O Brasil corre sérios riscos de perder nos próximos anos uma das maiores forças motrizes da economia: o forte desempenho do mercado de trabalho, com emprego e renda em alta.
Isso porque a economia ainda continua patinando e, sem uma recuperação mais robusta daqui para frente, segundo avaliações de especialistas, empresários e fontes do próprio governo ouvidas pela Reuters, o mercado de trabalho perderá dinamismo e reduzirá a oferta de vagas em 2013 e 2014.
Segundo uma fonte do governo, que pediu anonimato, os sinais de exaustão ficarão mais evidentes no final deste ano, persistindo nos primeiros meses do próximo ano em resposta à dificuldade de recuperação da economia. No acumulado deste ano até novembro, a geração de emprego formal caiu quase 45 por cento em relação a igual período de 2011.
Uma das maiores preocupações do governo neste momento, segundo relatou a fonte, são os riscos de demissões em segmentos intensivos em mão de obra, como o de serviços, mesmo após uma série de estímulos dada ao setor produtivo em geral.
"Esperamos que não avancem as demissões que se anunciam no setor financeiro, que são elevadas", comentou a fonte citando as dispensas anunciadas pelo Santander. No início de dezembro, o banco espanhol havia comunicado a dispensa de mil trabalhadores no Brasil.
A presidente Dilma herdou um mercado de trabalho robusto, que encarou bem as consequências dos períodos mais tensos da crise financeira internacional em 2008 e 2009. Em 2010 foram criadas 2,136 milhões de vagas com carteira assinada, um recorde. Em 2011, justamente quando a presidente assumiu o comando, a oferta caiu quase 27 por cento, para 1,566 milhão de postos.
Em 2012, com a atividade perdendo ainda mais fôlego, a abertura de vagas desacelerou, sendo que a previsão do Ministério do Trabalho é da abertura líquida de 1,4 milhão de empregos formais.
Apesar de menor, a geração de emprego ainda pode ser considerada boa, capaz de segurar a taxa de desemprego em níveis baixos, com renda em alta. Em outubro, o desemprego ficou na mínima histórica de 5,3 por cento e o rendimento registrou alta de 4,6 por cento na comparação com igual mês de 2011.
Temores
Mesmo com a recuperação econômica esperada para os próximos anos, o temor é que o mercado de trabalho reaja com defasagem em 2013 e 2014 ao esfriamento da atividade vindo antes.
Isso porque, mesmo com o forte esfriamento da atividade, as empresas evitaram dispensar trabalhadores em 2012 para não arcarem com custos de demissão e, posteriormente, de admissão quando a economia reagisse, avaliou o diretor-técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), Clemente Ganz.
O outro lado dessa moeda, ressaltou ele, é que as empresas estão com suas equipes completas e não deverão reforçar os quadros nos anos seguintes com contratações maciças.
"O mercado de trabalho não perdeu postos neste momento de crescimento baixo porque as empresas estão segurando a capacidade ociosa", disse ele, acrescentando que, no próximo ano, a taxa de ocupação deve crescer entre 2,5 e 3 por cento, abaixo do avanço esperado para o Produto Interno Bruto (PIB), entre 3 e 4,5 por cento.
Entre janeiro e outubro, a taxa de ocupação do país aumentou 2,6 por cento ante igual período do ano passado. "A taxa de ocupação vai continuar crescendo, mas talvez menos do que em 2012 porque as empresas estão sem necessidade de recompor mão de obra", explica Ganz.
Dificuldade de reação
Além de vários segmentos produtivos estarem com quadros completos, como os dentro da indústria, alguns economistas apostam na dificuldade de reação da economia, estimativa que, se confirmada, restringirá a abertura de postos.
"Meu cenário para os próximos dois anos é pessimista. Para 2013 vejo a economia crescendo 2,5 por cento e acredito que, com esse ritmo, a taxa de desemprego vai aumentar. Vai começar lentamente porque não existe um grande desastre", comenta o professor da PUC-Rio e consultor da Opus Gestão, José Márcio Camargo.
Entre os industriais, a avaliação é que o vigor do mercado de trabalho não deverá se manter devido aos altos custos da mão de obra e do encarecimento das contratações no momento em que os produtos brasileiros enfrentam forte concorrência no mercado interno e externo.
O gerente-executivo de Relações do Trabalho da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Emerson Casali, chama atenção para a baixa produtividade do fator trabalho. "Desde 2000, a produtividade do trabalhador cresceu 3,7 por cento. Nesse período, o custo do trabalho subiu 101,2 por cento", disse citando, entre os fatores, os aumentos salariais dos últimos 12 anos.
Para Casali, se os custos diretos e indiretos associados ao emprego formal não forem atacados, ele não descarta a possibilidade de a presidente Dilma Rousseff chegar ao fim de seu governo com o mercado de trabalho com desempenho francamente ruim.
Carlos Henrique Corseul, responsável pelo boletim sobre mercado de trabalho do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), vinculado à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, reforça a importância da retomada da economia.
"Há um paradoxo. O ritmo de queda do emprego é muito menor que o da produção", disse. "Se a economia se recuperar, são maiores as chances de o mercado de trabalho continuar dinâmico, caso contrário, tende a perder dinamismo."
(A Reuters publica uma série de matérias especiais sobre as perspectivas para o Brasil em 2013 e 2014)
(Edição de Patrícia Duarte e Alexandre Caverni)