domingo, 1 de janeiro de 2012

Golpe na Venezuela

Golpe na Venezuela envolve interesses políticos e econômicos

Professor venezuelano explica o golpe que acabou frustrado pelo povo


O golpe de estado que o Presidente da República da Venezuela Hugo Chaves sofreu no dia 11 de abril, sendo deposto e dois dias depois, dia 13 de abril, retornando ao seu posto numa reação política e militar inesperada, mostrou a fragilidade da estrutura democrática venezuelana.

A crise vivida neste curto período de tempo, expôs uma situação curiosa e ao mesmo tempo preocupante. Ambos os lados envolvidos na disputa se subestimaram. Esta é a opinião de um venezuelano que vive aqui no Brasil, preocupado com os aconte-cimentos recentes em seu país. Adrián José Padilla Fernández é jornalista formado na Universidade Central da Venezuela, na capital Caracas, mestre em ciências da comunicação pela USP e doutorando na área jornalística também na USP.

Adrián, que já trabalhou como jornalista durante 12 anos na Venezuela antes de vir para o Brasil, acredita que tanto Hugo Chaves se mostrou confiante demais na sua popularidade junto ao povo, quanto os grupos empresariais, representados pela Fedecámaras, principal associação empresarial, a Igreja católica com quem Chaves teve uma série de desentendimentos e os grupos militares que ajudaram a derrubar o presidente, também não acreditaram que ele teria tanta força assim para recuperar a presidência como aconteceu. "Chaves subestimou seus opositores e eles também o subestimaram", comenta.

Segundo Adrián, este golpe não foi praticado por acaso e nem provocado pequenos problemas. Também não o planejaram em pouco tempo. Para ele, esta situação vem se agravando há muitos anos, principalmente desde 1992, quando Chaves tentou um golpe de estado no dia 04 de fevereiro daquele ano, não obteve sucesso, foi preso durante dois anos, mas começou a aparecer e ficar conhecido em definitivo no mundo e especialmente junto ao seu povo. Conseguiu isto, pois quando o país vivia mergulhado em uma crise de valores, devido a corrupção que tomava conta de lá, ele surge com um discurso inflamado, defendendo uma reflexão e uma reforma na política venezue-lana além de uma mudança na ma-neira de seu povo pensar e agir.

Depois de preso, durante 40 segundos, Chaves assume publicamente em rede nacional que foi o responsável pelo golpe, assume todas as culpas, chama para si a responsabilidade e as possíveis consequências do frustrado golpe. Também afirma, que, por enquanto, esta mudança de rumo do país não podia ser conquistada. Mas essa expressão temporal utilizada sabiamente por Chaves, dando a entender que a desistência da tentativa de golpe e que o recuo de suas tropas aliadas eram apenas momentâneo, e que adiante tentaria novamente esta ação, fica na mente do povo de seu país e passa a alimentar as esperanças daqueles que a partir dali, enxergavam em Chaves um novo herói. O povo via nele a expectativa de uma nova nação, honesta, sincera e sobretudo corajosa.

De acordo com Adrián Fernandez, como Chaves era um tenente coronel das forças militares, sua postura esquerdista não era bem vista pelos militares e por isso, principalmente a alta cúpula militar não gostava dele desde essa época. Já o problema com os grupos empresariais existia há um certo tempo, mas se agravou no período que antecedeu a crise final, principalmente devido a aprovação de duas leis polêmicas que Chaves foi o responsável. Uma lei de terras, uma espécie de Reforma Agrária e uma outra lei, de cunho ambiental, que visava defender o meio ambiente. Todas duas, contrariaram os interesses da Fedecámaras, mais forte associação empresarial venezuelana. "Seu discurso revolucionário não agradava a direita venezuelana", explica Adrián.

Quando o jornalista Adrián opina, dizendo que todos os dois lados envolvidos na disputa, que teve contornos dramáticos e apre-sentou a queda de Hugo Chaves, para em seguida voltar ao poder, ele se baseia no contexto em que o presidente venezuelano estava inserido. Ele explica que Chaves acreditava que as pressões e críticas que vinha recebendo dos militares era um movimento isolado e que os empresários também não teriam força para derrubá-lo. Se enganou, já que foi vítima do golpe e chegou a ficar preso em um quartel.

Adrián continua dizendo, que quando altos militares do exército estavam fazendo pronunciamentos contra Chaves, apesar dele achar que eram fatos isolados, na verdade os representantes das forças armadas venezuelanas já estavam planejando a sua deposição. E quando o presidente interfiriu na petroleira PDVSA, mudando a sua direção e gerando a reação da Fedecámaras e da Central de Trabalhadores Venezuelanos (CTV), determinando a greve dos funcionários da empresa, Chaves comprou uma briga muito grande com os empresários, que fugiu do seu controle.

