Os tais 44 milhões de votos de Serra.
Reza a lenda, que um dos argumentos sempre brandidos por Serra quando fala sobre seu desejo de disputar uma terceira eleição presidencial é o de que obteve 44 milhões de votos em 2010. Eu não tenho como saber se a coisa é assim mesmo, pois não participo das reuniões do PSDB, mas, em sendo verdade, esse pensamento assenta-se num equívoco tão grande, que só reforça minhas restrições a uma nova candidatura de Serra ao Planalto.
Serra não é dono daqueles 44 milhões de votos, assim como Marina não é dona dos 20 milhões que recebeu então. Não existe isso de político ter uma mala cheia com os votos que já recebeu e, em eleições futuras, ir juntando novos votos àqueles. Trata-se apenas de um pensamento arrogante, que despreza uma verdade fundamental de toda campanha política: o eleitor deve ser conquistado sempre, a cada dia.
Serra só chegou ao segundo turno, em 2010, porque as igrejas sacaram o zap do aborto contra Dilma e o eleitorado que resolveu comprar aquele discurso viu em Serra o voto útil para deter a vitória de Dilma ainda no primeiro turno, como parecia prestes a acontecer. Uma vez no segundo turno, Serra recebeu 44 milhões de votos de uma importante parcela da sociedade que rejeitou o continuísmo do PT. E o que fez com eles? Nada!
Em vez de se apresentar como líder da oposição, aproveitando para comandar as críticas ao governo de Dilma e para coordenar a articulação em torno de um projeto alternativo de Brasil, preferiu sumir por cerca de dois anos. Até voltar, em 2012, falando que queria ser prefeito de São Paulo. Todos lembramos como terminou a eleição municipal…
Agora, negligenciando o fato de que o PSDB parece majoritariamente unido em torno de Aécio Neves (unidade que, diga-se, não aconteceu nas últimas três eleições presidenciais), Serra exige prévias para escolher o candidato tucano, ao contrário do que ele mesmo pregou em 2010. O pior, porém, é estar exigindo prévias ao mesmo tempo em que negocia com outros partidos uma eventual candidatura, caso não consiga impor seu nome dentro do PSDB.
Há algumas semanas, o PSDB reuniu os presidentes dos 27 diretórios estaduais em Brasília para declarar apoio a Aécio. Pode-se até duvidar, dado o histórico recente dos tucanos, da efetividade prática dessa união em torno do senador mineiro, mas há que se reconhecer que pela primeira vez em mais de uma década o partido, em sua maioria, pelo menos parece apontar em uma determinada direção. E essa direção, ao que tudo indica, não é aquela desejada por Serra…
O senador Cássio Cunha Lima criticou o tom empregado por Serra até aqui:
Não tem sentido você defender a tese das prévias e, ato contínuo, quando o presidente nacional diz que sempre as defendeu, você começar a adjetivá-las.
Pois é, não tem mesmo… A partir do momento que as prévias são aceitas por Aécio, principal nome do partido hoje, falar em coisas abstratas como “medida democrática” parece apenas uma forma de tergiversas e manter uma fresta aberta para sair do PSDB. Afinal, o que ele quer ao exigir “igualdade de condições”? Que Aécio saia da presidência do partido? Ou, talvez, que o mineiro (como fez em 2010), renuncie à pré-candidatura e aclame Serra como candidato vitalício dos tucanos à Presidência?
O que me parece, olhando assim, de fora, é que Serra está mais preocupado em vencer a disputa interna, do que em ganhar uma eleição presidencial. Essa perspectiva me preocupa um pouco, afinal eu quero ganhar e apear o PT do poder.
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