sábado, 16 de fevereiro de 2013

Outras fraudes no futebol!

Jogadores são presos por suposta fraude no futebol italiano

AGÊNCIA ANSA
Veneza – A polícia italiana prendeu hoje vários jogadores supostamente envolvidos em um esquema de apostas. A residência do brasileiro Luciano Siqueira De Oliveira, do Chievo, foi revistada pelos agentes.
O meia da Lazio Stefano Mauri e o ex-jogador do Genoa Omar Milanetto estão entre os detidos. Foram emitidas 19 ordens de prisão, dez das quais são contra ex-jogadores da série A, B e Liga Pro.
O treinador da Juventus, Antonio Conte, também foi inserido na lista de suspeitos no esquema, assim como o presidente do Siena, Massimo Mezzaroma.
“A reação de Conte é a de uma pessoa completamente alheia e fortemente determinada a demonstrar a sua total inocência sobre os fatos contestados”, afirmou o advogado do técnico da Juventus, Antonio De Rencis.
O procurador de Cremona, responsável pelo caso, Roberto Di Martino, afirmou hoje que “não pode excluir nada” sobre o possível envolvimento da Lazio e do Lecce nos casos de corrupção.
A denúncia é de que jogadores e clubes mantinham um esquema de apostas e combinavam resultados de jogos no futebol italiano.



Totti e Vieri são investigados por esquema de fraude no futebol italiano

Atacante do Roma e ex-atleta tiveram nomes citados em escutas telefônicas. Além do time da capital, Genoa e Fiorentina teriam envolvimento

Por GLOBOESPORTE.COM Roma

Vieri, atacante italiano (Foto: Fred Huber / Globoesporte.com)Vieri pode ter envolvimento em fraudes
(Foto: Fred Huber / Globoesporte.com)
Depois do meia De Rossi ter seu nome envolvido no esquema de fraude de apostas e manipulação de resultados descoberto recentemente na Itália, outro jogador do Roma está na mira da justiça, o veterano Francesco Totti. Além dele, o ex-atleta Christian Vieri, de 37 anos, também é tido como suspeito. As informações são do jornal "La Gazzetta dello Sport", que afirma que, além do Roma, o Fiorentina e o Genoa também são alvos de investigação.

O fiscal que cuida do caso, Roberto Di Martino, relatou que "no momento, não há provas", apenas indícios de que possam ter fraudado resultados de mais de um jogo. Vieri e Totti foram incluídos na lista de suspeitos após escutas telefônicas que a polícia italiana conseguiu em que
os nomes deles são citados. Segundo o "Corriere della Sera", Totti assegurou que não tem nada a ver com o esquema de fraude das apostas futebolísticas.

Ao todo, 16 pessoas foram presas por envolvimento no caso, incluindo o ex-jogador da seleção italiana, Giuseppe Signori, que negou as acusações em depoimentos à Corte de Cremona nesta quarta-feira.
Totti do Roma (Foto: Reuters)
Totti é ídolo no Roma e pode estar ligado à manipulação de resultados (Foto: Reuters)
O próprio advogado de Signori reconheceu que ofereceram 40 mil euros para adulterar o resultado do jogo entre Milan e Lecce, mas ele teria recusado. O Atalanta também está sob investigação, depois que o capitão Cristiano Doni, teve seu nome ligado à prática criminosa para benefício econômico.



Itália cria força-tarefa para combater fraude no futebol

Decisão foi tomada em conjuntos com o Ministério do Interior, Ministério da Economia e as federações esportivas.

