Pedófilos não são excomungados, mas eu fui, desabafa padre de Bauru (SP)
Camila Neuman
Do UOL, em São Paulo
Do UOL, em São Paulo
Roberto Francisco Daniel, 48, conhecido como padre Beto, durante entrevista coletiva concedida no sábado (27) em sua casa, em Bauru (SP), na qual anunciou seu afastamento da Igreja Católica
Roberto Francisco Daniel, 48, mais conhecido como padre Beto, diz ver com incoerência sua excomunhão da Igreja Católica, já que sacerdotes que cometeram crimes de pedofilia, entre outros, não receberam a mesma punição.
O religioso que atuava na Diocese de Bauru (329 km de São Paulo) desde 2001 foi excomungado nesta segunda-feira (29) pela igreja, após um vídeo no qual ele se mostra favorável à união entre homossexuais ter sido publicado na internet.
"Foi com bastante indiferença [que recebi a notícia] porque eu já tinha me desligado. Mas, por outro lado, vejo com muita tristeza a incoerência dela [da Igreja], porque nós sabemos de casos que são notórios e públicos de pessoas, padres e bispos que erraram, que cometeram crimes de pedofilia, outros crimes também, que são punidos pela lei penal, mas não são excomungados. E a gente que simplesmente ajudou na reflexão sobre esses temas é excomungado. Vejo uma incoerência muito grande", disse ao UOL.
Impedido de celebrar missas a partir de então, Beto diz que manterá suas ações como teólogo e professor universitário na cidade, mantendo o diálogo sobre assuntos que envolvem a sexualidade.
"Pretendo continuar uma vida religiosa como teólogo. Sou teólogo formado, tenho doutorado e vou continuar contribuindo com a reflexão sobre Deus, sobre o mundo e como eu já comecei sobre a sexualidade humana, sobre o comportamento humano e sua relação com Deus", disse.
Padre Beto nunca foi um padre 'comum'. Com aparência jovial, vista no piercing em uma das orelhas, na tatuagem aparente e na calça jeans e camiseta, ele atraía jovens universitários e católicos não praticantes para as missas bauruenses. Em muitas delas, as mulheres eram maioria. O motivo? A simpatia e os olhos claros do religioso também costumeiramente chamado de 'padre galã'.
Beto repudiou ainda o discurso da igreja que diz que seus atos provocam escândalo.
"Quando ela [a Igreja Católica] fala em atos, isso é muito grave. Não são atos, são reflexões, é uma grande diferença. Tenho uma vida íntegra, dou a cara para bater. Reflito claramente porque não tenho o que esconder. Tudo o que eu faço é da linha da igreja, nunca feri o celibato, sempre levei a vida na moral cristã. Reflito a igreja, mas ela tem que revisar o conceito", diz.
Para ele, falta a Igreja Católica abrir espaço para a reflexão de temas atuais, como o uso de métodos anticoncepcionais.
"É claro que a maioria dos casais da Igreja Católica usa camisinha, faz laqueadura e ninguém fala. É aquela hipocrisia e não se esclarece que temos que ter uma boa educação sexual, planejar nossas famílias. Agora se isso é escandaloso em pleno século 21, eu não sei em que sociedade estou vivendo", diz.
O religioso que atuava na Diocese de Bauru (329 km de São Paulo) desde 2001 foi excomungado nesta segunda-feira (29) pela igreja, após um vídeo no qual ele se mostra favorável à união entre homossexuais ter sido publicado na internet.
Padre Beto conta ter sido recebido ontem pelo bispado da Diocese de Bauru em uma sala que se transformou rapidamente em um tribunal. Lá, ele deveria 'se desculpar pelos crimes contra a igreja', entre os quais o vídeo, que deveria ser retirado do ar.
O combinado, segundo ele, era ir à diocese somente para entregar seu pedido de afastamento, pois não havia aceitado pedir desculpas pelo conteúdo do vídeo. Ao questionar se estava "no banco dos réus", recebeu a afirmativa e, em seguida, abandonou a sala. Depois do episódio, recebeu a notícia da excomunhão."Foi com bastante indiferença [que recebi a notícia] porque eu já tinha me desligado. Mas, por outro lado, vejo com muita tristeza a incoerência dela [da Igreja], porque nós sabemos de casos que são notórios e públicos de pessoas, padres e bispos que erraram, que cometeram crimes de pedofilia, outros crimes também, que são punidos pela lei penal, mas não são excomungados. E a gente que simplesmente ajudou na reflexão sobre esses temas é excomungado. Vejo uma incoerência muito grande", disse ao UOL.
Impedido de celebrar missas a partir de então, Beto diz que manterá suas ações como teólogo e professor universitário na cidade, mantendo o diálogo sobre assuntos que envolvem a sexualidade.
"Pretendo continuar uma vida religiosa como teólogo. Sou teólogo formado, tenho doutorado e vou continuar contribuindo com a reflexão sobre Deus, sobre o mundo e como eu já comecei sobre a sexualidade humana, sobre o comportamento humano e sua relação com Deus", disse.
Padre Beto nunca foi um padre 'comum'. Com aparência jovial, vista no piercing em uma das orelhas, na tatuagem aparente e na calça jeans e camiseta, ele atraía jovens universitários e católicos não praticantes para as missas bauruenses. Em muitas delas, as mulheres eram maioria. O motivo? A simpatia e os olhos claros do religioso também costumeiramente chamado de 'padre galã'.
Beto repudiou ainda o discurso da igreja que diz que seus atos provocam escândalo.
"Quando ela [a Igreja Católica] fala em atos, isso é muito grave. Não são atos, são reflexões, é uma grande diferença. Tenho uma vida íntegra, dou a cara para bater. Reflito claramente porque não tenho o que esconder. Tudo o que eu faço é da linha da igreja, nunca feri o celibato, sempre levei a vida na moral cristã. Reflito a igreja, mas ela tem que revisar o conceito", diz.
Para ele, falta a Igreja Católica abrir espaço para a reflexão de temas atuais, como o uso de métodos anticoncepcionais.
"É claro que a maioria dos casais da Igreja Católica usa camisinha, faz laqueadura e ninguém fala. É aquela hipocrisia e não se esclarece que temos que ter uma boa educação sexual, planejar nossas famílias. Agora se isso é escandaloso em pleno século 21, eu não sei em que sociedade estou vivendo", diz.
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