no topo da Fifa
Tentativa de adiar eleição desta quarta fracassou, e suíço garantiu seu quarto mandato. E já promete mudar a forma como é feita escolha da sede da Copa
Blatter no Congresso da Fifa, nesta quarta: o 'capitão na tempestade' admite que 'entrou água no navio' (Fabrice Coffrini/AFP)
"Sou o capitão enfrentando a tempestade, e entrou água no nosso navio. Precisamos fazer alguma coisa", discursou o suíço, prestes a garantir o 4º mandato
Candidato único na eleição desta quarta depois da desistência do catariano Mohammed Bin Hammam - que, aliás, foi barrado na porta do congresso, por ter sido suspenso pela comissão de ética, no fim de semana -, Blatter só corria um risco no pleito. Na terça, a Federação Inglesa de Futebol (FA, na sigla em inglês) defendeu publicamente o adiamento do processo, pedindo a adesão das outras federações e confederações para que a eleição fosse realizada em um contexto mais transparente e equilibrado - com um outro candidato contra Blatter, por exemplo. A tentativa inglesa fracassou: 172 dos 206 votantes não quiseram adiar a eleição.
No total, só dezessete federações votaram pelo adiamento, com dezessete abstenções - era necessário conseguir o apoio de três quartos dos países e confederações. A reeleição de Blatter, oficializada numa votação apenas protocolar, ocorreu com sobras: ele recebeu 186 dos 203 votos contabilizados. Mas isso não quer dizer que ele sai do processo vitorioso. Além de encarar suspeitas e críticas, Blatter será forçado a ceder, pois está numa posição delicada. E a primeira dessas mudanças é o formato da escolha da sede da Copa. Hoje, quem elege o país vencedor é o Comitê Executivo, clube fechado - e sempre envolvido em denúncias de corrupção.
Ao invés dos vinte e poucos integrantes do comitê, a escolha da sede deverá ser feita pelo próprio Congresso da Fifa, com votos de todas as associações nacionais. "Quero dar mais poder a elas", discursou Blatter, sabendo que precisará de apoio neste momento crítico. "O comitê executivo fará uma lista de indicados, mas sem recomendação alguma. Será o Congresso que votará no vencedor." As denúncias de compra de voto na escolha da sede da Copa de 2022 - que será no Catar - foram as mais frequentes dentro dessa série de acusações recentes. Também há suspeitas sobre a derrota da Inglaterra para a Rússia como sede de 2018.
'Água no navio' - Ao falar aos participantes do Congresso da Fifa, Blatter enfim admitiu a crise (numa entrevista coletiva nesta semana, tinha tentado minimizar a gravidade da situação) e reconheceu que é preciso reformar a entidade. "Fomos atingidos, cometemos erros e vamos aprender com isso. Posso até dizer que foi um bom alerta, para que a Fifa olhasse para seus próprios problemas." Blatter ainda se fez de vítima e se mostrou desconfortável com a situação. "Estou disposto a enfrentar a fúria do público para servir ao futebol. Sou o capitão enfrentando a tempestade, e entrou água no nosso navio. Precisamos fazer alguma coisa."
O suíço também teve de ouvir um discurso duro de David Bernstein, presidente da Federação Inglesa. "Não tenho prazer algum em fazer esse pronunciamento. Mas essa eleição tornou se páreo de um só cavalo. É preciso adiá-la para que seja possível realizar uma eleição aberta e justa. Só assim o vencedor terá credibilidade pelos próximos quatro anos." Ficou claro que Bernstein era minoria: seu discurso foi recebido com só alguns aplausos, e quase todo o Congresso em silêncio. Quando outros dirigentes discursaram contra a Inglaterra, ganharam mais aplausos - o que mostra que, pelo menos dentro da Fifa, Blatter ainda tem prestígio.
O jornalista britânico Andrew Jennings, da emissora BBC de Londres, é talvez o maior especialista em todo o mundo a respeito dos esquemas de corrupção que rondam a Fifa e o Comitê Olímpico Internacional. Grande parte destes escândalos foram ainda mais desbravados em uma entrevista exclusiva concedida por ele aos repórteres JP Flávio Prado e Filipe Cury. Ao longo do bate-papo, Jennings levantou a seguinte questão aos brasileiros: "Como não fazem nada para apagar esta mancha? Como Ricardo Teixeira e João Havelange se mantêm no poder e não estão na cadeia?"