O governo italiano atendeu o pedido do ministro do Interior Roberto Maroni e criou nesta sexta-feira uma força-tarefa para investigar as suspeitas de manipulação de resultados e apostas ilegais envolvendo jogos da segunda e da terceira divisões do futebol nacional.
A força-tarefa será formada por representantes do Ministério do Interior, do Ministério da Economia e de federações esportivas, mas ainda não estabeleceu um plano para regularizar as apostas que ameaçam causar um novo escândalo no esporte italiano.
O grupo atuará de forma conjunta com os presidentes do Comitê Olímpico Italiano, Giovanni Petrucci, e da Federação Italiana de Futebol, Giancarlo Abete. A força-tarefa fará sua primeira reunião na próxima semana.
"Junto de Petrucci e Abete, nós analisamos esta nova suspeita de combinação de resultados e estamos tentando tomar decisões que impeçam novos casos", afirmou Maroni. "O passo seguinte será criar uma unidade de investigação com o objetivo de coletar informações e analisar as apostas".
O ministro, contudo, destacou que não pretende acabar com o sistema de apostas legais. "O futebol e outros esportes atraem muitas apostas e nós não estamos interessados em impedir ou limitar isso, mas sim em regular", disse Maroni, que poderá contar com a polícia em suas ações. "Não podemos negar o fato de que, por trás da atividade ilícita, está a mão do crime organizado".
Dezesseis pessoas foram presas na Itália na semana passada por suposta participação em manipulação de resultados e apostas ilegais. Cerca de 18 jogos, principalmente da segunda e terceira divisão italianas, estão sendo investigados pelo Ministério Público em Cremona, onde a investigação está baseada. Partidas da primeira divisão também podem estar sob suspeita.
Jogos envolvendo Atalanta e Siena estão entre os investigados, o que poderia colocar o acesso à elite italiana dos dois clubes em risco. Ex-capitão da Lazio, Giuseppe Signori foi um dos presos.
O escândalo acontece apenas cinco anos após a última grande investigação envolvendo manipulação de resultados no país, quando a Juventus acabou tendo dois títulos nacionais retirados e sendo rebaixada à segunda divisão italiana.


Capitão da Lazio é preso por suspeita de fraude no futebol italiano

Redação SRZD | Futebol | 28/05/2012 08h55
Foto: Getty ImagesO escândalo de combinação de partidas e fraude em apostas no futebol da Itália rendeu mais prisões na manhã desta segunda-feira. Entre os detentos está Stefano Mauri, capitão da Lazio, time da capital.
De acordo com fontes policiais, Antonio Conte, ex-jogador e atual treinador da Juventus de Turim, também está entre os investigados do caso, por fatos relativos ao tempo que era técnico do Siena. O comandante da atual campeã italiana teria conhecimento de um empate combinado entre sua antiga equipe e o Novara, de acordo com um ex-jogador.
Agentes também foram enviados à concentração da seleção italiana em Coverciano, em Florença, onde o zagueiro Domenico Criscito foi notificado de que tinha sido inscrito no registro dos investigados.


Justiça da Itália leva 19 à prisão por fraude no futebol

Entre os detidos estão atletas da Séria A, como Stefano Mauri, capitão da Lazio, e Domenico Criscito, da seleção

29 de maio de 2012 | 3h 04

Andrei Netto / CORRESPONDENTE - O Estado de S.Paulo
PARIS - O Ministério Público de Cremona, na Itália, estourou nesta segunda-feira,28, um novo esquema de manipulação de resultados em jogos de futebol dos Campeonatos Italianos - inclusive da Séria A. Desta vez, 19 pessoas, oito das quais jogadores da Primeira e Segunda Divisões, foram presas por suspeita de formação de quadrilha, estelionato e fraude esportiva.