Mas, entretanto, Adrián Fernández diz que os responsáveis pela retirada de Chaves da presidência, também não imaginavam que ele ainda tinha tanta força junto ao povo, principalmente nas camadas sociais mais pobres que lhe davam sustentação e nem contavam com o apoio de parte dos militares que se mantiveram fiel a ele mesmo depois de ter sido deposto. "Os opositores de Chaves não achavam que ele ia ser apoiado da maneira que foi e se surpreenderam", observa.

Foi exatamente utilizando estes apoios que Hugo Chaves se sentiu forte suficiente-mente e encorajado para recuperar o poder, tirando um dos cabeças do golpe, Pedro Car-mona, presidente da Fedecámaras que assumiu temporariamente a presidência em seu lugar. Carmona teve que fugir do palácio do governo por túneis secretos, após terem sido feitas ameaças de que o local seria bombardeado, usando meios não ideais, mas para poder manter a democracia que havia sido gravemente ameaçada.

Assim, mais uma vez, Hugo Chaves se sobrepôs e provou que o "fenômeno Chavismo" como é conhecido na Venezuela, continua forte e resistiu às pressões empresariais e até mesmo militares dos grupos destas classes descontentes com seu jeito de agir e com a sua política. Apesar dos meios de comunicação terem divulgado que a "era Chaves" tinha acabado, Hugo Chaves retornou ao poder graças ao apoio popular que pelos fatos ocorridos e pelo que foi visto pelo mundo neste aconteciemento, continua sólido e resistente.



Golpe de Estado na Venezuela de 2002

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
O Golpe de Estado na Venezuela de 2002 foi um golpe de Estado fracassado em 11 de abril de 2002, que durou 47 horas, no qual o chefe de Estado da Venezuela, o presidente Hugo Chávez foi detido ilegalmente por militares , a Assembleia Nacional e o Supremo Tribunal foram dissolvidos, e a Constituição de 1999 do país foi anulada

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
O presidente da Federação Venezuelana de Câmaras de Comércio (Fedecâmaras), Pedro Carmona foi instalado como presidente interino. Em Caracas, o golpe de Estado levou a um levante pró-Chávez que a Polícia Metropolitana tentou suprimir Setores-chave dos militares  e parte do movimento anti-Chávez se recusaram a apoiar Carmona.A Guarda Presidencial pró-Chávez, eventualmente, retomou o palácio presidencial de Miraflores, sem disparar um tiro, levando ao colapso do governo de Carmona e da reinstalação de Chávez como presidente.
O golpe foi publicamente condenado pelas nações latino-americanas (os presidentes do Grupo do Rio se reuniram em San José, Costa Rica, na época, e foram capazes de emitir um comunicado conjunto) e pelas organizações internacionais. Os Estados Unidos e a Espanha rapidamente reconheceram o governo pró-EUA de facto de Carmona, mas acabou condenando o golpe de Estado após este ter sido derrotado.

História
Marcada por fortes protestos e uma greve geral convocada pela Fedecamaras, que durou mais de três dias, em 11 de abril de 2002, a liderança da oposição pediu autorização para uma marcha entre as áreas do Parque del Este de Caracas e a PDVSA que logo foi desviada para o Palácio do Governo, localizado em Miraflores, Caracas. Sobre o mesmo, partidários de Hugo Chávez se reuniam, e quando os dois lados encontraram-se houve confrontos que resultaram em várias mortes de ambos os lados. Embora ainda seja controverso quem iniciou e quem prosseguiu com o tiroteio naquela noite, ao amanhecer do dia seguinte, o alto comando militar da Venezuela anunciou que Chávez tinha renunciado depois do seu pedido. Imediatamente, militares adverdários de Hugo Chávez executaram um golpe de Estado que colocou na Presidência o Presidente da Fedecamaras, Pedro Carmona. Depois de fortes protestos por partidários de Chávez e de alguma pressão internacional, já que muitos países não reconhecem Carmona, soldados leais ao governo voltaram ao poder e Chávez retomou a presidência, na manhã de 14 de abril de 2002.
A oposição defendeu fortemente que o que aconteceu não foi um golpe de Estado, mas um vazio de poder causado pela declaração do Alto Comando Militar,  a suposta renúncia de Chávez, do seu vice-presidente Diosdado Cabello e pela ignorância pública de alguns oficiais da autoridade de Chávez.  Inicialmente, o recém-criado Supremo Tribunal da Venezuela emitiu um veredicto de que o que aconteceu em 11 de abril foi um vácuo de poder , mas depois a sentença foi anulada
Chávez e seus seguidores chamam o acontecimento de um "golpe da mídia", argumentando que a mídia privada da Venezuela, teve uma grande parcela de responsabilidade pelo golpe, cometendo auto-censura das informações  com os golpistas e até mesmo ser os principais promotores. Os chavistas também mencionam que foi um golpe empresarial, já que o efemero presidente Carmona não era apenas as empresário, mas era presidente da a maior organização de empresarial, a chamada Fedecamaras; e também, que o golpe foi apoiado pela Igreja Católica.

