16/08 – O clima da embaixada que abriga Julian Assange, o criador do Wikileaks
Acompanhamos diretamente de Londres os momentos que sucederam o anúncio do asilo político ao ativista pró-transparência“Não atirem no mensageiro!”, gritavam os manifestantes que protestavam em apoio a Julian Assange, criador do Wikileaks, asilado desde esta quinta-feira (16/08) pelo governo do Equador e abrigado na embaixada do país há quase dois meses. Em frente ao prédio do corpo diplomático, no bairro de Knightsbridge, na valorizada região sudoeste da cidade, curiosos e a imprensa internacional dividiam o palco de uma disputa nada amigável entre o país sul-americano e as autoridades inglesas, que prometem cumprir a ordem de extradição emitida pelo governo da Suécia.
O asilo político foi anunciado na tarde desta quinta-feira pelo ministro de Relações Exteriores equatoriano, Ricardo Patiño, e confirmado em seguida pelo presidente Rafael Correa, que declarou no Twitter: “Ninguém nos atemorizará“. Em seguida, representantes do governo inglês afirmaram que impediriam o voo de Assange ao Equador e que o prenderiam tão logo colocasse os pés para fora do “território neutro”.
O ativista pró-transparência é acusado de dois supostos crimes sexuais que teria cometido em 2010, mas seu maior temor em responder o processo na Suécia é a possibilidade de ser enviado posteriormente para os Estados Unidos, país que tem motivo de sobra para condená-lo por crimes de guerra – para os quais, diga-se de passagem, a pena pode ser até de morte.
O clima: imprensa mundial, mascarados do Anonymous e simpatizantes
Por volta das 14h, antes mesmo do anúncio da decisão do Equador, cerca de vinte policiais armados já cercavam o pequeno prédio de apartamentos que abriga a embaixada equatoriana. Aos poucos, manifestantes usando a máscara do Anonymous e com cartazes de apoio a Assange e ao soldado Bradley Manning – preso na Baía de Guantánamo por vazar mais de 250 mil documentos secretos norte-americanos – começaram a chegar ao local e a gritar palavras de ordem em um megafone.
Os principais meios de comunicação do mundo acompanhavam in loco os desdobramentos do caso, da BBC londrina à rede de TV árabe Al Jazeera.
Pouco depois das 18h, quando um grupo maior de pessoas já se aglomerava, a polícia cercou o local com grades, moveu as pessoas para o outro lado da rua e fechou a via. Muitas pessoas berravam questionamentos ao governo britânico, coisas como “E aí, Inglaterra, vocês vão mesmo quebrar as leis internacionais para defender os Estados Unidos?”. Uma francesa especialmente raivosa repetia sem parar “liberté, liberté, liberté!”, enquanto equatorianos orgulhosos do seu país passavam canos nas grades de proteção e faziam barulho para irritar os já não muito amigáveis defensores da ordem pública.
Entre os curiosos estava o sueco Nicholas Reutersward, que afirmava, sem nenhuma hesitação, que seu país enviará Assange para os Estados Unidos tão logo coloque as mãos nele. “No momento que ele sair, eles [polícia da Inglaterra] vão agarrá-lo e prendê-lo”, apostava. “A Suécia irá enviá-lo para os EUA, sem dúvidas. A influência deles é maior do que qualquer causa ou ideologia. Os norte-americanos não gostam de ser feitos de palhaços”, disse o empresário, que vive em trânsito entre Estolcomo e Londres.
Também por ali, o escritor inglês Dominic Shelmerdine – que foi visitar a mãe nas redondezas e, ao sair para tomar um chá da tarde, topou com a confusão – notava a discrepância entre a movimentação política e a rotina do bairro, um dos mais ricos da capital inglesa e ponto de turismo de compras. A poucos metros da confusão, pessoas saiam da Harrods – caríssima loja de departamentos que ocupa 20 mil metros quadrados – com sacolas repletas de artigos de luxo. “Nenhum inglês tem dinheiro para morar aqui, apenas magnatas russos e árabes”, disse Shelmerdine.
Moradores entravam e saíam do prédio, que tem apenas o primeiro andar ocupado pelo corpo diplomático equatoriano, e por um momento – de tensão – até mesmo os policiais decidiram passar para o lado de dentro – mas, ao que parece, só para conversar. Durante a tarde, a Inglaterra negou que poderia invadir a embaixada, o que causaria uma crise internacional sem precedentes.
Um jornalista brasileiro que cobria as Olimpíadas, Maurício Fernandes, aproveitou sua folga para se atualizar sobre o caso e notou que o ativista e hacker virou uma espécie de “guarda-chuva” para defensores de outras causas, como a Palestina livre ou a soberania irlandesa – pelo menos duas pessoas mostravam símbolos do IRA, exército de libertação irlandês, por diversas vezes acusado de atos terroristas. “Em um impasse desses, alguém tem que ceder. Provavelmente, uma hora ele vai sair daqui, podendo até ser mandando para a Suécia, mas apenas com um acordo de não ser extraditado para os EUA”, opinou o brasileiro.
Ameaçado em sua soberania, o Equador, por meio de seu presidente Rafael Correa, pediu apoio para organizações como Unasul (União das Nações Sul-Americanas) e OEA (Organização dos Estados Americanos), podendo até apelar para o Tribunal de Haia, maior campo de decisões políticas da Organização das Nações Unidas (ONU).
Veja as fotos do local:
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