8 de julho de 2006
O papel do governo e os cristãos
O
Cristianismo deve ser estendido a toda a sociedade. Para essa
finalidade, existe a evangelização, onde o Senhor Jesus Cristo
comissionou seus discípulos a ir a todo o mundo e pregar o Evangelho a
todas as pessoas. Nada e ninguém deve ficar de fora da influência do
Evangelho.
No
começo, o método exclusivo de evangelização usado era simplesmente a
pregação do Evangelho, por meio dos líderes e do testemunho pessoal dos
membros comuns.
Desse
jeito, a mensagem sobre o ministério, vida, morte e ressurreição do
Senhor Jesus Cristo experimentou uma propagação extraordinária na
sociedade, atingindo até mesmo as autoridades — sempre porém com muitas
perseguições. A expansão do Cristianismo ocorreu basicamente por causa
dessas perseguições. O crescimento do Evangelho foi regado com o sangue
dos mártires.
Já
bem estabelecido em muitos setores da sociedade do Império Romano, o
imperador Constantino, depois de se converter, teve a iniciativa de
oferecer privilégios e favores especiais a todos os cidadãos romanos que
resolvessem se converter para o Cristianismo. Por mais boa intenção que
ele tivesse, a obra da conversão pertence exclusivamente ao Espírito
Santo, com a colaboração dos cristãos, que têm a missão de dar bom
testemunho a fim de atrair os descrentes à esfera do Evangelho.
O
que aconteceu foi que as igrejas cristãs começaram a se paganizar, pois
os pagãos passaram a ser cristãos, por causa dos favorecimentos dados
para quem se convertesse, e trouxeram consigo suas práticas pagãs.
Assim,
a tentativa de utilizar o governo para empurrar as pessoas para se
converter foi um fracasso, pois o governo é incapaz de cumprir o que não
tem chamado para cumprir. Com essa experiência política dos cristãos
romanos, aprendemos que o governo não pode e não tem chamado nenhum para
ocupar o lugar da Igreja do Senhor Jesus Cristo na sua missão de
evangelizar.
Então,
com esses erros do passado, os cristãos hoje aprenderam a lidar de modo
correto com as questões políticas? No que se refere à evangelização, a
lição parece que foi realmente aprendida.
No
entanto, os erros de hoje não são iguais aos erros do passado. Enquanto
no passado, cristãos bem intencionados tentaram atribuir ao governo a
função de evangelização, que pertence exclusivamente à Igreja do Senhor
Jesus Cristo, os cristãos bem intencionados de hoje tentam atribuir ao
governo algumas funções da família e da Igreja do Senhor Jesus Cristo.
Esses cristãos acham que o governo tem a função de:
- Reabilitar criminosos (função exclusiva do Senhor Jesus Cristo, através da Sua Igreja).
- Alimentar os pobres (função de cada pessoa de acordo com sua própria consciência e liberdade moral).
- Dar saúde a todos (função em parte de cada pessoa e também da Igreja do Senhor Jesus Cristo).
- Dar educação (função da família e também da Igreja do Senhor Jesus Cristo).
- Redistribuir renda. (Nem mesmo a Igreja do Senhor Jesus Cristo tem essa função, pois todos os ricos são chamados, de acordo com sua consciência e liberdade moral, de ajudar os necessitados. Assim como o governo não pode obrigar as pessoas a se converter, também não pode obrigá-las a ajudar os outros, mediante cobrança forçada de impostos pesados e iníquos.)
Assim
como o erro do passado, esse erro também tem como causa as boas
intenções de alguns cristãos. Assim como no passado, esses cristãos
querem que o governo ocupe funções que Deus jamais lhe deu, de modo que
não foi de estranhar que o Império Romano tenha fracassado em seus
esforços humanos de converter os cidadãos pagãos e de modo que não será
de admirar que o governo de hoje experimente igual fracasso em suas
tentativas de usurpar o chamado das famílias e da Igreja do Senhor Jesus
Cristo.
Não
é preciso entrar em detalhes para explicar qual é o chamado do cristão
na sociedade. Sua missão é permitir que o Espírito Santo o use
continuamente para pregar a Palavra de Deus a todos os pecadores.
- Onde há perdição, ele leva a luz do Evangelho, como Jesus ensinou.
- Onde há doenças, ele ministra aos doentes, como Jesus ensinou.
- Onde há necessidades materiais, ele pratica e ensina o amor ao próximo, como Jesus ensinou.
Entretanto, qual é o papel do governo e, de modo particular, qual deve ser o papel do cristão na política?
A Bíblia ensina que a função do governo e seus governantes é serem servos de Deus.
O que é então o governo ser servo de Deus? Pregar o Evangelho?