O papel da imprensa

Segundo John Dinges, jornalista da Columbia Journalism Review, nas semanas que antecederam o golpe a mídia privada venezuelana e, em especial, a rede de televisão RCTV, conferiram ampla cobertura às manifestações anti-Chávez, ao mesmo tempo em que ignoraram as manifestações pró-Chávez. No dia 11 de abril, as mensagens de repúdio a Chávez e a convocação para redirecionar a marcha anti-governista para o Palácio de Miraflores foram "amplamente anunciados, promovidos e cobertos por canais de televisão privados, cujo apoio explícito à oposição tornou-se evidente". Uma série massiva de anúncios não-pagos difundidos pela televisão convocavam os venezuelanos a participarem da insurreição. A edição de 11 de abril do periódico El Nacional trouxe estampada a manchete "A batalha final será no Miraflores". Em um dado momento, os golpistas, incluindo Carmona, se reuniram nos escritórios da rede de televisão Venevisión.
Quando irrompeu o golpe, militares do grupo de oposição ocuparam a rede estatal venezuelana de televisão (Venezolana de Televisión), ao mesmo tempo em que rádios e redes comunitárias de televisão eram fechadas. Dessa forma, a notícia de que Chávez na verdade não havia renunciado não pode ser difundida, exceto pela informação "boca-a-boca".Somente uma rede de rádio ligada à Igreja Católica continuou a noticiar os eventos.Graças à cooperação de funcionários do Palácio de Miraflores ainda fiéis a Chávez, a filha do presidente deposto conseguiu falar com o pai por meio de um telefonema. Informada de que Chávez não havia renunciado, conseguiu contatar Fidel Castro e, em seguida, a televisão cubana. O Procurador-Geral da República Venezuelana tentou informar ao público que Chávez não havia renunciado, convocando uma conferência de imprensa para, supostamente, anunciar sua própria renúncia, mas a maior parte de seu pronunciamento foi cortada. Após a prisão de Chávez, protestos organizados por partidários de seu governo, que incluíram graves tumultos e saques, ocorreram em diversos pontos de Caracas, resultando na morte de 19 pessoas. Entretanto, repórteres da RCTV foram enviados para pontos tranquilos da cidade para fazer "tomadas ao vivo de ambientes calmos", ignorando tais eventos.
A imprensa venezuelana também não informou o público sobre as tentativas dos militares que se opuseram ao golpe de Estado de retomar o Palácio de Miraflores. As quatro maiores redes de televisão pararam simultaneamente de transmitir quaisquer notícias sobre a instabilidade política.Dois dos maiores jornais do país, o El Universal e o El Nacional cancelaram suas edições de domingo, alegando tratar-se de "medidas de segurança". Um terceiro, o Ultimas Noticias, imprimiu uma versão limitada relatando os eventos. Alguns tablóides e redes regionais também noticiaram os fatos. Ao transmitir a notícia de que uma divisão importante das Forças Armadas venezuelanas em Maracay havia se rebelado contra o golpe, a rede norte-americana de televisão CNN disse estar surpresa com o fato da imprensa local "não dizer nada" a respeito. Quando as forças leais a Chávez retomaram o Palácio de Miraflores, os militares golpistas emitiram uma declaração conjunta demandando a "restauração da democracia". A declaração, entretanto, foi difundida somente pela CNN. Somente por volta das oito horas da manhã do dia 13 de abril, Chávez, já restituído à presidência da nação, conseguiu informar a população do que havia ocorrido por meio da rede de televisão estatal.
Em um artigo publicado pelo Le Monde diplomatique, o jornalista Maurice Lemoine afirmou que "nunca, mesmo na história latino-americana, a imprensa esteve envolvida tão diretamente em um golpe [de estado].", acrescentando que "embora as tensões do país pudessem facilmente conduzir a uma guerra civil, a mídia ainda está encorajando diretamente os dissidentes do governo a derrubar o presidente democraticamente eleito - se necessário, pela força".


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