Entre os envolvidos estão Domenico Criscito, lateral do Zenith São Petersburgo e pré-convocado para a seleção italiana, Stefano Mauri, capitão da Lazio, e o técnico Antonio Conte, campeão da Itália pela Juventus, de Turim.
O escândalo se tornou público por volta de 6h25, quando veículos da polícia judiciária italiana e cinco oficiais de Justiça visitaram o centro de treinamento no qual a seleção da Itália estava reunida, em Coverciano, em Florença. Criscito fazia parte da lista de 32 pré-convocados para a Eurocopa 2012, mas ontem não treinaria. Ele passaria a manhã inteira prestando depoimento.
As prisões fazem parte de investigação gigante realizada pela Justiça italiana sobre a manipulação de resultados de jogos em troca de suborno, esquema que envolveria empresas de apostas e uma quadrilha da Hungria, onde cinco suspeitos foram presos.
De acordo com o jornal La Gazzetta dello Sport, um total de 150 pessoas vêm sendo investigadas pelo suposto envolvimento no esquema. A operação, batizada "Last bet", ou "Última aposta", foi marcada por inspeções realizadas em vários clubes de diferentes cidades da Itália e é promovida em conjunto pelos ministérios públicos de Cremona, Bari e Nápoles.
Desde novembro de 2011, três grandes mandados coletivos de prisão já foram executados pela polícia a pedido da Justiça Desportiva italiana. O "Calcioscommesse", como o novo escândalo vem sendo chamado, teve início na temporada 2010-2011.
Segundo a investigação, Antonio Conte, o então técnico do Siena, equipe da Série B, teria pedido a seus jogadores que facilitassem jogos contra duas equipes, Novare e AlbinoLeffe. O caso envolveria o presidente do Siena. Ambos correm o risco de pena de seis meses de prisão, enquanto o clube pode ser rebaixado.
Treinador da Juventus na temporada 2011-2012, Conte é um dos mais famosos, mas não o único grande nome envolvido no esquema. Além de Stefano Mauri e Domenico Criscito, estão na lista de detidos o artilheiro do Chievo, Sergio Pellissier, Omar Milanetto, do Padova, Cristian Bertani, da Sampdoria, Alessandro Pellicori, ex-Torino, Marco Turati, do Modena,Matteo Gritti, do Petrolul Ploiesti, da Romênia, Paolo Acerbis, do Vicenza, e Ivan Tisci, já aposentado.
O clube mais visado é o Genoa. Por ora, a instituição não é alvo da investigação, mas vários de seus atuais e ex-jogadores estariam implicados.
Há indícios da participação desses atletas em diferentes jogos sob suspeita. Entre as equipes que atuaram - beneficiadas ou prejudicadas pela armação - estão Napoli, Sampdoria, Brescia, Bari, Lecce e Palermo, de acordo com o jornal La Repubblica. Todos os jogos ocorreram entre janeiro e maio do ano passado.
Corte. A repercussão do escândalo na Europa levou o vice-presidente da Federação Italiana de Futebol, Demetrio Albertini, a anunciar ontem à tarde o corte de Criscito, em nome da "exemplaridade" que a Squadra Azzurra deve demonstrar.
Mais constrangedor que o possível envolvimento de um jogador de seleção é o fato de que o escândalo de ontem é só mais um na história recente do futebol da Itália. Desde 1980, as denúncias de manipulações de resultados são recorrentes. Em uma das mais importantes investigações, a Calciopoli, datada de 2006, foi comprovado um esquema de pressões sobre árbitros em benefícios de grandes clubes, como Juventus, Fiorentina e Milan. À época, jogadores como Giuseppe Signori, Cristiano Doni e Andrea Masiello também chegaram a ser presos.
A atual investigação, realizada desde novembro de 2011, já levou a julgamento 22 clubes, e 61 atletas e ex-atletas. Enquanto as agremiações correm o risco de perda de pontos, rebaixamento e multas, o jogadores podem ser suspensos.



Ministério de Segurança Pública chinês combaterá fraude no futebol

 
Pequim, 15 jun (EFE).- O Ministério de Segurança Pública da China anunciou que, junto à Associação Chinesa de Futebol, combaterá as apostas ilegais e a fraude que cercam o futebol, e pediu à população que contribua para desvendar os esquemas.

"A fraude no futebol é uma praga que impede seu desenvolvimento. Acabar com ela é assunto de vida ou morte para nossas ligas", disse à agência oficial "Xinhua" um diretor de futebol que não se identificou.

Segundo a mesma fonte, a Associação Chinesa de Futebol oferecerá grandes recompensas às pessoas que descobrirem esquemas criminosos e estabelecerá um fundo especial para apoiar as investigações policiais.

Em 13 de junho, oito diretores do futebol chinês e jogadores foram presos por sua implicação em um acordo para tentar "comprar" uma partida e seu envolvimento em apostas ilegais há dois anos.

O ex-vice-presidente da associação Nan Yong, e seu predecessor, Xie Yalong, receberam sentenças de prisão de 10 anos e 6 meses.

Segundo Liu Shaowu, responsável da administração de segurança do Ministério, o departamento se encontra em alerta máximo para desvendar as fraudes no futebol enquanto coopera internacionalmente para combater os crimes relacionados.

No atual sistema, a associação organiza as ligas profissionais e supervisiona tudo que é relacionado a elas, o que muitos observadores consideram o principal motivo da corrupção.


Pivôs de fraude na Itália devem perder salários; Conte leva gancho.

