quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Refutando o evangelismo anti-Israel

Gerald McDermott confronta uma tendência preocupante

Mark Tooley
Nota importante: O responsável pela conferência “Christ at the Checkpoint” esteve no Brasil em maio deste ano. Clique aqui para ler tudo sobre esta denúncia grave.
O ativismo anti-Israel nos círculos protestantes dos EUA aumentou em anos recentes, principalmente entre algumas elites evangélicas. As elites das principais denominações protestantes são contra Israel há décadas. No ano passado, importantes líderes de várias denominações protestantes históricas exortaram o Congresso dos EUA a reconsiderar sua ajuda militar a Israel, levando organizações judaicas a cancelar seu diálogo com as igrejas protestantes. O que tem maior importância política são as pressões feitas para mudar os evangélicos, afastando-os de sua afinidade historicamente forte para com Israel.
Em anos recentes, evangélicos anti-Israel têm realizado uma conferência chamada “Christ at the Checkpoint” (Cristo no Posto de Controle) em Belém apresentando alguns proeminentes evangélicos dos EUA. A conferência do ano passado incluiu o evangelista Tony Campolo, conselheiro espiritual do presidente Bill Clinton, e Joel Hunter, pastor de uma mega-igreja na Flórida e conselheiro espiritual do presidente Barack Obama. A próxima conferência “Christ at the Checkpoint” apresentará Geoff Tunnicliffe, presidente da Aliança Evangélica Mundial. Haverá também um pastor de Dallas, dos batistas do Sul dos EUA, apesar de que sua denominação apoia fortemente Israel. Outro palestrante será Gary Burge da Faculdade Wheaton, um proeminente escritor que sempre critica Israel. Burge é professor numa das mais prestigiosas faculdades evangélicas dos EUA. O sentimento anti-Israel entre as elites evangélicas é mais forte nos meios acadêmicos e em organizações de assistência e missões.
Em novembro a Aliança para Batistas, uma denominação batista esquerdista, realizará a conferência “Waging Peace and Justice in Palestine” (Lutando por Paz e Justiça na Palestina) em Washington, D.C. numa proeminente Igreja Batista do Calvário, que o presidente Obama tem frequentado. O palestrante de destaque será um pastor luterano palestino que em 2009 apoiou o manifesto cristão anti-Israel “Kairos Palestine: A Moment of Truth” (Kairos Palestina: Momento da Verdade), que organizações protestantes do Ocidente muitas vezes citam.
E em dezembro, a organização Evangélicos pela Ação Social (Evangelicals for Social Action, ou ESA) realizará na Filadélfia um evento semelhante, mas muito maior, de defesa da causa palestina chamado “Impact Holy Land” (Provoque Impacto na Terra Santa), apresentando proeminentes clérigos palestinos e evangélicos dos EUA. ESA é agora co-presidida pelo acadêmico pentecostal Paul Alexander, que ajudou a promover a Sociedade de Estudos Pentecostais numa direção mais pró-Palestina numa reunião de 2012 na Universidade Regent de Pat Robertson.
O ativismo anti-Israel nas principais denominações protestantes é muitas vezes motivado pela Teologia da Libertação, que persiste em sobreviver nessas denominações. Para os evangélicos, a preocupação é com os cristãos palestinos, esperança de relações melhores com os muçulmanos, pacifismo neo-anabatista desapontado com a força militar israelense e desilusão com o forte apoio que a velha Direita Evangélica dá a Israel.
Respondendo a essas tendências, o teólogo anglicano Gerald McDermott da Faculdade Roanoke na Virgínia recentemente defendeu o apoio cristão a Israel diante de uma audiência em grande parte esquerdista na reunião do Conselho Internacional de Cristãos e Judeus em Chicago, recebendo uma resposta mista. Seus argumentos são dignos de uma audiência maior.