A pergunta do jornalista da BBC é baseada em uma série de acusações aos dois principais dirigentes do futebol brasileiro nas últimas décadas. Com relação ao presidente da CBF, por exemplo, Jennings credita a escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014 a um trabalho minucioso de pressão sobre o suíço Joseph Blatter, recém-reeleito mandatário da Fifa. "Ricardo Teixeira pressionou Blatter por sua própria Copa do Mundo para desviar recursos. Há muito dinheiro para ser desviado. As evidências disso estão em contratos lucrativos que ele tira do governo federal. O lucro fica concentrado nas mãos de poucas pessoas", garantiu.
Na visão do britânico, Teixeira conseguirá atingir o objetivo de sediar o Mundial no Brasil às custas dos torcedores e amantes de futebol espalhados pelo país. "Ele não pensa na nação e sim no dinheiro", disse. Segundo ele, o brasileiro era o nome já combinado para suceder Blatter na Fifa em 2015, mas isto não ocorrerá por "problemas de ordem interna". "O nome mais cotado agora é o de Michel Platini, presidente da Uefa", cravou.
Já em relação a João Havelange - presidente da Fifa dos anos 70 ao fim da década de 90 -, Jennings assegurou que foi ele quem instaurou o esquema de privatização do esporte, com a negociação de contratos milionários de marketing com a empresa de materiais esportivos alemã Adidas, por exemplo. "Quando Havelange assumiu a Fifa, nasceu a realidade do suborno institucionalizado."
As provas de que a Fifa está atolada em questões de subornos e propinas há muito tempo são esmiuçadas por Jennings e incluem outros nomes de peso, como Nicolas Leóz, presidente da Conmebol desde os anos 80
Justiça suíça exige que Fifa libere papéis da ISL
27/12/2011 11h20
Inicialmente, isso seria feito durante a última reunião do Comitê Executivo deste ano, no dia 17 de dezembro, mas houve uma ação legal por parte de uma terceira parte envolvida, o que causou o adiamento por prazo indeterminado.
A polêmica vem porque, de acordo com a "BBC", os documentos incriminam de forma definitiva tanto o ex-presidente da Fifa e da CBD João Havelange quanto seu ex-genro, o atual presidente da CBF e do COL, Ricardo Teixeira, que teriam recebido alguns milhões de dólares em propinas da hoje falida empresa de marketing esportivo ISL que, na virada do século, era dona majoritária dos direitos de transmissão de todos os torneios da Fifa.
Ainda de acordo com a emissora britânica, em Junho de 2010, ambos admitiram o fato e devolveram o dinheiro com a condição de manter o caso no anonimato. Blatter mantém a postura de inocência no caso, mas há a alegação de que os documentos possam mostrar fatos novos, como o detalhamento dos pagamentos de propinas a altos membros das federações continentais.
A Fifa tem 30 dias para apelar da decisão junto à Suprema Corte Suíça, em Lausanne
Jogador se torna herói na Itália por se recusar a entregar partida
24/12/2011 14h45
A grande ação de Farina não foi dentro de campo, mas nos tribunais. O atleta de 29 anos rejeitou uma grande quantia para manipular um jogo de sua equipe e denunciou tudo.
Seu gesto fez com que ele ganhasse a admiração de todo o mundo do esporte, tendo sido premiado inclusive com uma convocação "simbólica" pelo técnico da seleção da Itália, Cesare Prandelli.
Desta denúncia partiu uma investigação que proporcionou a descoberta de uma rede que manipulava resultados com a colaboração de alguns jogadores para conseguir lucro nas apostas.
Na operação, foram detidas 17 pessoas, entre elas Cristiano Doni, ex-capitão da Atalanta, e outros quatro jogadores de divisões inferiores do Campeonato Italiano.
As investigações que começaram recentemente se concentram em irregularidades nas partidas das divisões menores da Itália e de outras competições da Europa, mas também existe a suspeita de que jogos da elite tenham sido manipulados, inclusive na atual temporada.
