Com reforma do Judiciário, Kirchner quer 'controle total', diz oposição
Atualizado em 11 de abril, 2013 - 06:35 (Brasília) 09:35 GMT
A proposta da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, para reformar o Judiciário foi duramente criticada pela oposição e especialistas em Direito.
Na última segunda-feira, a presidente anunciou um pacote de seis projetos de lei para "democratizar a justiça", e na quarta-feira, em protesto, a oposição não compareceu ao primeiro debate das medidas no Congresso Nacional.As declarações dos opositores, em um dos salões do Congresso, foram transmitidas ao vivo por algumas emissoras de televisão. Sem a oposição, em poucas horas a bancada governista, reunida na Frente para a Vitória (FPV), apoiou as primeiras medidas que deverão começar a ser votadas na próxima quarta-feira, no plenário, segundo a imprensa local.
"Reforma 'Express'", escreveu o jornal Clarin - crítico do governo - em sua edição online.
Os projetos de lei incluem a reforma no chamado Conselho da Magistratura, responsável pela seleção e controle dos juízes, cujos integrantes passariam a ser eleitos por voto popular.
O pacote prevê ainda a criação de três novas câmaras de cassação judicial e a imposição de limites para recursos, como os que têm sido usados pelo grupo Clarín para reagir à chamada Lei de Audiovisual (que restringe a participação de empresas no setor de mídia).
Democracia e Justiça
O ministro da Justiça, Julio Alak, justificou o pacote de reforma do Judiciário dizendo que ele contribuirá para fortalecer a democracia no país."Queremos ter um Judiciário mais eficiente, que resolva os litígios com maior rapidez e as questões de que os cidadãos comuns reclamam diariamente", afirmou o ministro diante das câmeras de televisão. "A conquista da democracia nunca foi fácil em nenhum país da América Latina, incluindo a Argentina".
A ideia foi rejeitada pelo especialista em Constituição Daniel Sabsay. "A reforma não contribui para a democracia. Ao contrário, aumentará o peso do governo nas decisões (da Justiça)", disse, à rádio Mitre.
"Ao criar novas instâncias, o governo estará reduzindo o papel da Suprema Corte, que tem atuado com grande independência. Além disso, o voto popular (que elegerá o novo Conselho da Magistratura) não parece que será transparente, já que os nomes dos candidatos acabará saindo em uma lista comum com candidatos a legisladores."
Polêmicas
A reforma vem se somar a outros temas que têm gerado divergências entre governo e oposição, a começar pelo debate sobre as contestadas medições de índices de inflação e de preços.O governo passou a multar economistas que divulgam dados paralelos do indicador, e parlamentares da oposição passaram a informar o número mensalmente. O percentual paralelo costuma ser até mais de duas vezes maior que o oficial, do INDEC (equivalente ao IBGE).
A polêmica em torno da reforma do Judiciário surge também quando o governo aplica medidas para tentar conter a inflação, como o congelamento de preços dos combustíveis durante seis meses. "Congelaram preços dos alimentos e agora congelam preços dos combustíveis. Já vimos medida assim na Argentina. Só servirão para gerar mais inflação", afirmou o ex-ministro da Economia, Martín Lousteau.
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