08 de Agosto de 2012 07h45 atualizado às 09h31




Antonio Conte deve pegar 10 meses de suspensão Foto:  / Getty Images Antonio Conte deve pegar 10 meses de suspensão
Foto: Getty Images


Jogadores de clubes da primeira divisão do Campeonato Italiano, punidos por ilegalidades esportivas, envolvimento com apostas ou flagrados em exames antidoping, terão o pagamento de seus salários suspensos.
  Esta é a principal novidade da nova convenção coletiva assinada nesta terça-feira entre representantes dos organizadores da competição e a Associação Italiana de Futebol, em Roma, segundo informa o jornal esportivo La Gazzetta dello Sport.
Além desta medida, o convênio que estará em vigor por um ano, reproduz em sua essência o acordo assinado no início da temporada passada, depois que os jogadores fizeram greve e impediram o início da competição.
A decisão de suspender os salários dos jogadores vem à tona quando se espera a decisão da Comissão Disciplinar da Federação Italiana de Futebol sobre alguns dos principais nomes envolvidos no último caso de combinação de resultados no país.
Entre os envolvidos está o atual técnico da Juventus, Antonio Conte, para quem a promotoria da Federação pediu punição de um ano e três meses de suspensão por não informar às autoridades sobre o arranjo de dois resultados, quando era técnico do Siena, quando o clube estava na segunda divisão, na temporada 2010-11.
Também é esperada decisão sobre o destino de Leonardo Bonucci e Simone Pepe, jogadores da seleção italiana, que foram acusados por um duelo entre Bari e Udinese, respectivamente os clubes que os atletas atuavam. Para o primeiro foi pedida suspensão de três anos e seis meses.
Sem citar fontes, o jornal afirma na edição desta quarta-feira que Pepe e Bonucci serão absolvidos, já que a Comissão Disciplinar não estaria considerando confiáveis as declarações do jogador Andrea Masiello, que os denunciou.
Conte, por sua vez, receberia pena de 10 meses de suspensão, segundo a publicação. A punição já valeria para o próximo sábado, quando o treinador não poderia estar a frente da Juventus na partida da Supercopa da Itália, contra o Napoli, em Pequim.
A defesa de Conte tinha proposto que fosse imposta ao treinador uma pena de três meses de suspensão e multa de 200 mil euros (pouco mais que R$ 500 mil). A Comissão Disciplinar não aceitou a oferta de acordo.
O caso de combinação de resultados foi investigado pela procuradoria de Cremona, no ano passado, quando foi descoberta uma rede, com ramificações no exterior, que condicionou ou tentar condicionar placares durante vários meses, em diversas divisões do futebol italiano na temporada 2010-11. Liga Europa
O Terra irá exibir ao vivo via internet para o Brasil todas as partidas da Liga Europa da Uefa nas temporadas de 2012/2013, 2013/2014 e 2014/2015, sendo o único meio de comunicação do País a transmitir ao vivo os 205 jogos da competição. As transmissões serão disponibilizadas em alta definição (HD) e padrão standard, inclusive para tablets e smartphones.

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Fraude no episódio que mudou a face do futebol mundial

Por Irlan Simões, no Outras Palavras

Em 12 de setembro último, o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, fez um pedido de desculpas histórico. Dirigindo-se às famílias das 96 pessoas massacradas no Estádio de Hillsborough, em abril de 1989, numa partida de futebol entre o Liverpool e o Nothingan Forest, reconheceu que os mortos haviam sido vítimas de “dupla injustiça”. Além de perderem a vida, foram acusados, por 23 anos, de pertencerem ao grupo de torcedores do Liverpool que causou a tragédia. Foi uma manipulação grosseira que durou mais de duas décadas, admitiu Cameron, em discurso ao Parlamento e apoiado no relatório final de um painel independente.

