Esquerda x direita: a diferença básica está na militância
Por João César de Melo, publicado no Instituto Liberal
É comum escutarmos que esquerda e direita
são a mesma coisa. Uns dizem isso por ignorância; outros, dizem com a
intenção de diluir na lama de terceiros os desvios daqueles nos quais
confia. A verdade é que as diferenças são muitas, percebidas por
qualquer um que queira percebê-las; e todas as diferenças convergem numa
única palavra: militância.
O PT e os demais partidos de esquerda
contam com um verdadeiro exército de militantes espalhados em todos os
nichos sociais, institucionais e culturais do Brasil. A quase totalidade
dos diretórios acadêmicos das universidades, a quase totalidade dos
movimentos “sociais”, dos sindicatos, dos artistas e dos intelectuais
formam uma gigantesca malha de apoio e de defesa de todos que eles
reconhecem como representantes da esquerda. No lado oposto (à direita,
mas nem tanto), temos o PSDB, que conta com o apoio de quase nenhuma
representação social. O apoio ao PSDB sempre é individual e pouco
manifestado.
As consequências práticas da militância da esquerda podem ser resumidos em sete:
1 – Necessidade de um Estado Gigantesco.
Para sustentar seu exército de militantes, a esquerda precisa de
centenas de instituições públicas, tais como secretarías, agências,
ministérios e, claro, de dezenas de empresas estatais. Criam quantas
instituições e quantos cargos forem necessários, a despeito do custo
disso. Tanta gente indicada por razões políticas potencializa a
corrupção nas relações com empresas privadas e alimenta a burocracia, já
que as decisões ficam reféns da aprovação de cada vez mais pessoas. O
valor “estratégico” de empresas estatais significa também bilhões de
reais para serem repassados a sindicatos, movimentos sociais, artistas e
intelectuais que lhes apoiam. Como o uso político da estrutura do
Estado e de suas empresas sempre acabam gerando prejuízos, governos de
esquerda recorrem a aumentos sucessivos de impostos e de taxações para
financiar a si mesmo; e nesse embalo, intervém sucessiva e
irresponsavelmente na economia para tentar corrigir os erros cometidos
por eles mesmos, gerando novos problemas.
2 – O povo em defesa do governo que lhe
rouba. Estando espalhados por toda a sociedade, a militância de esquerda
manipula com grande facilidade as camadas mais pobres da população.
Diante qualquer crítica ou acusação feita contra um governo que lhe
represente, sua militância tem meios de dizer ao pé do ouvido de cada
cidadão que tudo não passa de mentiras feitas pelas “elites”. Diante da
ameaça de seus líderes perderem o poder, espalham todo tipo de mentiras
sobre os adversários. Diante de problemas econômicos, propagam a versão
dos fatos de que tudo é causado pela ganância dos capitalistas, mas
garantem, baseando-se na suposta benevolência e sabedoria de seus
líderes, que tudo melhorará logo logo.
3 – Milhões de bocas e milhões de tetas.
Cada funcionário público comissionado fará ampla campanha em favor do
governo para evitar, numa eventual mudança de partido, que ele perca seu
salário e suas regalias. Considerando o volume do aparelhamento dos
quadros do funcionalismo público brasileiro, enxergaremos mais um
exército de gente com argumentos práticos (a perda do emprego) para
angariar votos em suas famílias e em seus círculos sociais.
4 – O corrompimento da cultura. Por meio
de massivos patrocínios a partir de empresas estatais, a esquerda torna a
maior parte da classe artística e intelectual dependente do Estado,
portanto, muda diante de seus desvios e absurdos. Assim como o
funcionário comissionado fará de tudo para ajudar a reeleger quem lhe
deu o emprego, artistas e intelectuais também fazem campanha pelo
partido que facilita o financiamento de seus shows, de seus livros, de
seus blogs, de suas peças e filmes.
5 – O corrompimento da mídia. Por meio de
volumosos gastos em publicidade nos maiores veículos de comunicação (a
maior parte sendo anúncios de empresas estatais) governos de esquerda os
tornam dependentes e, consequentemente, temerosos em fazer as críticas e
denúncias que devem.
6 – O corrompimento da indústria.
Elevando cada vez mais a carga tributária, mantendo a mão de obra
desqualificada e a infraestrutura estagnada, governos de esquerda coagem
os empresários a recorrer aos créditos (a altos juros) que o próprio
governo oferece, alimentando assim uma espiral tanto de ineficiência
quanto de dependência do Estado.
7 – O esgotamento dos recursos. Todo esse
aparato criado para manter a estrutura da esquerda, em especial sua
militância, cobra um altíssimo custo da sociedade. Mesmos aqueles que
não concordam com tais procedimentos, veem-se reféns de um custo de vida
e de produção cada vez mais alto e salários proporcionais cada vez mais
baixos por conta da estagnação econômica; reféns também de serviços
públicos cada vez piores por serem resultados de administrações
políticas – além do risco de terem até seus patrimônios espoliados em
nome de “causas sociais”.
Por outro lado, o que é visto como
“direita” não necessita desse gigantesco aparato estatal porque
simplesmente não tem um exército de militantes para sustentar. Seus
vínculos são com o setor empresarial, aqueles “malditos” que administram
empresas, pagam salários e oferecem produtos á sociedade. Vinculada ao
setor produtivo, a direita tenta se manter no poder fazendo a economia
se desenvolver, o que gera a real distribuição de renda através de
criação de empregos para trabalhadores cada vez mais qualificados e, em
consequência disso, melhor remunerados; e o melhor de tudo: A direita
não conta com um exército de militantes para defendê-la de críticas e
acusações. Ao contrário. Numa democracia, a direita invariavelmente é
acuada o tempo todo pela sociedade, especialmente pelos artistas e
intelectuais, o que é ótimo!
Entre a direita e a justiça existem
apenas promotores e advogados. Entre a esquerda e a justiça existem
promotores, advogados e… um exército de militantes manipulando a
sociedade em defesa dos réus, o que acaba influenciando a própria
justiça.
Governo algum deve se ver com altos
índices de popularidade. Lula manteve-se oito anos no poder sem projeto
real de desenvolvimento porque contava com mais de 80% de aprovação. Não
se sentindo ameaçado, Lula fez o que todo político tende a fazer:
dedicou-se a transformar o Estado numa extensão de seu partido e de si
mesmo.
Sem ter um exército dependente de sua
“benevolência”, governos de direita só conseguem se manter no poder se
fizerem a sociedade enriquecer, tal qual fizeram Reagan e Thatcher,
ambos reconhecidos como os maiores líderes que seus países tiveram no
último século.
Por trás do discurso muito “bonitinho” da
esquerda, existe a realidade de que qualquer gasto estatal é pago pela
sociedade e, como conta a história, raramente convergindo em benefícios
reais á sociedade, com prejuízos justamente para os mais pobres, que se
veem dependentes de Estados cada vez mais ineficientes.
Governos de esquerda e direita são
propensos aos mesmos desvios e absurdos, porém, quando se minimiza
poderes, minimiza-se também eventuais problemas e aumentam-se as chances
de se detectar e resolver estes mesmos problemas.
Tags: João César de Melo
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http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/filosofia-politica/esquerda-x-direita-a-diferenca-basica-esta-na-militancia/
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