A paralisia infantil não foi conquistada, foi redefinida
Marco Cáceres
Talvez o exemplo mais chocante de truque esperto (… sem mencionar revisionismo descarado e grosseiro da história) por parte das autoridades de saúde dos Estados Unidos ocorreu em 1954 quando o governo dos EUA mudou o critério de diagnóstico para a paralisia infantil. Foi o ano em que Jonas Salk, pesquisador médico e virologista, produziu sua vacina injetável de pólio inativo. A vacina foi autorizada em 1955 e começou a ser usada para inocular milhões de crianças contra a pólio.
A vacina Salk tem sido amplamente aclamada como conquistadora da pólio, e é comumente usada como o exemplo resplandecente de como as vacinas são as drogas miraculosas para combater doenças infecciosas… e agora até mesmo doenças que não são infecciosas. Selecione alguma doença, enfermidade ou distúrbio que quiser. Se você tem câncer, cólera, alergia de amendoim, estresse, obesidade… a indústria farmacêutica desenvolverá uma vacina para isso.
O que os defensores da vacina Salk regurgitam de um script comum (…alguns poderiam dizer Escritura Sagrada) é que antes que a vacina fosse introduzida e testada em um milhão de crianças — os tão chamados “Pioneiros da Pólio” — em 1954 mais de 50 mil pessoas nos EUA estavam contraindo a pólio a cada ano, e que no final da década de 1950 os números haviam baixado para menos de 10 mil. Conclusão: a vacina Salk salvou os EUA da pólio. Caso encerrado.
Humm, não tão rápido.
O que foi convenientemente omitido dessa história heroica é que a razão que o número de casos de pólio nos EUA caiu de modo tão precipitado depois da introdução em massa da vacina Salk em 1955 não foi médica, mas em vez disso administrativa. Sim, é verdade, em 1952 houve 52.879 de casos registrados de pólio nos EUA. E sim, em 1955 o número caiu para 28.985, e em 1959 havia caído para 8.425. Mas primeiramente, é importante notar que os números já estavam caindo de modo significativo antes do uso inicial da vacina Salk. Em 1953, houve 35.592 de casos de pólio nos EUA. Portanto, havia outras coisas ocorrendo nos EUA na época sem nenhuma relação com a vacina Salk.
Contudo, o que é mais importante é que em 1954 o governo dos EUA simplesmente redefiniu a pólio. Sim, o governo pode fazer isso. Ele faz esse tipo de coisa ocasionalmente para ajudar a atingir seus objetivos de políticas públicas quando fica sem capacidade de realmente alcançá-los. Quantas vezes ficamos sabendo do Congresso fazendo trapaças e distorcendo a verdade, fazendo uso de propaganda engenhosa com o déficit do orçamento nacional ou na questão do índice de desemprego? Isso mesmo.
No que se refere ao governo e políticas públicas, a verdade é raramente absoluta. Tal é a natureza da besta.De acordo com o Dr. Bernard Greenberg, diretor do Departamento de Bioestatística da Escola de Saúde Pública da Universidade da Carolina do Norte:
“A fim de se qualificar para a classificação de poliomielite paralítica, o paciente tinha de exibir sintomas paralíticos por pelo menos 60 dias depois do início da doença. Antes de 1954, o paciente tinha de exibir os sintomas paralíticos por apenas 24 horas. A confirmação de laboratório e a presença de paralisia residual não eram exigidas. Depois de 1954, a paralisia residual era decidida entre 10 e 20 dias e de novo entre 50 e 70 dias depois do início da doença. Essa mudança na definição significou que em 1955 os EUA começaram a fazer registro de uma nova doença, isto é, a poliomielite paralítica com uma paralisia de duração mais longa.
Conforme escrevi em meu artigo “O Mito do ‘Milagre’ Salk”…
“Sob a nova definição de pólio, milhares de casos que teriam antes sido considerados como pólio não mais seriam considerados como pólio. A mudança na definição estabeleceu a base para criar a impressão de que a vacina Salk era eficaz.
Daí, como o radialista Paul Harvey costumava dizer por décadas no final de cada um de seus comentários fascinantes: “E agora vocês sabem… o resto da história.”
Traduzido por Julio Severo do artigo original em inglês do Vaccine Reaction: Polio Wasn’t Vanquished, It Was Redefined
Fonte: www.juliosevero.com
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