Alimentar os pobres? Cuidar dos doentes? Reabilitar os criminosos?
Educar as crianças?
“Pois [a autoridade política] é serva de Deus para o seu bem. Mas se você praticar o mal, tenha medo, pois ela não porta a espada sem motivo. É serva de Deus, agente da justiça para punir quem pratica o mal”. (Romanos 13:4 NVI, o destaque é meu.)
Ser servo de Deus é o governo fazer a vontade de Deus se
ocupando com a função que Deus lhe deu. Parece que bem poucos cristãos
sabem ou lembram que Deus já estabeleceu uma função para o governo.
Seja
cristão ou não, o presidente, governador ou outra autoridade política
tem chamado de Deus para cumprir sua obrigação de castigar os maus e
elogiar os bons. Nem mais, nem menos.
“Somente
os que fazem o mal devem ter medo dos governantes, e não os que fazem o
bem. Se você não quiser ter medo das autoridades, então faça o que é
bom, e elas o elogiarão.” (Romanos 13:3 NTLH)
Cumprindo
tal função, o governo não precisará mais se intrometer em áreas que não
lhe competem e áreas em que seu fracasso é mais que evidente, como
educação, saúde, etc. Cessando tal intromissão, o governo deverá parar
de cobrar incessantes, pesados e abusivos impostos com o suposto
objetivo de investir na saúde, educação, etc., livrando os trabalhadores
da escravidão como financiadores involuntários de todo tipo de programa
governamental social absurdo.
Assim,
o governo terá tempo para se ocupar exclusivamente com sua missão de
dar segurança à população. Por sua vez, tendo mais segurança e tendo
muito menos de seu dinheiro desperdiçado no pagamento de impostos, a
população terá muito mais liberdade para procurar ou estabelecer os
serviços que lhe são essenciais, como saúde, educação, etc.
Quando
o governo se envolve em funções que não lhe competem, o resultado é
insegurança: os maus não são castigados e os bons cidadãos não são
elogiados. Em casos extremos, o governo castiga os bons cidadãos e
elogia os maus! Não muito diferente do que ocorre no Brasil de hoje,
onde certos indivíduos que promovem o “direito” ao aborto, ao
homossexualismo e a outros males são elogiados, enquanto os bons
cidadãos que se manifestam contra essas práticas nocivas são tratados
como preconceituosos e até pior. Enquanto os maus são elogiados por
promoverem o homossexualismo e camisinhas nas escolas, famílias
inocentes são impedidas de exercer seu direito de deixar de mandar seus
filhos ao péssimo ambiente escolar que o governo está proporcionando às
crianças. Essas famílias são perseguidas por optarem pela educação escolar em casa.
Entretanto,
os problemas não param por aí. Enquanto mais de cinqüenta mil pessoas
são assassinadas por ano no Brasil, o governo se prepara para punir
severamente — não os criminosos e assassinos, mas as famílias que
prosseguirem na milenar prática da disciplina física nos filhos. O clima
é de muita insegurança e caos. Mas o governo tentará mostrar que está
trabalhando. Se não puder perseguir e punir os verdadeiros criminosos, o
governo simplesmente, por suas próprias leis absurdas, transformará em
criminoso toda mãe ou pai disciplinador ou todo cidadão bom que ousar se
opor aos programas governamentais de favorecimento ao homossexualismo e
outros pecados.
Se
os cristãos não ajudarem o governo a cumprir sua missão,
inevitavelmente o governo tentará impedir os cristãos de cumprirem sua
própria missão. Caso um governo, por causa de sua confusão moral, tenha
se esquecido ou nem mesmo saiba mais seu dever natural, os bons cidadãos
devem lembrar aos governantes sua responsabilidade de:
(1)
castigar, punir, penalizar e fortemente desencorajar os assassinos, os
ladrões, os estupradores, os adúlteros, os pedófilos, os seqüestradores,
os abortistas e outros maus.
(2)
elogiar os bons que se opõem a esses males e ajudam os pobres, os
órfãos, as vítimas de violência sexual, os oprimidos pelo
homossexualismo, etc.
Portanto,
os cristãos devem cuidar da evangelização, cada família deve cuidar de
suas necessidades de saúde e educação e o governo deve ter como missão
exclusiva o único chamado que Deus lhe deu: castigar os maus e elogiar
os bons.
Que
os cristãos na política então se lembrem de deixar o governo ser apenas
um bom servo de Deus na sua própria esfera, para a segurança de toda a
população.
Uma versão deste artigo, com o título “A função do Estado”, também escrito por Julio Severo, saiu na revista Evangelizar, edição nº 6 (maio/junho de 2006), publicada pela AMME.
link:
http://juliosevero.blogspot.com.br/2006/07/o-papel-do-governo-e-os-cristos.html
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