Doni, o jogador mais aclamado pelos torcedores da Atalanta e que jogou a Copa do Mundo de 2002, entrou no mundo das apostas, segundo as investigações.
Farina, atleta de 29 anos, tem dois filhos e ganha 90 mil euros por ano. Ele rejeitou o dobro de seu salário para se manter íntegro e não se juntar a mais um defensor para entregar a partida para o Cesena, em jogo válido pela Copa da Itália, em 30 de novembro.
Em uma competição recentemente abalada pela corrupção, a história do jogador comoveu todos os apaixonados por futebol, e agora ele é uma estrela das redes sociais, com páginas dedicadas a seu gesto.
Um grupo abriu uma página no Facebook para pedir que Farina possa disputar um jogo com a camisa da 'Azzurra'. Em poucos dias, milhares de pessoas apoiaram a iniciativa. Prandelli então convidou o defensor a treinar com o grupo.
"É estupendo o que ele fez. Demonstrou coragem e uma força interior extraordinária", declarou o treinador da seleção italiana, ao anunciar que Farina vestirá a camisa da seleção em pelo menos um treinamento.
"Isso é um gesto para que ele saiba que não está sozinho. Claro que esta é uma decisão ética e não técnica", acrescentou Prandelli.
Farina irá em fevereiro à concentração da seleção italiana, antes da viagem da equipe para os Estados Unidos, e realizará o sonho de qualquer jogador: vestir a camisa de seu país
Árbitro denuncia corrupção no apito brasileiro
06/01/2012 15h44
"Acho que voltamos aos tempos das Capitanias Hereditárias, mas na arbitragem brasileira. Não há critério (...) a não ser político, de interesse pessoal dele", afirmou, ressaltando não entender porque perdeu seu escudo.
"Ele é mentiroso, mariquinha e corrupto", afirmou Fonseca, que ainda relatou uma pressão sofrida regularmente pelos árbitros, como a obrigação de manter contato telefônico com o presidente da comissão após a divulgação das escalas "para receber recomendações" sobre os jogos. "Ele me disse antes do jogo em que o Corinthians ganhou por 5 a 1 do Goiás: é jogo do Timão, hein? O que eu posso entender com isso? Que se o Corinthians não ganha, eu posso nunca mais ser escalado".
Sem medo de ser contestado, ele afirmou: "Tenho provas e quero divulgá-las para contribuir que essa sujeirada toda seja lavada (...) tenho certeza de que quando o presidente da CBF apurar os fatos, chegará a um denominador comum e aí sim o torcedor brasileiro voltará a ter confiança nos árbitros"
Jornalista fala sobre corrupção na FIFA:
Confira abaixo a brilhante entrevista concedida por ANDREW JENNINGS, o maior jornalista investigativo da Inglaterra, para o “Estadão”.
Fala sobre corrupção da FIFA e dá sua opinião sobre a CBF, Copa no Brasil e até sobre a maneira que a imprensa se comporta nas coletivas de Dunga.
Imperdível !
Em suas investigações sobre a Fifa, o que o senhor descobriu?
A Fifa é comandada por um pequeno grupo de homens – não há mulheres em altos postos da entidade e isso fala por si – que está lá há muitos anos. São homens em quem não devemos confiar e contra quem temos provas contundentes. Eles podem continuar no poder porque controlam o dinheiro. E tornam a vida dos dirigentes das confederações nacionais muito boa e fácil. Fico envergonhado porque ninguém se manifesta contra esse poder.
Como os dirigentes se manifestariam?
Zurique, sede da Fifa, é uma Pyongyang do futebol. O líder fala e os outros agradecem. Numa democracia é esperado que haja discordância, oposição. Na Fifa, não há. Eles têm um congresso a que, ironicamente, chamam de parlamento. São cerca de 600 delegados – acho que são 2 ou 3 por país representado, e são 208 países. Se você chegasse de Marte acharia que o mundo é perfeito, porque todos concordam. É vergonhoso. Nisso, a CBF é tão culpada quanto todas as outras confederações.
Que instrumentos a Fifa usa para manter esse poder?