As críticas aos evangélicos pró-Israel são principalmente que a motivação deles está numa teologia dos tempos finais, polêmica até mesmo entre cristãos conservadores. McDermott ofereceu argumentos históricos e pragmáticos mais amplos para a amizade cristã com Israel.
McDermott citou o infame artigo de 2006 no London Review of Books escrito pelos especialistas acadêmicos de política externa John Mearsheimer e Stephen Walt que alegam que um “lobby pró-Israel” manipula a política externa dos EUA e que está “longe do que os interesses nacionais sugeririam.” Ele também mencionou a necessidade de compreendermos mais profundamente o sionismo cristão, que tem raízes na religião civil americana. O sionismo cristão que em grande parte é criticado e caricaturado se originou no dispensacionalismo pré-milenista do século XIX fundado pelo pastor inglês John Nelson Darby e popularizado pelo comentarista bíblico Cyrus Scofield. Esse dispensacionalismo sustentava que os judeus por direito retornariam à sua pátria antes da volta de Cristo.
Os modernos seguidores de Darby incluem Jerry Falwell, Tim LaHaye, Hal Lindsey e John Hagee. McDermott comenta que os críticos se queixam de que essa espécie de sionismo tende a “ignorar as legítimas necessidades dos palestinos, a apoiar Israel no certo ou errado e até mesmo pensar que Israel não pode errar, a ver o conflito do Oriente Médio em termos religiosos e a ignorar os cristãos nativos da região — ambos judeus e árabes.”
O interesse dos cristãos num retorno dos judeus a Sião realmente vem de antes de Darby, relembrou McDermott. Esse interesse vem principalmente dos puritanos da Inglaterra e dos EUA no século XVII. Jonathan Edwards, teólogo e filósofo americano do século XVIII sobre o qual McDermott escreveu cinco livros, abraçava essa perspectiva. O amor que os primeiros calvinistas dos EUA tinham pelos judeus realmente vacinou os Estados Unidos contra as formas mais venenosas do antissemitismo da Europa, McDermott sugeriu. Esse amor aos judeus era impulsionado em grande parte por cristãos que notaram que o Antigo Testamento se refere à “terra” 2.500 vezes, que no centro da aliança de Deus com Israel está a promessa dessa terra, e que a volta dos judeus à terra nos últimos dois séculos é um cumprimento parcial de profecias bíblicas.
Nesse meio tempo, o amor protestante aos judeus na Inglaterra do século XIX estimulou o sionismo cristão a levar à Declaração de Balfour em 1917 que afirmava apoio a um Estado judaico. Alguns sionistas ingleses desenvolveram a teoria de que Deus julga as nações pelo modo como elas tratam os judeus, contrastando a Espanha, que expulsou os judeus em 1492 e entrou em decadência máxima, com a Inglaterra, que obteve crescente glória depois que Comunidade Puritana sob Oliver Cromwell convidou os judeus a voltarem depois de quatro séculos.
Na mente desses sionistas cristãos estava a promessa divina a Abraão em Gênesis 12:3: “E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra.” (Gênesis 12:3 ACF)
Alguns sionistas cristãos americanos hoje, tais como Richard Land, proeminente líder dos batistas do Sul, também comumente citam essa passagem.
Os evangélicos do século XX se alegraram com a criação de Israel em 1947 enquanto os protestantes esquerdistas eram muitas vezes mais ambivalentes. As afirmações de católicos e protestantes liberais sobre a aliança espiritual eterna de Deus com os judeus tipicamente omitem toda conexão à terra de Israel, que muitos parceiros inter-religiosos “acreditam que é uma manifestação indispensável da aliança.”
