O fim do apoio evangélico americano a Israel?
Como anda o prestígio de Israel entre os evangélicos do mundo
David Brog
Comentário de Julio Severo: Este documento, traduzido por mim, traz graves denúncias. A população evangélica americana, que tradicionalmente era mais a favor de Israel do que o restante da população evangélica mundial, agora despencou para a posição minoritária. De acordo com Brog, que dirige nos EUA uma das maiores organizações pró-Israel, a população evangélica dos EUA apoia hoje menos Israel do que populações evangélicas de outros países, graças a uma campanha de propaganda de anos, inicialmente entre protestantes tradicionais, especialmente presbiterianos, e agora predominante nas grandes conferências evangélicas dos EUA, inclusive pentecostais. Em vista de que as mudanças na cultura evangélica dos EUA sempre afetam os evangélicos do Brasil, disponibilizo este artigo para ajudar o leitor brasileiro a tomar cuidado com a propaganda anti-Israel que estará vindo nos próximos anos da literatura evangélica americana. Há boa literatura evangélica pró-Israel nos EUA, mas infelizmente quase nada dela chega até os brasileiros e as editoras evangélicas do Brasil optam geralmente pelo lado mais liberal e esquerdista. Leia e divulgue este artigo entre líderes:
Uma mera década atrás, o sionismo cristão era visto como uma força emergente na política dos Estados Unidos. Como que saindo do nada, um bloco de cinquenta a cem milhões de amigos de Israel estava preparado para entrar no debate nacional e defender o relacionamento entre EUA e Israel por várias gerações futuras. O amor evangélico por Israel parecia tão sólido que o único debate dentro da comunidade judaica era se “aceitá-lo” ou não.
Primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu e o pastor pró-Israel John Hagee |
Há um precedente preocupante para tal meia-volta. Havia um tempo — antes da guerra de 1967 — em que as principais denominações protestantes [presbiteriana, luterana, metodista, etc.] estavam entre os apoiadores americanos mais confiáveis de Israel. Os inimigos de Israel, pois, miraram essas denominações com mensagens favoráveis aos presbiterianos, luteranos e outros, mas contrárias a Israel. Há ainda muitos presbiterianos, luteranos e outros que apoiam Israel hoje. Mas no que se refere a Israel, as grandes denominações protestantes agem em parceria e bloco em boicotes. E o boicote delas é contra Israel, não o Irã.
Da mesma maneira, os cristãos palestinos e seus simpatizantes nos EUA estão vitoriosamente promovendo um discurso cujo objetivo é alcançar a nova geração de evangélicos e fazê-los se voltar contra Israel. Como consequência, mais líderes desta geração estão adotando a neutralidade no conflito enquanto outros estão se tornando críticos categóricos de Israel. A atitude de questionar o apoio cristão a Israel está rapidamente se tornando um jeito principal de evangélicos milenistas demonstrarem sua compaixão e independência política. Em resumo, essa população é alvo.
A mudança
Não há nada de novo acerca das campanhas para separar os evangélicos americanos de Israel. Muitos da facção anti-Israel vêm trabalhando há anos para fazer exatamente isso. Cristãos palestinos anti-Israel como Sami Awad e Naim Ateek viajam pelos EUA dizendo aos cristãos americanos como seus “irmãos e irmãs em Cristo” estão sendo oprimidos pelos judeus de Israel. Evangélicos esquerdistas como Jim Wallis, Tony Campolo e Serge Duss têm ecoado esse discurso em seu canto do mundo cristão. Brian e Matt, filhos de Duss, estão trabalhando com afinco para popularizar as opiniões de seu pai dentro dos campos de filantropia cristã e da elaboração das políticas do Partido Democrático [partido americano que é ideologicamente muito parecido com o PT do Brasil], respectivamente.
No entanto, até dois anos atrás, havia pouca razão para crer que esses indivíduos estavam influenciando os cristãos que estão fora de seus próprios restritos círculos. Quase todo líder evangélico importante que assumiu uma postura nessa questão se manifestou em apoio direto a Israel. Um mundo evangélico de centro-direita não estava simplesmente aceitando suas orientações políticas de adeptos da esquerda.