A Fifa dá cerca de US$ 250 mil por ano para cada país investir em futebol. Na Europa, não precisamos desse dinheiro. A indústria do futebol fatura o suficiente para se alimentar. Mas é uma forma de a Fifa se manter. Esse dinheiro nunca é auditado. Na Suíça, a propina comercial não era ilegal até pouco tempo, apenas o suborno de oficiais do governo. O caso que eu conto no meu livro é justamente sobre um esquema de propinas pagas pela International Sport and Leisure (ISL), empresa que negociava os direitos televisivos e de marketing da Fifa. A história é cheia de detalhes, mas no final a ISL só foi responsabilizada pelo fato de gerenciar mal seus negócios enquanto devia para outras empresas.
Não houve punição?
Como eu disse, o pagamento de propina não era ilegal na Suíça. Portanto, não havia crime a ser punido. As acusações contra a Fifa foram retiradas e a entidade foi multada em 5,5 milhões de francos suíços (cerca de US$ 5 milhões) para custos legais.
Por que os governos não se envolvem ou a Justiça não faz algo?
Porque a sede da Fifa é na Suíça e a lei lá é muito permissiva. Para outros países, é inaceitável que esses homens se safem tão facilmente e que os altos dirigentes riam da nossa cara desse jeito. O que me deixa enojado é que os líderes dos países – o primeiro-ministro britânico, o presidente Lula e todos os outros – façam negócio com essas pessoas. Eles deveriam lhes negar vistos, deveriam dizer que não querem se relacionar com dirigentes tão corruptos. E tenho certeza de que, se os governantes se voltassem contra a corrupção da Fifa, teriam apoio maciço dos torcedores/eleitores.
Por que todos são tão complacentes?
Suponhamos que você seja uma torcedora fanática pelo seu time. Você vai à Copa do Mundo, mas como sempre há escassez de ingressos. Você então compra suas entradas de cambistas, mesmo sabendo que parte desse ágio vai voltar para o bolso da Fifa, já que ela é suspeita de liberar esses ingressos para os ambulantes. Você não pode provar, claro, mas você sabe. As pessoas não são estúpidas. Os governos menos ainda, eles podem investigar o que quiserem. Mas não investigam a Fifa porque os políticos simplesmente ignoram os torcedores. É o que já está acontecendo com a Copa de 2014. Qualquer brasileiro com mais de 10 anos sabe que a corrupção já está instalada. Por que ninguém faz nada?
Por quê?
É difícil saber. Se um país relevante enfrentasse a Fifa ela recuaria. Ou você acha ela excluiria o Brasil de uma Copa? Eles conseguem enganar países pequenos, esquecidos pelo mundo. Mas, se o Brasil dissesse não à corrupção, provavelmente a América Latina se uniria a vocês. E você acha que esses líderes latino-americanos nunca discutiram a possibilidade de um levante, de fazer o que os europeus já deveriam ter feito há tempos? Acho que lhes falta coragem.
O Brasil tentou fazer uma investigação, por meio de uma CPI.
Tentou e foi ao mesmo tempo uma vitória para o país e uma grande decepção, porque pararam de investigar no meio. O povo vai ter de pressionar os políticos a fazer algo. É realmente uma pena que o Brasil tenha chegado tão longe na investigação e tenha desistido no caminho. Havia provas para seguir em frente, para tirar a CBF das mãos do Ricardo Teixeira e, quem sabe, colocar auditores independentes lá dentro. A Justiça também poderia ser mais ativa. Por mais que eles tenham comprado alguns juízes, não compraram todos, certamente.
Sabendo de tudo isso o senhor ainda consegue curtir o futebol, se divertir com ele?
Sim, porque a corrupção não está tão infiltrada nos jogos, embora chegue a essa ponta também. Ela fica mais nos bastidores. Há exceções, como na Copa de 2002, em que a Espanha e a Itália foram roubadas grotescamente. Era importante para a Fifa que a Coreia do Sul passasse adiante. Não foi culpa dos jogadores, mas as razões políticas e econômicas se impuseram. Na Coreia, o beisebol é mais popular do que o futebol. Se eles fossem desclassificados, os estádios se esvaziariam. Neste ano, todos ficaram de olho nos jogos de times africanos. Blatter também precisa de um time do continente nas oitavas. A questão é que, quando assistimos às partidas, assistimos aos atletas, ao esporte, então, é possível confiar. É fácil punir um árbitro corrupto e a maioria não é corrompida.
