por Andy Duncan, quinta-feira, 4 de julho de 2013
Há três livros que ocupam um lugar honroso em minha biblioteca austríaca: Socialism, de Ludwig von Mises; Austrian Perspective on the History of Economic Thought, de Murray N. Rothbard; e Democracia - o deus que falhou, de Hans-Hermann Hoppe. Em minha concepção, estes livros brilham de forma incandescente sempre que olho para eles em minha estante.
E você certamente está se perguntando: onde fica o Ação Humana, de Mises? E o Man, Economy, and State, de Rothbard? E o Moeda, Crédito Bancário e Ciclos Econômicos, de Jesús Huerta de Soto? É claro que estes livros também estão lá, mas o fato é que os Três Grandes flutuam em uma bolha gravitacional própria, pois formam o núcleo solar do meu processo definitivo de cura em relação ao insidioso vírus socialista. É claro que, nesta tarefa, fui ajudado por vários satélites menores que giram ao redor dos Três Grandes, dentre eles 1984, A Revolta de Atlas e An American in the Gulag.
Quando tinha nove anos de idade, tornei-me um stalinista fanático imediatamente após ter lido O Capital na biblioteca de minha cidade. Aos trinta anos, já havia suavizado um pouco: agora eu era um marxista linha-dura, militante fervoroso do Partido Trabalhista britânico. Tão arraigada em minha mente estava essa ideologia negra, que estou convencido de que, olhando em retrospecto, eu tinha olhos de serpente, uma cauda bifurcada e chifres diabólicos.
Felizmente, consegui me curar deste horror ao finalmente perceber que o socialismo é uma completa idiotice criada por uma gente inescrupulosa, sedenta por poder e ávida por escravizar a humanidade em causa própria, além de ser também a mais maléfica, estúpida e destrutiva religião que a humanidade já inventou. Além dos vários outros desastres que esta ideologia que odeia o ser humano já causou, em sua ânsia por manter as pessoas estúpidas, doentes e pobres — e, consequentemente, mais servis e dóceis para serem exploradas —, o socialismo dizimou centenas de milhões de pessoas, particularmente no século XX, período este que hoje deve ser visto como a sua saudosa era dourada.
Infelizmente, levei vários anos para me curar desta virulenta infecção mental, processo esse que envolveu uma década de estudos autônomos, de percepção tardia e, principalmente, de várias perguntas duras feitas a mim mesmo, bem como vários relacionamentos despedaçados, memoráveis e amargas acusações de deslealdade, e a dolorosa degradação gerada por hábitos mentais já inoculados em minha mente — afinal, foram anos em que fui treinado a nutrir ódio exasperado e inveja maliciosa de pessoas mais bem sucedidas do que eu.
Os três livros que finalmente destruíram o normalmente imune vírus do socialismo que havia infectado a minha mente foram os supracitados, especialmente o Socialism, de Ludwig von Mises, um livro que até hoje se mostra vigoroso e inspirador a cada releitura, uma espécie de equivalente não-fictício de O Senhor dos Anéis.
Mas eu sentia que havia espaço para um quarto livro, pois ainda não me sentia completamente curado. Ainda faltavam algumas respostas. Ainda faltavam alguns argumentos que me tornassem completamente imune aos resistentes tentáculos do marxismo, como, por exemplo, o ambientalismo. Você tem de fazer com que seu sistema imunológico esteja sempre em prontidão para matar toda e qualquer tentativa de reentrada de antigas e familiares viroses. Havia a necessidade de um quarto livro que fosse capaz de fornecer esta reinoculação ao meu espírito guerreiro contra as aparentemente infindáveis e insidiosas formas de manifestação socialista.
Felizmente, encontrei este quarto livro.
Embora minha educação autônoma tenha chutado o socialismo de volta para o berçário da inveja, que é o seu lugar original, todos os livros que eu havia lido nunca esclareceram uma última questão, a qual vinha me incomodando há anos: por que, afinal, o socialismo demora tanto tempo para fracassar? A União Soviética durou 70 anos e o padrão monetário fiduciário vigente no Ocidente desde 1971 já está durando mais de 40 anos. Sim, o sistema atual permite o cálculo econômico, há a crença míope dos tolos, e há o sistema de 'mentiras criminosas organizadas' ao qual chamamos de governo. Mas qual é o mecanismo essencial que separa o livre mercado da tirania do socialismo? Como algo tipicamente repugnante e podre como o socialismo sobrevive por décadas, sendo que em minhas leituras anteriores aprendi que tal excrescência deveria fracassar em poucos anos, tão logo sua horrenda natureza baseada no ódio e na inveja vingativa é revelada?