McDermott tratou de como os cristãos devem ver a ocupação da Margem Ocidental, que os protestantes esquerdistas e alguns evangélicos não sionistas rotineiramente denunciam. Ele disse que a “acusação de ocupação ilegal precisa… se rejeitada” porque “Israel tem feito esforços repetidos para cumprir as estipulações da ONU para os territórios, enquanto seus vizinhos árabes não.” E ele citou a disposição de Israel no Acordo de Oslo de 1993 de ceder 92 por cento da Margem Ocidental, o que os palestinos rejeitaram, como o exemplo mais recente. McDermott comentou que os judeus têm habitado a antiga Samaria (a Margem Ocidental) por mais de 3.000 anos, enquanto muitos antissionistas exigem uma Margem Ocidental livre de judeus como requisito para a paz. “Qual outro país tem sido obrigado a entregar terra que ganhou numa guerra defensiva?” perguntou ele. “Os alemães desalojados de Königsberg clamam e se manifestam para que a cidade alemã lhes seja retornada pelos russos vitoriosos?”
Hoje a maioria dos sionistas cristãos “geralmente acha que precisamos de mais humildade ao criticar os israelenses pelo modo como tratam os palestinos — particularmente quando a muito criticada cerca (mais popularmente conhecida como “a muralha”) praticamente eliminou os suicídios de homens-bombas que ocorriam toda semana,” disse McDermott. “Eles ficam pensando qual seria nossa reação se sofrêssemos, regularmente durante vários anos, uma sucessão de ataques como o ataque terrorista de 11 de setembro de 2001, num país do tamanho do pequeno estado de Nova Jérsei ou quase vinte vezes menor do que a Alemanha, onde praticamente todo mundo conhece alguém que foi morto ou mutilado.” Eles também notam que os críticos de Israel hipocritamente condenam Israel por alegados abusos de direitos humanos, mas tipicamente ignoram o Irã, a Síria, a China, a Coreia do Norte e a Arábia Saudita.
McDermott sugeriu razões pragmáticas não teológicas para adotarmos uma postura pró-Israel, tal como sua condição como a “única democracia liberal do Oriente Médio — que pois oferece o melhor ambiente para o progresso humano — mas também porque é bom para os palestinos.” Israel é o único país do Oriente Médio com “liberdades de expressão e imprensa, sindicatos trabalhistas livres e liberdade religiosa — para mulheres, minorias étnicas e religiosas e homossexuais.” Em geral, os 1,3 milhão de árabes israelenses são os “mais bem educados, os mais saudáveis e os mais bem alimentados palestinos do Oriente Médio,” graças principalmente à sua “cidadania ou outra participação no Estado israelense.” Enquanto isso, os palestinos sob a Autoridade Palestina têm recebido per capita todo ano mais assistência externa do que o salário anual médio no Egito. Contudo, Jimmy Carter, um batista esquerdista, e outros rotineiramente denunciam Israel por praticar o “apartheid,” muito embora os palestinos em Israel tenham direitos de cidadania.
“Não importa como Israel responda à atual crise política, os sionistas cristãos continuarão a acreditar que a terra de Israel permanece teologicamente importante e que os judeus continuam a ter um papel importante na história da redenção,” concluiu McDermott. “Essa é a contribuição que os sionistas cristãos têm feito para os debates cristãos sobre Israel.” Diferente de cristãos mais liberais, os evangélicos têm “insistido em que a igreja cristã não substituiu os judeus, que as alianças antigas e novas eram integralmente conectadas na época de Jesus e permanecem assim hoje, e que se a aliança com Israel é eterna então a promessa da terra é também ainda importante.”
Esperemos que a mensagem de McDermott sobre cristãos e Israel, unidos tanto pela fé comum quanto pelo respeito à liberdade democrática, repercutirá entre cristãos que em outras questões são teologicamente divididos pela exata importância teológica de Israel. Entretanto, mais livros e artigos precisarão ser escritos para refutar eventos como “Christ at the Checkpoint” cujo alvo são os pastores e jovens evangélicos principalmente com apelos superficiais por paz e solidariedade.
Traduzido por Julio Severo do artigo do American Spectador: Countering Anti-Israel Evangelism
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