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Por Ucho Haddad
Hora da verdade – A tropa de choque do PT tenta, sem sucesso, desqualificar o livro do delegado Romeu Tuma Júnior e do jornalista Claudio Julio Tognolli, mas, como noticiou o ucho.info na edição de segunda-feira (9), o depoimento do doleiro Antônio de Oliveira Claramunt, oToninho da Barcelona, à CPI dos Correios, em 2005, ajuda a compreender o imbróglio das contas bancárias de petistas em paraísos fiscais.
O dinheiro que passou por essas contas e também era trocado em casas de câmbio tinha como origem a cobrança de propinas em cidades administradas pelo PT: Santo André, Campinas, Ribeirão Preto, São Paulo, Recife e Porto Alegre. O volume de recursos ilegais cresceu a partir de 2003 com operações nada ortodoxas nos fundos de pensão vinculados às estatais. A dinheirama sem procedência era esquentada com notas fiscais frias de empresas ligadas aos doleiros.
As notas serviam para as empresas que pagavam propina ao PT justificarem “legalmente” a saída do montante. Sempre arrecadado em espécie, o dinheiro era depositado por Delúbio Soares, então tesoureiro do PT, em contas bancárias abertas em nome de laranjas, sempre vinculados aos doleiros que participavam do esquema. Na sequência os doleiros providenciavam ordens de pagamento no exterior. Para atender a volúpia bandoleira do grupo, os doleiros criaram um caminho só para a legenda. Duas empresas off-shore – Lisco Overseas e Miro Ltd. – eram usadas para enviar dinheiro para contas numeradas nos bancos JP Morgan e Citibank, em Nova York.
O passo seguinte era transferir o valor da transação para uma conta corrente em nome off-shore Naston Incorporation Ltd., com sede nas Ilhas Virgens Britânicas e que era controlada por dois doleiros: Claramunt (Toninho da Barcelona) e Alberto Youssef, o Beto, que durante anos operou para o xeique do Mensalão do PT, o finado deputado José Janene.
Da Naston, off-shore dos doleiros Claramunt e Youssef, os dólares ilegais do partido moralista seguiam para duas contas numeradas (60.356356086 e 60.356356199) do Trade Link Bank, instituição financeira internacional do agora liquidado Banco Rural no paraíso fiscal das Ilhas Cayman. De acordo com o doleiro Toninho da Barcelona, as duas contas eram gerenciadas por “duas distintas pessoas”: Felipe Belizario Wermusdit, de passaporte francês, e Felipe Belizario Wermus, de passaporte argentino. Ambas são Luis Favre, ex-marido de Marta Suplicy.
A conta operada pelo Belizario francês enviava dólares para o Trade Link Bank, enquanto a gerenciada pelo Belizario argentino enviava dinheiro para a conta Empire State Scorpus, no paraíso fiscal de Luxemburgo. A conta Empire State tinha uma subconta no Panamá, que passava pela offshore OBCH Ltda, cuja administração foi creditada a um cubano naturalizado panamenho de nome Aníbal Contreras, amigo do agora presidiário José Dirceu de Oliveira e Silva. Coincidência ou não, a empresa off-shore controladora do Hotel St. Peter, em Brasília, que ofereceu a José Dirceu um emprego de gerente administrativo com salário mensal de R$ 20 mil, tinha até a última semana um humilde panamenho como presidente.
De acordo com Barcelona, o PT trocava em média US$ 50 mil cada vez. As transações eram realizadas no gabinete do petista Devanir Ribeiro, à época vereador e homem de confiança de Lula. (amigo de Lula dos tempos do ABC, hoje deputado federal e autor da tese do terceiro mandato) e integram outro braço do esquema petista.
O doleiro afirmou que o partido mantinha, em espécie, grande quantidade de dólares, normalmente guardados em malas e cofres, e que eram trocados por reais de acordo com a necessidade. No início de 2002, declarou Barcelona, as trocas de dólares por reais eram esporádicas e aconteciam a cada duas semanas. Na metade do mesmo ano, as trocas de dólares alcançaram um ritmo acelerado. Tornaram-se diárias e chegavam a totalizar R$ 500 mil por semana.
Apesar de todo esse emaranhando de provas, que só não empurraram as investigações porque suspeita-se que Barcelona tenha feito um acordo com o PT, a tropa de choque do partido insiste em desqualificar o livro de Tuma e Tognolli, como se não existissem documentos capazes de mandar mais uma dúzia de “companheiros” para atrás das grades.
O PT costuma detonar aliados sem se preocupar com as consequências. Tuma resolveu abrir o baú e revelar o que sabe. A brincadeira está apenas começando e há detalhes não revelados que podem comprometer ainda mais a situação do partido que chegou ao Palácio do Planalto na esteira do discurso da moralidade, da ética e do combate à corrupção. Mas só discurso, como já sabem os brasileiros.
Ucho Haddad é Jornalista. Editor do Ucho.info
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