terça-feira, 25 de fevereiro de 2014


A ausência, a falta de uma cobertura adequada sobre o que está acontecendo na Venezuela tem levado as pessoas na internet a publicar os mais impressionantes absurdos. Não fosse Graça Salgueiro e o genial trabalho desenvolvido pela Rádio Vox, os brasileiros ficariam restritos a uma ou outra chamada do Jornal Nacional e demais veículos da “Imprensa do B” para saber o que está ocorrendo naquele país.
pachines

Porta-aviões Lianoning, completamente operacional e armado, literalmente, "até os dentes".
Não cabe a mim, que jamais estive na Venezuela e tampouco na Colômbia, escrever sobre o que está acontecendo lá. Quem quiser saber em primeira mão o que ocorre naqueles países precisa seguir o Notalatina, blog da Graça, e escutar a Rádio Vox. Minha intenção aqui é simplesmente fazer algumas observações, sem ser especialista em geopolítica, sobre eventuais respostas dos Estados Unidos e da República Popular (China) no que diz respeito à essa crise toda.
Envolvida numa situação em que o crescimento econômico supera de muito longe o consumo, a China hoje comporta-se de maneira inversa ao Brasil (consumo superando esmagadoramente o crescimento) e tem como principais preocupações – do ponto de vista internacional – a eterna crise na Península Coreana e os constantes exercícios militares que os EUA fazem naquela região com seus aliados do Sul. Recentemente, a China estabeleceu uma "zona dedefesa aérea" sobre ilhas que o país disputa com o Japão - que Pequim chama de Diaoyu e Tóquio de Senkaku -, elevando a tensão na região do Mar da China Meridional. O governo chinês passou a exigir o envio de planos dos voos que passassem pela região, a abertura de canais de comunicação de rádio e a clara identificação da nacionalidade de cada aeronave e conta agora, naquela região, com o porta-aviões Liaoning, que entrou em serviço na Marinha do Exército de Libertação em 25 de dezembro de 2012.

Originalmente pertencente a Classe Kuznetsov, ele foi construído pela União Soviética para servir em sua marinha. Era conhecido como Riga e foi lançado a 4 de Dezembro de 1988, sendo renomeado para Varyag (Varangiano) no final da década de 1990, segundo um famoso cruzador russo. Uma companhia turística chinesa comprou o navio coma desculpa que ele seria transformado em cassino flutuante. A foto acima mostra o resultado final.

É absurda a informação que circula na internet, e que eu mesmo apresentei no blog Ataque Aberto, segundo a qual soldados chineses estariam a caminho da Venezuela. Não há qualquer fundamento para se acreditar num fato que, sendo verdadeiro seria, sem dúvida alguma, noticiado pelos canais oficiais tanto da China quanto dos Estados Unidos. Lembro porém, que acordos de cooperação foram fechados entre os dois países. Maduro esteve na China em setembro de 2013 em viagem celebrada pelo próprio portal Vermelho.org (que se auto-denomina o “portal da esquerda” no Brasil) e não há dúvida de que a compra de material militar foi incluída nas negociações. A presença de consultores, não soldados, chineses na Venezuela é portanto algo, aí sim, perfeitamente plausível.

Em relação aos EUA, não há dúvida de que Washington sabe perfeitamente o que está acontecendo mas, tenhamos certeza, pouco lhe interessa um envolvimento no sentido de “defender por questões humanitárias” o povo venezuelano. Os EUA só pensariam seriamente numa intervenção no momento em que a disseminação da “Revolução Bolivariana” por todo continente passe a significar uma ameaça inquestionável a sua segurança nacional ou represente uma perda intolerável em termos econômicos nos seus negócios com a região. Por enquanto, nenhuma dessas duas situações ainda se apresentou. Nesse contexto, tropas da República Popular na Venezuela seriam, para os americanos, o equivalente à crise dos mísseis em Cuba e, aí sim, eu não tenho dúvida de que haveria resposta americana em termos de deslocamento militar.

Uma eventual retaliação militar americana ao que está acontecendo na América do Sul seria protagonizada pela Quarta Frota da Marinha dos Estados Unidos – Frota do Atlântico Sul – e até agora não existe evidência alguma de que isso tenha acontecido ou esteja próximo de acontecer.

Enquanto esperamos, ficamos todos mergulhados nesse mar de desinformação, nesse telefone sem fio: em pleno 2014, um país do tamanho do Brasil depende do Twitter para saber o que está ocorrendo bem ao seu lado.


Milton Simon Pires
 é médico.


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