No final dos anos 1980, uma pequena parcela dos frequentadores ingleses de estádios – chamados de hooligans – haviam, de fato desenvolvido uma cultura de prazer pelo confronto e violência. Mas a torcida do Liverpool não teve responsabilidade alguma pela chamada Tragédia de Hillsborough. Ela foi provocada pelas condições precárias do estádio (algo comum na época) e por atitudes de clara negligência da polícia. Decisões esdrúxulas, no controle do fluxo de torcedores ao estádio superlotado, favoreceram esmagamentos, pisoteamentos e, ao final, queda do muro que separava as arquibancadas do campo. Não se prestou socorro. Apenas 14, dos 96 mortos (houve, também, 766 feridos) foram atendidos em hospital. Só uma das 44 ambulâncias presentes às imediações de Hillsborough foi autorizada a socorrer as vítimas.
O reconhecimento da verdade deveria impulsionar um passo ainda mais importante. É preciso rever todo o conjunto de políticas e normas que, a partir da tragédia, transformaram a face futebol mundial, convertendo-o num esporte cada vez mais elitizado, afastado de suas raízes sociais e culturais, reduzido à dimensão de produto mercantil e de marketing. Hillsborough e a fraude produzida a seguir foram o marco decisivo desta mudança — que está sendo adotada no Brasil no momento em que você lê este artigo, tendo como pretexto da Copa do Mundo de 2014.
Como Thatcher manipulou a tragédia
A ponte entre o que ocorreu no estádio e a elitização do futebol foi o chamado Relatório Taylor. Chefiado então pela primeira-ministra Margareth Thatcher, um dos personagens-ícones do neoliberalismo, o governo britânico constituiu uma comissão, chefiado por Lorde Taylor de Gosforth, para investigar as causas da tragédia e sugerir providências.
O trabalho de apuração foi manipulado do início ao fim, sabe-se agora oficialmente. Dos 164 relatórios produzidos por policiais presentes ao estádio, 116 foram alterados, para remover “comentários desfavoráveis” à atuação das forças “da ordem”. A omissão das informações foi proposital, segundo admitiu Cameron ao Parlamento. A falsificação teve objetivos claros: responsabilizar pela tragédia a torcida do Liverpool; demonizá-la; abrir caminho para um conjunto radical de transformações que já haviam sido planejadas, mas não eram até então viáveis. Elas incidiram nos estádios, na forma de financiamento dos clubes e na relação entre o jogo e o mundo do marketing. Iniciadas na Inglaterra, repercutiram rapidamente em todo o mundo.
Thatcher aplicou, no futebol, a mesma “mão-de-ferro” com que destruía leis trabalhistas e atacava os sindicatos. Estourou as firms, como eram conhecidos os agrupamentos hooligans, torcedores que já vinham causando problema dentro e fora dos estádios pelo seu prazer pelo confronto físico. Quatro anos antes de Hlilsborough, em partida entre Liverpool e Juventus pela Copa dos Campeões da Europa, 39 torcedores haviam morrido pisoteados e esmagados durante uma briga generalizada, conhecida como Tragédia de Heysel.
Em paralelo, avançava outro processo: a poderosa FIFA iniciara uma reforma no futebol mundial. O avanço das tecnologias de comunicação transformaria o esporte num dos principais “produtos” televisivos do planeta. Foi um movimento marcado pela entrada maciça de atores econômicos que hoje controlam o futebol. O comércio de jogadores não era mais o único espaço de trocas comerciais. O esporte passou a ser um grande conglomerado internacional que envolvia anunciantes, patrocinadores, investidores, atletas-estrelas e, se dependesse do projeto ao qual aderiu Margareth Thatcher: uma competição esportiva de grandes empresas. Estava sendo gestado o futebol-negócio dos dias de hoje.
Para tal projeto, a Tragédia de Hillsborough veio no momento ideal. Desde que devidamente arquitetadas, as argumentações necessárias para a “reforma” estavam dadas: era preciso dar, definitivamente, um novo rumo ao futebol, “civilizá-lo”. Publicado em janeiro de 1990, menos de um ano após o incidente, o relatório final da comissão chefiada por Lord Taylor indicou o caminho.
Embora focado em estabelecer diretrizes para um projeto de segurança, o documento propôs uma série de medidas que traziam novas normas de estruturação dos estádios e do próprio futebol inglês. A capacidade de público foi reduzida. Estabeleceu-se que todos os torcedores deveriam permanecer sentados. Os clubes passaram a ser responsabilizados pelos atos de seus apoiadores – o que gerou uma leva de mudanças e de uma ideologização da suposta “modernização e profissionalização das estruturas”.
O movimento de reforma dos estádios, e de restrições aos torcedores briguentos já estava em curso. A crise que se estendeu após o evento em Hillsborough serviu de catalizador para que o processo avançasse. Porém, os clubes e suas torcidas não tinham estrutura necessária para isso.