Sim, podemos falar sobre os subsídios ocidentais concedidos aos soviéticos e sobre a fé inapropriada que as pessoas ainda depositam nos bancos centrais, mas isso não responde à pergunta: por que o socialismo sobrevive por décadas, principalmente em suas variações e formatos mais brandos, como a social-democracia? Se é verdade que o socialismo é algo imbecil e autodestrutivo, como então essa gonorréia conseguiu se apossar da mente de grande parte da humanidade e por que ela continua sobrevivendo e vicejando por tanto tempo em suas várias formas e encarnações? Se é verdade que o próspero mercado de ideias, como explicado por Hayek, e o exuberante mercado da destruição criativa, como explicado por Schumpeter, realmente funcionam em parceria para expurgar as invenções fracassadas e promover inspirações de sucesso, por que ainda existem tantos keynesianos e tão poucos austríacos? Por que existe tanto governo e tão pouca liberdade?
Jesús Huerta de Soto descobre e revela o misterioso sistema operacional escondido atrás destas perguntas, e o faz de uma forma simples e majestosamente conectiva em seu livro Socialismo, cálculo econômico e função empresarial. Nesta obra, o economista espanhol fornece a resposta a esta pergunta por meio de um enlace entre a ação humana, o empreendedorismo e o cálculo econômico, tudo recheado com uma perspectiva salamanquense da história econômica e uma aspereza tipicamente andaluz para a análise política. O resultado é uma das mais perspicazes e finas monografias austríacas que já tive o deleite de ler, o que fez com que a obra facilmente quebrasse a hegemonia do meu triunvirato de livros heróicos, criando um novo quadrumvirato.
Como Huerta de Soto explica de maneira cristalina, chegando inclusive a utilizar ilustrações para enfatizar melhor sua cadeia de raciocínio, a mente humana está sempre trabalhando de maneira empreendedorial para fazer com que novas ideias se transmutem em ações cujo resultado final será a melhoria do bem-estar humano. Segundo o economista espanhol, a divisão do conhecimento prático empreendedorial se aprofunda "verticalmente" e se expande "horizontalmente", processo esse que permite (e ao mesmo tempo requer) um aumento da população, que estimula a prosperidade e o bem-estar geral, e que ocasiona o progresso da civilização.
Ao mesmo tempo, há uma elite socialista que está constantemente tentando destruir este processo evolutivo, cortando todos os seus elos com o intuito de fazer com que este arranjo produza aquilo que ela quer e faça aquilo que melhor sirva aos interesses pessoais e imorais desta elite, ignorando completamente os desejos independentes e temporais do restante dos indivíduos deste sistema. No entanto, não obstante esta constante e indesejada interferência — e não importando em que ponto do sistema a violência estatal irá se manifestar ou como suas regulações irão afetar as cadeias de informações geradas por empreendedores e consumidores —, o mercado sempre tenta sobreviver, como um ninho de formigas perturbado por uma enxada.
O socialismo, portanto, sobrevive por causa do livre mercado, o qual constantemente tenta reparar os estragos que o socialismo provoca por meio de suas tributações, regulamentações e inflações. O livre mercado tem a capacidade de se auto-corrigir, de se auto-conectar e de se auto-reorganizar, tudo espontaneamente, como um rio que flui não obstante todos os entulhos que despejam nele. Desta forma, o triunfo final do socialismo ocorreria quando houvesse a completa obstrução da fluência do rio, o que representaria a obliteração da humanidade; já o triunfo final do livre mercado será quando este maléfico entulho for finalmente retirado, destruído e erradicado, e o rio puder novamente voltar a fluir sem obstruções.
Sendo assim, quanto mais socialismo houver no sistema, mais rápida será a sua própria morte, pois ele destruirá aquilo do qual se alimenta parasiticamente. Foi assim com o nacional-socialismo e com o comunismo soviético. Já as versões mais anêmicas do socialismo, cujo monstro é menos sedento por sangue, conseguem sobreviver por mais tempo, como ocorre com as sociais-democracias ocidentais.
No entanto, o socialismo sempre será uma besta em contínua expansão, que se alimenta dos sete pecados capitais (ira, avareza, preguiça, vaidade, luxúria, inveja e gula) por meio de mecanismos como assistencialismo, protecionismo, favoritismo e privilégios. Embora a interminável batalha entre socialismo e livre mercado possa algumas vezes se mostrar equilibrada durante um período de tempo, o fato é que socialismo está constantemente tentando — aliás, este é o seu objetivo final — esmagar o livre mercado. Por isso, é de extrema importância eliminar esta aberração por completo, se o nosso objetivo é alcançar um mundo seguro, livre e próspero.
Tudo isso, e muito mais, se torna cristalino quando você lê o livro do professor Huerta de Soto. Esta pequena resenha de modo algum faz justiça ao brilhantismo do livro, o qual você deve ler com atenção para formar suas próprias conclusões. Tudo o que posso dizer é que o livro é altamente recomendado para todas as pessoas interessadas no tema, e ainda mais especificamente para aquelas que querem entender o cerne da insidiosa, maléfica e hipócrita natureza do socialismo, e entender como aniquilar os impulsos suicidas e destruidores desta ideologia que odeia o ser humano, antes que estes impulsos auto-sacrificantes nos destruam.
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