segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Falando de educação...

Estudante de 13 anos de SC cria página no Facebook para relatar problemas da escola Rafael Targino e Suellen Smosinski
Do UOL, em São Paulo

  • Reprodução/Facebook
    Reprodução da página "Diário de Classe", criada por estudante de 13 anos de Santa Catarina Reprodução da página "Diário de Classe", criada por estudante de 13 anos de Santa Catarina
Uma aluna de 13 anos de Florianópolis criou uma página no Facebook, o "Diário de Classe", que vem mobilizando estudantes e professores para denunciar as condições da escola em que estuda. Inspirada no blog de uma menina inglesa que contava sobre as condições da merenda, Isadora Faber conta os problemas que enfrenta em suas aulas e mostra como está a infraestrutura do prédio.
Entre as postagens, estão fotos com o ventilador quebrado com fios que davam choque, a quadra de esportes sem pintura, vídeos de aulas (ou da falta delas) e comentários sobre a rotina da escola (como quantas aulas foram dadas por professores titulares ou substitutos). Após as postagens, alguns dos problemas da Escola Básica Maria Tomázia Coelho –como uma maçaneta quebrada– foram resolvidos.
Os vídeos são feitos, segundo Isadora, pela irmã mais velha, que foi quem apresentou o blog da menina inglesa a ela.
Até sábado passado (25), a página já havia tido mais de 30 mil acessos só no Brasil. Houve quem acessasse dos EUA, de Portugal e da Argentina.

Represálias

Isadora diz ter sofrido represálias na escola. “Os professores não aprovaram. As merendeiras riam, as pessoas fazem algumas indiretas. Chamaram minha mãe e disseram que eu não podia estar fazendo isso”, contou.
Ao UOL, a mãe de Isadora, Mel Faber, afirmou que a escola pediu para tirar a página do ar. “A gente foi chamado sim, porque a primeira versão da escola foi pra tirar do ar. A Isadora foi ameaçada por professores. A gente [ela e o pai] falou que apoiava”, disse.
No começo, a estudante tinha o apoio de uma amiga. No entanto, os pais da outra aluna pediram que ela parasse de alimentar a página. Isadora, então, ficou sozinha.
“Não é só porque é uma escola pública que não pode ter um ensino de qualidade”, afirmou Isadora. “Todo mundo merece ter o mesmo. Todo mundo no final do mês paga um pouquinho, que vai para as escolas públicas.”

Secretaria

Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis, está marcada para amanhã (28), às 14h, uma reunião entre a secretária de Educação, Sidneya de Oliveira, a diretoria de infraestrutura, a diretoria de ensino fundamental e a diretora da escola para fazer uma checagem do que procede e do que não procede nas postagens do "Diário de Classe". Um posicionamento oficial só será apresentado após a reunião.
Ainda de acordo com a assessoria, a mãe da garota também será convidada para uma conversa com a secretária de Educação e poderá levar a filha, se quiser.

Veja alguns problemas apontados por Isadora na escola em Santa Catarina

Foto 1 de 21 - Segundo Isadora, os problemas começam "na porta da escola" Reprodução/Facebook
 
 
 
 

Escolas de Manaus com quase 2.000 alunos matriculados fecham e ficam abandonadas
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Paula Litaiff
Do UOL, em Manaus
  • Paula Litaiff/UOL
    Banheiro da Escola Municipal Professor Heleno Nogueira dos Santos, localizada na zona leste de Manaus Banheiro da Escola Municipal Professor Heleno Nogueira dos Santos, localizada na zona leste de Manaus
Duas escolas públicas que abrigavam quase 2.000 alunos viraram prédios abandonados no Mauzinho, zona leste de Manaus. A área é conhecida pelos altos índices de criminalidade -- 20 assassinatos foram registrados no bairro nos últimos quatro meses. A qualidade da escola também preocupa: a Escola Municipal Professora Ana Maria de Souza Barros ficou com 2,7 no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) 2011, enquanto a Escola Municipal Professor Heleno Nogueira dos Santos ficou com 3,4 nos anos iniciais (1º a 5º anos).
A média do Brasil nos anos iniciais foi 5,0.
“Aqui, infelizmente, muitas crianças ficam fora da escola e vão aprender com os bandidos a ler, escrever e fazer contas. Tudo isso para melhor servirem os traficantes”, afirmou o policial e professor Marcicley dos Santos Brandão, 41 anos
Desativada pela Semed (Secretaria Municipal de Educação) no início deste ano por sérios problemas na infraestrutura, a Escola Professor Heleno Nogueira funcionava em um prédio alugado. Segundo o Censo Escolar, há 965 estudantes matriculados na unidade.
No banheiro dos alunos, vasos sanitários quebrados e cheios de fezes se juntavam ao que restou do acervo da biblioteca da escola quando a reportagem visitou o local na última sexta-feira (17). Em todos os banheiros havia infiltrações e rachaduras nas paredes. Nas salas de aula, encontram-se restos de carteiras e partes que restaram das lousas. No teto da escola, fios descascados à vista mostram a precariedade da situação.