Então, a corrupção não interfere tanto no esporte?
Cada centavo que os dirigentes tiram ilicitamente da Fifa ou das organizações nacionais é dinheiro que eles tiram do esporte e de investimentos. Portanto, estão desviando de nós, torcedores, e dos atletas que jogam no chão batido em países subdesenvolvidos. Eles tiram dos pobres.
É possível para os jogadores, técnicos e dirigentes se manterem distantes da corrupção no futebol?
Bom, o dinheiro normalmente é tirado do orçamento do marketing, não afeta jogadores e técnicos dos times nacionais. Uma coisa interessante é o comitê de auditoria interna da Fifa. Um dos membros é José Carlos Salim, que foi investigado muitas vezes no Brasil. Por que você acha que ele está lá? Para fingir que não vê.
A corrupção no futebol começa nos clubes e se espalha ou vem de cima para baixo?
Sempre haverá um nível de roubalheira em todas os escalões. Para isso temos leis e, às vezes, conseguimos aplicá-las. Mas a pior corrupção está na liderança mundial. Quase todos os países assinam tratados internacionais anticorrupção, mas não fazem nada quanto aos desmandos da Fifa e do COI. E, quando algum governante tenta ir atrás de dirigentes de futebol corruptos, a Fifa ameaça suspender o país. Só que ela faz isso com os pequenos. Fizeram isso com Antígua! Suspenderam o país minúsculo que ousou processar o dirigente nacional. Ninguém falou nada. Eu escrevi sobre isso porque tenho fãs lá que me avisaram do caso.
O senhor se sente uma voz solitária na imprensa?
Não confio na cobertura esportiva das agências internacionais. Em outras áreas elas são ótimas. Não no esporte. É uma piada. Apresento documentários com denúncias graves sobre a Fifa na BBC, num programa de jornalismo investigativo chamado [ITALIC]Panorama[/ITALIC], e dias depois a BBC Sport faz um programa inteiro em que Joseph Blatter apresenta alegremente a nova sede da Fifa em Zurique.
O senhor acompanhou a briga do técnico Dunga com a imprensa brasileira?
Não vou comentar o episódio porque não acompanhei de perto. Posso dizer que a imprensa inglesa e a da maioria dos países é puxa-saco. E sem razão para isso. A desculpa é que os editores têm medo de perder o acesso às seleções e à Fifa. Bobagem. Ora, eu fui banido das coletivas da Fifa sete anos atrás e ainda consegui escrever um livro e fazer várias reportagens. A imprensa deve atribuir as responsabilidades às autoridades. Se não fizer isso, é relações públicas. Tenho milhares de documentos internos da Fifa que fontes me mandam e não param de chegar. Por que só eu faço isso?
A cobertura se concentra mais no evento esportivo em si e nas negociações de jogadores?
Exato, também porque a chefia das redações tende a se concentrar nos assuntos de política nacional, internacional e na economia e deixar o esporte em segundo plano.
O que o senhor espera da Copa no Brasil, em 2014?
Há algumas semanas, o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, deu um piti público cobrando o governo brasileiro para que acelerasse as construções para a Copa. Estranhei muito, porque não imagino que o governo brasileiro se recusaria a financiar uma Copa. Vocês são loucos por futebol, estão desenvolvendo sua economia, têm recursos e podem achar dinheiro para isso. Uma fonte havia me dito que Valcke e Ricardo Teixeira tinham tirado férias juntos, estavam de bem. Então, o que está por trás dessa gritaria? É pressão para o governo brasileiro colocar mais dinheiro público nas mãos da CBF. Mundialmente, as empreiteiras têm envolvimento com corrupção. Dá para sentir o cheiro daqui.
Três de seus livros são sobre as Olimpíadas. As falcatruas acontecem em qualquer esporte ou são predominantes no futebol?