Para enfrentar rapidamente o novo desafio, tornaram-se empresas de capital aberto e passaram a ter proprietários. Assim, conseguiram obter a estrutura necessária para desenvolver os estádios que seriam os protótipos das atuais “Arenas Multiuso”: complexos desportivos e verdadeiras zonas de consumo.
Surgiu um efeito colateral imediato: o futebol inglês expulsou, junto com os “violentos”, os torcedores mais pobres, que não tinham a capacidade financeira de arcar com ingressos cada vez mais caros em estádios cada vez menores e mais restritivos.
O projeto neoliberal para o futebol consolidou-se, por fim, com a criação da Premier League em 1992 (a liga de primeira divisão do esporte na Inglaterra), com a definição de novas regras de comercialização dos direitos televisivos, publicidade, patrocínios e jogadores. No fim da década de 2000, todos os clubes desta liga — uma das maiores do futebol profissional no mundo — já pertenciam a multimilionários e bilionários árabes, russos, chineses ou estadunidenses.
O futebol brasileiro também revisará o relatório?
Ainda que o esforço por acabar com violência que tomava os estádios ingleses fosse elogiável, o Relatório Taylor falhou – por miopia ou por má vontade política – em reconhecer que verdadeiras causas da Tragédia de Hillsborough. As péssimas condições do estádio eram consequência dos interesses que cercaram o futebol durante as décadas de sua massificação. Naqueles tempos, importavam quantidades. Convinha aos dirigentes ver estádios superlotados, para ampliar as rendas dos clubes e abarrotar seus próprios bolsos. Pouco importavam as condições de conforto ou segurança dos torcedores.
Na nova fase, consolidada a partir do Relatório Taylor, o modelo de negócio mudou. Não interessava encher as arenas com torcedores que mal podiam pagar ingressos. O novo público precisava ter não apenas um “padrão de comportamento”, mas um “padrão de consumo” que compensasse uma estrutura de tal porte.
A Tragédia de Hillsborough dos tempos de hoje não é mais a superlotação, mas o esvaziamento dos estádios, de onde vão sendo expulsos os antigos torcedores tradicionais. O futebol inglês, apesar de ainda ter a maior média de público do futebol mundial, é o mais caro e menos popular de todas as grandes ligas. O padrão de torcedor está totalmente modificado.
No Brasil, vemos a proliferação das “arenas” com consequente aumento do valor dos ingressos. O resultado é o esvaziamento do campeonato brasileiro – que tem a pior média de público, dentre as dez melhores ligas.
Até o início dos anos 2010, muitos apontaram o exemplo inglês para referendar essa ideologização de um futebol “moderno, profissional e empreendedor”. O próprio Estatuto do Torcedor fazia menção ao Relatório Taylor e ao modelo britânico de “gestão de crises”: Restringiu de múltiplas formas as torcidas organizadas e procurou moldar o comportamento do torcedor comum dentro dos estádios.
A longa luta dos torcedores do Liverpool
A revisão do ocorrido em Hillsborough, e das manipulações que se seguiram, foi possível apenas devido à mobilização da torcida do Liverpool. Ela contestou, ao longo de mais de duas décadas, a versão construída pelo Relatório Taylor. Enfrentou, além de Margareth Thatcher, o sensacionalismo dos tabloides britânicos. O The Sun chegou a publicar “depoimentos” de policiais assegurando não ter ajudado as vítimas porque torcedores, bêbados, não permitiam, urinando em quem tentava socorrê-los.
Aos poucos, a resistência restabeleceu a verdade. Um abaixo-assinado com 140 mil adesões exigiu nova investigação. O painel independente, no qual o primeiro-ministro Cameron agora se apóia, foi formado graças à mobilização. O presidente das investigações, James Jones, reconheceu que o inquérito inicial foi comprometido por “árduas tentativas de colocar a culpa nos torcedores”.
Foram necessários 23 anos de angústia e de mentiras para que as famílias das vítimas de Hillsborough pudessem provar ao mundo que se tratou de negligência e de irresponsabilidade das autoridades inglesas. Foram necessários 23 anos para que elas pudessem provar que seus filhos, e os filhos de tantos outros torcedores criminalizados na Inglaterra, não eram os culpados por aquela tragédia.
Foram necessários 23 anos para que os torcedores expulsos dos estádios – por livre e espontânea pressão do dinheiro, como prega o pensamento neoliberal – pudessem provar que foram injustamente culpados para que um plano premeditado pudesse ser aplicado sem direito de resposta.
Resta saber se, no Brasil, prevalecerão as políticas preconizadas pelo Relatório Taylor, fruto de notória manipulação. Resta saber se prevalecerão a “vontade e a liberdade dos agentes econômicos” ou o bom senso, a democracia e o direito do acesso à cultura e ao futebol pela população empobrecida, já tão excluída nos tempos neoliberais.

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