Veja fotos das escolas que viraram prédios abandonados em Manaus

Foto 1 de 6 - Criança brinca na Escola Municipal Professora Ana Maria de Souza Barros, no bairro Mauzinho, zona leste de Manaus. As aulas na escola foram suspensas porque o local vai passar por manutenção elétrica. Segundo a prefeitura as aulas serão retomadas ainda este ano. Pais reclamam do cheiro forte de esgoto no local Paula Litaiff/UOL
Os alunos, com idade entre 8 e 15 anos, serão transferidos para uma escola em outro bairro, o São José. Segundo os pais dos estudantes, eles gastarão 30 minutos de ônibus para chegar ao novo prédio. “Com toda essa violência, fica perigoso meu filho de dez anos pegar ônibus para estudar em outro bairro. O certo era que reformassem essa escola”, disse o comerciante David Araújo.
 
 

Aulas paradas

Já para os alunos da Escola Ana Maria de Souza Barros, que teve a nota 2,7 no Ideb e tem 1.026 estudantes, foi prometido pela prefeitura que as aulas serão retomadas ainda este ano no mesmo prédio. Atualmente, elas estão suspensas porque o local vai passar por manutenção elétrica. De acordo com a dona de casa Valdete Gomes de Araújo, 40, há mais problemas: caixas de esgotos transbordam dentro do prédio e alunos são obrigados a andar pelo local e respirar o forte odor que exala das fossas.  “Eu reclamei várias vezes sobre esse problema e nada foi feito”, disse.
Apesar dos problemas de infraestrutura e das centenas de alunos fora de sala de aula, não havia ninguém trabalhando na manutenção na escola nos últimos dias. “O local está abandonado. Nem vigilante existe para guardar o prédio”, afirmou a mãe de um dos alunos, a dona de casa Ana Lúcia Carvalho. Em visita ao local, foi possível ver crianças e adolescentes brincando perto das fossas entupidas.

Estímulo negativo

Para o cientista social Nícolas Gonçalves, os problemas de infraestrutura nas escolas da periferia atuam como verdadeiros estimuladores para a evasão escolar e desinteresse pelos estudos. “A vida é difícil em casa com as limitações financeiras e a desestrutura familiar torna o aluno da periferia mais vulnerável à evasão e se a escola não cria ferramentas para atraí-lo e fixá-lo na sala de aula, sempre teremos baixos índices na educação do Brasil”, explicou.
Gonçalves disse ainda que já ficou provado que o aumento da criminalidade entre crianças e adolescentes está ligado diretamente à baixa escolaridade e à falta de oportunidades profissionais. “Sem escola boa, o aluno fica fora de sala de aula e se torna uma presa fácil para traficantes que sempre estão recrutando ‘soldados’ para compor seus grupos”, observou o cientista.

Outro lado

Em nota, a Semed (Secretaria Municipal de Educação) informou que desistiu do prédio onde funcionava a Escola Professor Heleno Nogueira, em março deste ano, por conta das péssimas condições do local e nessa mesma época retirou todo o material que era patrimônio da escola. De acordo com a secretaria, os alunos dessa escola serão transferidos para outra unidade de ensino, na próxima semana.
Quanto à Escola Municipal Professora Ana Maria de Souza Barros, a Semed declarou que realizou um laudo técnico, em junho deste ano, no prédio e chegou à conclusão que a escola precisava de manutenção no sistema elétrico. A secretaria não informou uma data para o reinício das aulas, mas promete que o retorno acontecerá ainda neste semestre.
Ainda segundo a Semed, das 493 escolas da rede municipal em Manaus, sete estão em reforma. O órgão não detalhou quantos alunos estão sem estudar em cada unidade de ensino.

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