Sou cuidadoso ao falar disso. Sei que a liderança da Fifa é muito corrupta – e venho publicando isso há mais de dez anos sem que eles tenham me processado nem uma vez sequer, o que diz muito. O COI era muito pior sob o comando de Juan Antonio Samaranch (morto em abril deste ano), que presidiu a entidade de 1980 a 2001. Ele era um fascista e o fascismo é, além de tudo, uma pirâmide de corrupção. Samaranch trabalhou ao lado do generalíssimo Franco. Essa cultura franquista e fascista se transformou em uma cultura gângster.
A corrupção no COI diminuiu com a saída de Samaranch?
Vou ilustrar com uma história. No meu site publiquei uma foto de Blatter cumprimentando um mafioso russo, em 2006, em um encontro com dirigentes do país. O russo foi quem fez o esquema em Salt Lake, na Olimpíada de Inverno de 2002, para que os conterrâneos ganhassem o ouro em patinação artística. Pois bem, Blatter, Havelange e muitos outros da Fifa são parte do comitê do COI. Essa é a dica de como a Rússia está agindo para sediar a Copa de 2018.
Foi assim que o Brasil conseguiu a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016?
Na votação em Copenhague, que deu a sede olímpica para o Rio de Janeiro, o nível de investigação jornalística foi ridículo, só víamos a praia de Copacabana com o povo feliz. Há um grupo no COI que já foi denunciado por receber propina no escândalo da ISL – e quem acompanha a entidade sabe quem eles são. Os dirigentes dos países só precisam pagar umas seis ou sete pessoas para conseguir o voto. Existe, com certeza, uma sobreposição entre os métodos da Fifa e do COI. Mas a cultura das duas entidades não é tão estrita quanto à de uma máfia, é mais como se fossem máfias associadas, apoiadas umas nas outras. Coca-Cola, redes de fast-food, Adidas, você acha que essas companhias não sabem o que está acontecendo? Eles não são estúpidos. A cara de pau é tamanha que Jacques Rogue, presidente do COI, disse em Turim, em 2006, que o COI e o McDonald’s compartilham os mesmos ideais. Será que ele não sabe quanto a obesidade infantil é um problema gravíssimo em vários países? Ou faz parte do jogo ceder a esses interesses?
Jornalista inglês fala no Senado sobre corrupção na Fifa
Redação do DIARIODEPERNAMBUCO.COM.BR
26/10/2011 | 09h29 | Futebol
Redação do DIARIODEPERNAMBUCO.COM.BR
26/10/2011 | 09h29 | Futebol
Andrew Jennings, autor do livro "Jogo Sujo - O Mundo Secreto da Fifa" foi convidado pela Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE)para falar nesta quarta-feira (26) sobre denúncias que envolvem a Federação Internacional de Futebol (Fifa), o ex-presidente da entidade João Havelange e o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira. A audiência pública, pedida pelos senadores Alvaro Dias (PSDB-PR e Paulo Bauer (PSDB-SC), está marcada para as 10h.
No livro, o jornalista da BBC, a emissora de rádio e televisão britânica, acusa o atual presidente da Fifa, Joseph Blatter, e vários outros dirigentes, de pagarem propina afim de garantirem contratos de valores astronômicos e obter favorecimento no fechamento de acordos.
De acordo com Jennings, Havelange e Ricardo Teixeira, são objeto de uma investigação por parte do governo suíço tratando da questão do suborno. No curso das apurações, o presidente da CBF teria inclusive admitido pagamentos irregulares, mas os documentos relativos ao processo teriam sido embargados na justiça suíça pela Fifa.
"Agente sabe quem é. A BBC não se arriscaria a publicar nomes sem ter certeza porque isso nos custaria muito dinheiro" afirmou Jennings numa entrevista ao canal de Esportes ESPN Brasil.
Ele disse considerar a atuação de Teixeira "uma vergonha para o Brasil" e recomendou que os brasileiros pressionem o governo a não deixar que o dinheiro de programas sociais seja desviado "para os ladrões
da Fifa".
"É óbvio que queremos a Copa e um bom time, mas não precisamos de Ricardo Teixeira. Queremos vê-lo na cadeia", afirmou o jornalista inglês ao ESPN.
