sábado, 17 de agosto de 2013

Modelo Fora do Eixo tornou-se oportunidade de negócios e de lucros



O movimento circuito Fora do Eixo foi inventado em 2005 pelo publicitário cuiabano Pablo Capilé como um coletivo de gestores da produ­ção cultural. O “motivo principal” foi uma “rebelião” contra o eixo, formado por São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, e a principal proposta, no início, era revelar no­vos valores culturais “independentes” em cidades como Cuiabá, Goiânia, Rio Branco, Macapá e Londrina. Foi adotado o modelo de “coletivos”, uma forma de organização sem patrões nem empregados. Dessa maneira, como um foguete, conseguiu apoio do Ministério da Cultura, durante a gestão de Gilberto Gil, estendida pelos que vieram depois, tendo uma queda com a atual ministra, Ana de Hollanda. O Fora do Eixo também buscou apoio em algumas empresas privadas ligadas aos circuitos culturais e digitais das cidades alvos.
Hoje o FDE produz 180 festivais anuais com cerca de dois mil participantes, cinco mil shows, sendo que os festivais são realizados através de editais de patrocínios públicos federais (Petrobrás), estaduais e municipais. Mas, e se essa fonte secar? O que vão fazer essas bandas e artistas se, por algum motivo – e ai é só ver o que rolou com as ONGs no caso do Ministério dos Esportes-, essas verbas diminuírem ou mesmo terminarem. O que ficará de bom em termos de estrutura real para o desenvolvimento de um mercado auto-sustentável?  O que as bandas e artistas conseguiram construir para seguir com seus próprios pés sem depender de uma entidade, o FDE, que tem hoje uma sede em São Paulo onde o aluguel não deve ser barato? O fato é que essa empreitada de Capilé e Fabrício Nobre (ex-presidente da Abrafin – Associação Brasileira de Festivais Independentes), sob o manto de vender uma imagem progressista, libertária e quase onipotente, construiu uma relação patriarcal  com os artistas. O aspecto de esse modelo ter amarrado as bandas em uma pseudo independência, criando uma cena que na verdade esconde interesses empreendedores e econômicos pessoais, acaba sendo prejudicial à cultura e enriquece ($$$) seus “progressistas” idealizadores. O Fora do Eixo tornou-se oportunidade de negócios, patrocínios e grana para esses gestores culturais. Vale lembrar que, muitas bandas gerenciam suas carreiras sozinhas, por entenderem que o modelo proposto por Capilé e sua turma é nocivo e soturno.

Admitir, ou dizer que é bom que uma banda iniciante toque de graça em troca de exposição até dá para aceitar, com ressalvas. E esse é um dos argumentos mais defendidos por Capilé em suas entrevistas e manifestos. Porém, não pagar todas as despesas de músicos, sumir com CDS e desligar o telefone na cara de um artista quando ele os pede [os CDS] de volta, como fez Fabrício Nobre como guitarrista paulistano Xando Zupo, é típico de atitudes mafiosas. E mais. O alinhamento desse pessoal com o PT dá um viés político nefasto a uma entidade já muito contestada pela mídia sem rabo preso. Há quem aposte que Capilé logo mais estará em algum cargo público se refestelando das benesses conseguidas por intermédio do mundo da cultura e das artes. Já ouvi (de fonte de Cuiabá) que o Nobre está rico. Que merda, diria Tom Zé. Dessa forma, o escopo de gestão cultural é transformado em política de lucro pelo ativismo e justificado, depois, com um discur­so raivoso e antiquado, quando contestado. Mas, bem alinhado ao cerne da questão, a gestão, o modelo, tortos e desvirtuados de difusão cultural, transmutou-se em exploração do trabalho de jovens músicos. Apesar de que, muitos deles (essencialmente os fora do eixo), apadrinhados e bem protegidos por esse sistema, possuírem privilégios nítidos, participando do line-up de quase todos os Festivais importantes e amealhando os melhores cachês e as condições mais doces. O Fora do Eixo e seus comandantes são os reis do neoliberalismo cultural sinistro. Resta saber, o que permanecerá no futuro

Link:

http://dynamite.com.br/jukebox/category/denuncia/

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