PT cumpre ameaça feita por Gilberto Carvalho e começa a disputar espaço com evangélicos. Ou: O partido quer ter a sua própria versão dos evangelhos, a sua própria imprensa, a sua própria OAB, a sua própria ciência, a sua própria democracia…
Não! Este texto não é sobre religião e política. Este é um texto que repudia os que pretendem fazer da política uma religião.
O comando de campanha de Fernando Haddad, candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, convocou alguns pastores evangélicos — de pouca expressão, é verdade — para uma reunião no diretório municipal do partido. Ali se redigiu uma espécie de manifesto daqueles poucos líderes em favor do petista. Não se toca no nome do pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus, que expressou seu apoio ao tucano José Serra. Quem se encarregou de criticar Malafaia foi o próprio Haddad: “Na verdade, houve uma reação aos modos e aos termos que o pastor [Malafaia] utilizou para se referir à minha pessoa. Inclusive uma pessoa que nem é de São Paulo”. Haddad acha que religião tem de ter base territorial, entende? Haddad acha que o divino tem de respeitar fronteiras territoriais. Adiante! O líder religioso da Assembleia de Deus emitiu uma nota (ver post abaixo) apontando o que considera “as mentiras” do petista. Não! À diferença do que podem pensar alguns, não farei um texto sobre religião. Tratarei de algo até mais amplo. A ameaça feita em janeiro por Gilberto Carvalho começa a se cumprir. O PT já começou a sua mobilização para disputar influência com os evangélicos. Para tanto, decidiu provocar um confronto entre os religiosos. Por quê?
Porque o PT quer ter a sua própria “igreja”. Também quer a sua própria imprensa. A sua própria OAB. O seu próprio STF. A sua própria SBPC. A sua própria universidade. Com sua vocação totalizante e totalitária, o partido quer submeter todas as instâncias da sociedade a seus ditames. Por isso, atribui a um manifesto de meia dúzia de evangélicos o que nem mesmo está lá. O texto não ataca Malafaia, mas Haddad o vende como uma reação ao líder religioso que não o apoia.
PT começa a cumprir ameaça contra evangélicos
O PT começa a cumprir uma ameaça. No Fórum
Social de Porto Alegre, no fim de janeiro, o ministro Gilberto Carvalho (secretário-geral da Presidência), homem mais importante no PT depois de Lula e seu provável futuro presidente, deu uma palestra. Na plateia, estava ninguém menos do que assassino e terrorista Cesare Basttisti, que ficou no Brasil por vontade Lula e Tarso Genro. Tudo em casa!
Carvalho estava muito à vontade. Confessou lá que o governo tem a intenção de criar uma mídia estatal para a classe C. Entenderam? A imprensa que está aí não serve. O estado precisaria financiar outra, mais adequada às necessidades do partido. Carvalho foi além: anunciou a
disposição do PT de fazer “uma disputa ideológica coma as lideranças evangélicas para conquistas a classe C”. À época, escrevi
um post sobre essa palestra e produzi uma
série de textos a respeito.
Estava claro ali: o objetivo era mesmo confrontar os evangélicos. A fala deu um barulho danado, especialmente depois que demonstrei aqui o seu alcance e gravidade. Dilma teve de sair em socorro do ministro. Disseram que não era bem aquilo, que ele havia se expressado mal. Na esteira do mal-estar, Dilma deu o Ministério da Pesca para Marcelo Crivella, sobrinho de Edir Macedo, da Igreja Universal, que representa fatia relativamente pequena dos evangélicos. Os petistas, como deixa claro o mensalão, estão acostumados a comprar apoios — seja com
dinheiro de propina, seja com ministérios…
Muito bem! Não se esqueçam de uma coisa: o PT jamais desiste de uma ideia, ainda que diga o contrário. E não desistiu, estejam certos, de disputar a influência com os evangélicos, como se fosse também uma igreja… Ocorre que a existência de correntes cristãs que têm a fidelidade de seus fiéis soa uma traição ao partido que quer ser impor como imperativo categórico. É ele, partido, que tem de estar em todos os lugares. Por isso, agora, essa cruzada contra a Malafaia e contra os pastores que não estão com Haddad. E como é que os petistas contam levar a cizânia ao seio evangélico? Ora, usando alguns… evangélicos, que aceitam se comportar como inocentes úteis em troca de algumas promessas. Isso reforça a tese do PT de que tudo tem um preço, de que tudo pode ser reduzido a dinheiro — às vezes, dinheiro vivo, como se viu no mensalão.
Substituir a sociedade
Não! O partido não pode aceitar que haja um líder religioso ou que haja correntes religiosas que se oponham à sua orientação. Sendo assim, então, ele decide criar a sua própria igreja, seduzindo alguns evangélicos com migalhas. É o mesmo partido que não aceita o STF — que representaria, segundo Rui Falcão, a elite “suja e reacionária”. Ora, José Genoino está por aí a dizer que não se sente um condenado, como se isso fosse matéria subjetiva. Quem sabe a cadeia o faça mudar de ideia… Jorge Viana, senador pelo PT do Acre, já disse achar inadmissível que o governo nomeie ministros que depois condenem membros do partido. O PT quer, em suma, ter O SEU STF, ASSIM COMO QUER TER A SUA IGREJA.
Também rejeita uma disputa franca e aberta pelo comando da OAB, por exemplo. Está metido na disputa pelo comando da Ordem dos Advogados do Brasil porque não aceita, como é o certo, uma OAB que vigie o poder. Ao contrário: o PT quer um poder que vigie a OAB.
O partido vive às turras com o jornalismo independente porque, confessou Carvalho, quer ter a sua própria imprensa, que se ocupe não de noticiar o que é do interesse do conjunto da população, mas o que é útil a seu próprio fortalecimento. O diabo é que quer fazer isso com dinheiro público! Existir um jornalismo que se oriente segundo critérios que não são os da legenda ofende esses patriotas — assim como os ofende haver igrejas ou entidades de classe e categoria que não estejam a serviço de seus anseios.
O petismo também quer a sua própria universidade, de que é expressão gente como Marilena Chaui (ver post na home), esta detestável senhora capaz de torcer miseravelmente os fatos em favor da sua ideologia, sem qualquer compromisso com a verdade. Há anos o partido transformou a academia num mero quintal de seu projeto de poder.
Nada, assim, pode escapar a seu controle e a sua visão torta de mundo. A guerra que decidiu promover contra Malafaia expressa a pior e a mais típica natureza do petismo. Repete o que o partido vem fazendo em outros setores da sociedade de maneira contumaz e organizada. No que diz respeito à imprensa, por exemplo, ninguém ignora o desavergonhado financiamento ao subjornalismo, mobilizado para atacar autoridades do Judiciário, líderes da oposição e a imprensa independente.
Esses são os petralhas. E o país que eles imaginam se parece, deixem-me ver, com a Venezuela, com Cuba, com o Equador ou com a Argentina de Cristina Kirchner. Neste blog não passam. Como tenho afirmado nos lançamentos do meu livro mais recente, eles não se cansam de dizer mentiras sobre si mesmos, e eu não me canso de dizer a verdade sobre quem são.
Texto publicado originalmente às 5h43