Da Agência Senado...
"É óbvio que queremos a Copa e um bom time, mas não precisamos de Ricardo Teixeira. Queremos vê-lo na cadeia", afirmou o jornalista inglês ao ESPN.
Da Agência Senado...
BBC confirma corrupção na Fifa; Ricardo Teixeira e Havelange envolvidos
Uma reportagem do programa de televisão Panorama, da BBC, apurou que um dos dois dirigentes é o presidente da CBF, que integra também o Comitê Executivo da Fifa.
A Fifa está impedindo a divulgação de um documento que revela a identidade de dois dirigentes da Fifa que foram forçados a devolver dinheiro de propinas em um acordo para encerrar uma investigação criminal na Suíça no ano passado. Uma reportagem do programa de televisão Panorama, da BBC, apurou que um dos dois dirigentes é o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, que integra também o Comitê Executivo da Fifa.
O presidente da Fifa, Joseph Blatter, que tentará ser reeleito para o cargo no próximo dia 1º de junho, declarou recentemente a adoção de uma política de “tolerância zero” para casos de corrupção.No entanto, advogados que atuam em nome da Fifa estão contestando a decisão de um promotor de Zug, cidade no nordeste da Suíça, que determinou a divulgação de detalhes do caso. O acordo encerrou uma investigação sobre propinas pagas a altos dirigentes da Fifa na década de 1990 por uma empresa de marketing esportivo, a ISL (International Sports and Leisure).
Até sua falência em 2001, a ISL comercializava os direitos de televisão e os anúncios publicitários da Copa do Mundo para anunciantes e patrocinadores.
Empresa de fachada
No ano passado, o Panorama acusou três integrantes do Comitê Executivo da Fifa, que escolhem as sedes das Copas do Mundo, de receber propinas da ISL. Além de Teixeira, foram citados o paraguaio Nicolas Leoz e o camaronês Issa Hayatou. Pagamentos feitos aos três dirigentes – no caso do brasileiro, a uma empresa ligada a ele – estavam em uma lista secreta obtida pelo Panorama de propinas pagas a dirigentes esportivos pela ISL em um total de US$ 100 milhões. A lista de pagamentos incluía uma empresa de fachada em Liechtenstein, chamada Sanud, que recebeu um total de US$ 9,5 milhões.
Uma investigação do Senado brasileiro em 2001 concluiu que Teixeira tinha uma relação muito próxima com a empresa. O inquérito descobriu que fundos da Sanud haviam sido secretamente desviados para Teixeira por meio de uma de suas companhias.
Eleição
O jornalista suíço Jean François Tanda, que requisitou a divulgação de detalhes do acordo na Justiça, diz que a Fifa está atrasando a liberação do documento ao “esticar os prazos, um após o outro”.
“A meta agora é evitar que a decisão seja divulgada antes do fim de maio ou do começo de junho”, quando a eleição para presidente da Fifa será realizada, diz Tanda.
Além de Ricardo Teixeira, a investigação do Panorama cita o ex-presidente da Fifa João Havelange e conclui que a decisão da promotoria suíça ao encerrar o caso também aponta que a Fifa falhou em coibir o pagamento de propina.
Blatter teria conhecimento de casos de propinas pagas a colegas do Comitê Executivo da Fifa pelo menos desde 1997, quando um suborno de US$ 1 milhão destinado a Havelange, então presidente da Fifa, foi enviado por engano para a entidade.
Tanto Ricardo Teixeira como João Havelange se recusaram a responder perguntas feitas pela BBC. A Fifa se recusou a comentar alegações específicas e se limitou a reafirmar que, em relação ao acordo com a promotoria suíça, o caso está encerrado.
Banco pessoal
No caso envolvendo o programa da BBC, ex-funcionários da ISL admitiram ao tribunal que a Fifa usou a empresa “praticamente como seu banco pessoal”, fazendo transitar os recursos para camuflar o pagamento da propina. Segundo documentos que fizeram parte do processo, o dinheiro saía da ISL para uma conta denominada “Nunca”, no paraíso fiscal de Liechtenstein. O passo seguinte era a transferência desse dinheiro para uma empresa.
