quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Lula diz que depoimento de Marcos Valério é 'mentira'

RODRIGO VIZEU
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS
BERNARDO MELLO FRANCO
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou como mentirosas as afirmações do empresário Marcos Valério à Procuradoria-Geral da República.
Segundo reportagem de "O Estado de S. Paulo", Valério disse, em depoimento dado em setembro, que foi responsável por pagar despesas pessoais do ex-presidente em 2003, por meio de depósitos na conta de uma empresa de Freud Godoy, ex-assessor particular de Lula. O empresário também afirmou que Lula deu aval, pessoalmente, aos empréstimos usados para abastecer o esquema do mensalão.
"Eu não posso acreditar em mentira, eu não posso responder mentira", disse Lula na saída do primeiro dia de seminário organizado por seu instituto e a Fondation Jean-Jaurès, ligada ao Partido Socialista francês, em Paris.
Ricardo Stuckert/Divulgação/Instituto Lula
Dilma e Lula em evento em Paris nesta terça-feira
Dilma e Lula em evento em Paris nesta terça-feira

Rodeado de assessores e seguranças, o ex-presidente, que tem evitado falar com a imprensa, deixou rapidamente o local. Questionado se poderia responder mais perguntas sobre o caso, afirmou: "hoje, nem duas".
Na noite desta terça-feira (11), Lula participará de jantar oferecido pelo presidente da França, François Hollande, à presidente Dilma Rousseff no Palácio do Eliseu.
Ao longo do dia, o ex-presidente se reuniu reservadamente com membros de seu instituto e com convidados do seminário, e, à tarde, acompanhou discursos de Dilma e Hollande no evento, além de outros convidados.
No julgamento do mensalão pelo STF (Supremo Tribunal Federal), Valério foi condenado a 40 anos, 4 meses e 6 dias de prisão, além do pagamento de R$ 2,7 milhões em multa.
ALIADOS
Aliados de Lula também trataram o depoimento de Valério como uma "mentira".
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), classificou de "profunda inverdade" as acusações. "A pessoa que disse não tem autoridade para falar mal do presidente Lula, que é um patrimônio da história deste país", disse o presidente do Senado.
O presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS), afirmou que não há necessidade de se investigar o suposto envolvimento do ex-presidente Lula.
"Não é uma afirmação que mereça crédito, mereça consideração ou sequer investigação, eu acho que deve ser mandada para arquivo porque não merece, efetivamente, nenhum tipo de consideração", disse Marco Maia.
Em nota, o PT classificou como "sucessão de mentiras envelhecidas" o depoimento de Valério. "Trata-se de uma sucessão de mentiras envelhecidas, todas elas já claramente desmentidas. É lamentável que denúncias sem nenhuma base na realidade sejam tratadas com seriedade.
Valério ataca pessoas honradas e cria situações que nunca existiram, pondo-se a serviço do processo de criminalização movido por setores da mídia e do Ministério Público contra o PT e seus dirigentes", diz o texto assinado pelo presidente da legenda, Rui Falcão.
STF E OPOSIÇÃO
Presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) e relator do processo do mensalão, o ministro Joaquim Barbosa defendeu que o Ministério Público Federal investigue o suposto envolvimento do ex-presidente Lula.
Sem dar detalhes do conteúdo, Barbosa disse que teve "conhecimento oficioso" (fora dos autos) do novo depoimento prestado por Valério.
Questionado se o Ministério Público deve abrir inquérito para apurar o envolvimento do ex-presidente, Barbosa concordou: "Eu creio que sim".
Já a bancada do PSDB no Senado decidiu apresentar requerimento na Comissão de Constituição e Justiça para convocar Valério.
Ao comentar sobre o caso, o delator do caso do mensalão, o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, disse que delação premiada "é coisa de canalha".
"Delação premiada para salvar o próprio coro é coisa de canalha", escreveu em seu blog pessoal.
Jefferson também diz que a declaração de Valério "não parece crível" e que o empresário, também condenado no mensalão, está "magoado".


Cúpula do PT prepara estratégia para impedir depoimento de Valério
ERICH DECAT

Integrantes da cúpula do PT na Câmara dos Deputados já preparam estratégia para impedir a ida do empresário Marco Valério à Casa para prestar esclarecimentos sobre o suposto envolvimento do ex-presidente Lula com o esquema do mensalão operado pelo empresário.
Valério afirmou à Procuradoria-Geral da República que pagou despesas pessoais de Lula em 2003, por meio de depósitos na conta de uma empresa do ex-assessor pessoal de Lula, Freud Godoy, segundo revelou o jornal "O Estado de S. Paulo".
O líder do PSDB na Casa, Bruno Araújo (PE), informou no início da tarde desta terça-feira (11) que irá apresentar requerimentos em comissões técnicas para que Valério apresente e detalhe as informações que prestou no Ministério Público Federal.
Segundo o líder do PT, Jilmar Tatto (SP), o partido vai trabalhar para derrubar todos os requerimentos. A mesma estratégia foi adotada na semana passada quando todos os requerimentos convidando os servidores citados na Operação Porto Seguro foram derrotados nas comissões temáticas da Câmara.
"Se depender de nós do PT, de jeito nenhum. Não tem o porquê. O Marco Valério tem que estar preocupado com as condições da cadeia e não vir aqui prestar depoimento", disse Tatto.
O petista se referia ao fato de que o empresário foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do mensalão a 40 anos, 4 meses e 6 dias de prisão, além do pagamento de R$ 2,7 milhões em multa. Além de Valério também foram condenados o ex-presidente do PT José Genoino e o ex-ministro José Dirceu.
Tatto desclassificou ainda o depoimento de Valério ao Ministério Público Federal.
"Quem faz esse tipo de depoimento depois de anos é porque é uma medida de desespero e não tem mais credibilidade, se é que teve um dia, para poder falar do presidente Lula."
Ainda de acordo com a reportagem, Valério também relatou que Lula avalizou pessoalmente, em encontro no seu gabinete, no Palácio do Planalto, os empréstimos contraídos junto ao Banco Rural para alimentar o esquema de compra de apoio parlamentar. Segundo Valério, suas despesas com advogado são pagas pelo PT.
Ao longo de mais de quatro meses de julgamento, o STF definiu que o mensalão foi um esquema de desvio de recursos públicos e empréstimos fictícios para a compra de apoio de político no Congresso no início do governo Lula (2003-2010).
As falas de Valério foram recebidas com cautela pelo Ministério Público Federal, uma vez que a declaração poderia ser uma movimentação para se livrar da condenação.
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, já chegou a chamar o empresário de "jogador".

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