Por Helio Duque
É fato objetivo na economia brasileira. Nos últimos doze meses (novembro de 2012 a novembro de 2013) o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) que mede a taxa inflacionária foi de 5,77%. Esta é a inflação oficial divulgada pelo governo. Para atingir a taxa de 5,77%, a manipulação fica clara quando se observa estudo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Aponta que, naqueles doze meses, os “preços livres de mercado”, cresceram 7,30%. Já os “preços administrados pelo governo”, foram reajustados em 0,94%. As tarifas públicas represadas, não reajustadas, onde a Petrobrás é a maior vítima, mas não a única, estão segurando a inflação. Verdadeira bomba de efeito retardado.
Os preços livres são definidos pela irrevogável lei da oferta e da procura, vigente desde a milenar Mesopotânia. Já os administrados dependem da política econômica oficial, controladora dos preços que ficam defasados para permitir a falsificação das expectativas inflacionárias. A relação é ampla: combustíveis, água e esgoto, energia elétrica, transporte coletivo, planos de saúde, remédios, gás encanado e afins. De acordo com o Banco Central, os preços administrados tem peso de 23,3% no custo de vida dos brasileiros.
Em uma economia saudável “preços livres + preços administrados” caminham alinhados respeitando a racionalidade econômica. No governo brasileiro, ocorre o contrário. Os preços da conta de consumo são administrados artificialmente baixos, reduzindo outros pela via das desonerações tributárias. Eletrodomésticos, móveis e veículos automotores ganham subsídios creditícios.
Enquanto isso os fundamentos de uma economia sólida são desestruturados pela elevação dos déficits fiscal e externo, reduzindo o potencial crescimento do Produto Interno Bruto. A artificialidade contábil atende os objetivos populistas e eleitoralistas no curto prazo. A busca da popularidade, alimentada por preços artificiais, no médio e longo prazo gera situação insustentável e dramática para os próximos anos.
A conta das distorções na economia brasileira será paga pela sociedade, diante dos esqueletos da mágica contábil que vem sendo cobertos pelo endividamento do Estado. A dívida pública bruta que engloba todas as dívidas da União, Estados e municípios pelo critério universal do FMI (Fundo Monetário Internacional) cresceu, expressivamente, no governo Dilma Rousseff, está em 68,3% do PIB. A média dos países emergentes é de 35% do PIB.
O Brasil, na aritmética da adulteração contábil, vem adotando o conceito de dívida líquida. Expurga várias operações do Banco Central com títulos públicos e outros macetes, divulgando que ela é de 35,4% do PIB. E a maioria dos brasileiros acredita. Para a economia mundial o critério respeitado e usado é de dívida bruta. No caso brasileiro, além das operações do BC, o governo desconta as reservas que estão aplicadas em dólares para adotar o malabarismo de dívida líquida.
Nesse último artigo do ano, desejaria ter radiografado outra realidade, mas infelizmente os fundamentos econômicos brasileiros me enchem de incertezas e temor do futuro. Longe de uma visão pessimista, recordo que há alguns anos, em Lisboa, ouvia do escritor Lobo Antunes que “o pessimista é um otimista lúcido.” O povo continua acreditando que é possível ir bem, quando a economia vai mal. É equívoco mortal.
A inflação manipulada pela distorção dos preços reais terá alto custo no futuro. Intencionalmente a mídia alimenta o noticiário falando apenas do “centro da meta” inflacionária de 4,5% e o “teto da meta” de 6,5%. Convenientemente omite que existe um tripé, onde o objetivo da política econômica seria lutar por uma “meta” de 2,5%. A exemplo do que acontece com a quase totalidade dos países emergentes.
Há dias, cinicamente, de maneira surreal, o ministro Guido Mantega, da Fazenda, em surto de inteligência que nele é incomum, reconheceu: “a economia está crescendo com duas pernas mancas”. Certamente uma delas é a manipulação da inflação brasileira, onde ele e Dilma Rousseff são os grandes responsáveis. Quando os brasileiros despertarem da anestesia em que vivem, irão pagar o preço gerado pelo acúmulo de incompetências.
Hélio Duque é doutor em Ciências, área econômica, pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Foi Deputado Federal (1978-1991). É autor de vários livros sobre a economia brasileira.
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