A partir dela, Jean Marie Weber, ex-funcionário da Adidas, servia de emissário. Ele fazia a transferência dos pagamentos para os vários beneficiados, entre eles “pessoas estrangeiras da Fifa”, segundo os termos do processo. Pelos documentos assinados pelo juiz Marc Siegwart, essas pessoas “receberam recursos da ISL”. Entre as diversas entidades e clubes citados no processo aparecem os nomes de Flamengo e Grêmio.
O presidente da Fifa, Joseph Blatter, que tentará ser reeleito para o cargo no próximo dia 1º de junho, declarou recentemente a adoção de uma política de “tolerância zero” para casos de corrupção.No entanto, advogados que atuam em nome da Fifa estão contestando a decisão de um promotor de Zug, cidade no nordeste da Suíça, que determinou a divulgação de detalhes do caso. O acordo encerrou uma investigação sobre propinas pagas a altos dirigentes da Fifa na década de 1990 por uma empresa de marketing esportivo, a ISL (International Sports and Leisure).
Até sua falência em 2001, a ISL comercializava os direitos de televisão e os anúncios publicitários da Copa do Mundo para anunciantes e patrocinadores.
Empresa de fachada
No ano passado, o Panorama acusou três integrantes do Comitê Executivo da Fifa, que escolhem as sedes das Copas do Mundo, de receber propinas da ISL. Além de Teixeira, foram citados o paraguaio Nicolas Leoz e o camaronês Issa Hayatou. Pagamentos feitos aos três dirigentes – no caso do brasileiro, a uma empresa ligada a ele – estavam em uma lista secreta obtida pelo Panorama de propinas pagas a dirigentes esportivos pela ISL em um total de US$ 100 milhões. A lista de pagamentos incluía uma empresa de fachada em Liechtenstein, chamada Sanud, que recebeu um total de US$ 9,5 milhões.
Uma investigação do Senado brasileiro em 2001 concluiu que Teixeira tinha uma relação muito próxima com a empresa. O inquérito descobriu que fundos da Sanud haviam sido secretamente desviados para Teixeira por meio de uma de suas companhias.
Eleição
O jornalista suíço Jean François Tanda, que requisitou a divulgação de detalhes do acordo na Justiça, diz que a Fifa está atrasando a liberação do documento ao “esticar os prazos, um após o outro”.
“A meta agora é evitar que a decisão seja divulgada antes do fim de maio ou do começo de junho”, quando a eleição para presidente da Fifa será realizada, diz Tanda.
Além de Ricardo Teixeira, a investigação do Panorama cita o ex-presidente da Fifa João Havelange e conclui que a decisão da promotoria suíça ao encerrar o caso também aponta que a Fifa falhou em coibir o pagamento de propina.
Blatter teria conhecimento de casos de propinas pagas a colegas do Comitê Executivo da Fifa pelo menos desde 1997, quando um suborno de US$ 1 milhão destinado a Havelange, então presidente da Fifa, foi enviado por engano para a entidade.
Tanto Ricardo Teixeira como João Havelange se recusaram a responder perguntas feitas pela BBC. A Fifa se recusou a comentar alegações específicas e se limitou a reafirmar que, em relação ao acordo com a promotoria suíça, o caso está encerrado.
Banco pessoal
No caso envolvendo o programa da BBC, ex-funcionários da ISL admitiram ao tribunal que a Fifa usou a empresa “praticamente como seu banco pessoal”, fazendo transitar os recursos para camuflar o pagamento da propina. Segundo documentos que fizeram parte do processo, o dinheiro saía da ISL para uma conta denominada “Nunca”, no paraíso fiscal de Liechtenstein. O passo seguinte era a transferência desse dinheiro para uma empresa.
A partir dela, Jean Marie Weber, ex-funcionário da Adidas, servia de emissário. Ele fazia a transferência dos pagamentos para os vários beneficiados, entre eles “pessoas estrangeiras da Fifa”, segundo os termos do processo. Pelos documentos assinados pelo juiz Marc Siegwart, essas pessoas “receberam recursos da ISL”. Entre as diversas entidades e clubes citados no processo aparecem os nomes de Flamengo e Grêmio.
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