Essa situação está mudando dramaticamente. A cada mês que passa, mais evidências estão aparecendo de que esses cristãos anti-Israel estão conseguindo de forma eficaz alcançar evangélicos que não estão na esquerda. Eles estão agora influenciando a população evangélica em geral. De modo particular, eles estão penetrando o mundo evangélico em seu ponto fraco: a geração milenista. Esses jovens crentes (aproximadamente das idades de 18 a 30) estão se rebelando contra o que percebem como o excessivo literalismo bíblico e conservadorismo de seus pais. À medida que se esforçam com um vigor renovado para imitar a postura de Jesus a favor dos oprimidos e discriminados, eles querem decidir por si mesmos qual lado está sendo oprimido no conflito árabe-israelense.
Quem conseguir definir primeiro o conflito para esses jovens ganhará aliados para a vida toda.
Sobre as pesquisas de opinião pública e os documentários
Em outubro de 2010, o Forum Pew sobre Religião e Vida Pública conduziu uma grande pesquisa de opinião de líderes evangélicos que estiveram no 3º Congresso Lausanne de Evangelização Mundial na Cidade do Cabo, na África do Sul. Quando lhes fizeram a pergunta sobre com qual lado do conflito palestino-israelense eles simpatizavam, esses líderes responderam da seguinte forma:
Todos os evangélicos (do mundo inteiro)
Simpatizam com Israel: 34%
Simpatizam com os palestinos: 11%
Simpatizam com ambos igualmente: 39%
Evangélicos dos EUA:
Simpatizam com Israel: 30%
Simpatizam com os palestinos: 13%
Simpatizam com ambos igualmente: 49%
Essa pesquisa de opinião contém duas revelações chocantes. Mostra que apenas uma minoria dos evangélicos entrevistados simpatiza principalmente com Israel. E demonstra que os líderes evangélicos dos EUA têm na realidade menos inclinação para apoiar Israel do que os líderes evangélicos do mundo todo em geral.
Essas estatísticas podem significar que o apoio evangélico a Israel jamais foi tão universal quanto comumente se cria. Mas podem também demonstrar que anos de campanhas de corpo a corpo em cada igreja realizadas pelos críticos de Israel estavam começando a dar frutos mesmo antes de sua recente intensificação.
O ano de 2010 foi uma intensificação dramática nas campanhas para dividir os evangélicos americanos de Israel usando filmes. No período de um ano, não menos que três grandes documentários foram lançados atacando o apoio cristão a Israel. Claro que não foram os primeiros filmes anti-Israel a serem produzidos. O que tornou esses filmes especial foi que o foco deles era desacreditar o apoio cristão a Israel. Enquanto o filme “Waiting for Armageddon” (Aguardando o Armagedom) de First Run Features foi produzido e dirigido por uma equipe de documentaristas seculares, dois outros filmes — “With God on Our Side” (Com Deus do Nosso Lado) de Rooftop Productions, 2010, e “Little Town of Bethlehem” (Cidadezinha de Belém) de EthnoGraphic Media, 2010 — foram feitos por cristãos especificamente para cristãos. “With God on Our Side” foi produzido por Porter Speakman, ex-ativista da JOCUM (Jovens Com Uma Missão) [2] enquanto “Little Town of Bethlehem” foi financiado e produzido por Mart Green, presidente do conselho administrativo da Universidade Oral Roberts e herdeiro da fortuna das lojas de artesanatos Hobby Lobby.
Esses dois filmes feitos por cristãos são sofisticadas obras de arte para enganar, apresentando protagonistas persuasivos vagando devotamente por uma paisagem do Oriente Médio em que toda violência, agressão e rejeicionismo dos árabes foi magicamente apagado. Por isso, as medidas de segurança israelenses que eles encontram pelo caminho — desde o muro de segurança até a presença contínua de Israel na Margem Ocidental — são experimentadas como perseguições desconcertantes, que qualquer pessoa decente condenaria.
Mais recentemente, em novembro de 2013, outro documentário anti-Israel — “The Stones Cry Out” (As Pedras Clamam) — foi lançado. Como seus predecessores de 2010, esse documentário especificamente faz sob medida sua mensagem anti-Israel para uma audiência cristã. O site do filme lamenta: “De modo muito frequente, a cobertura que os meios de comunicação fazem do conflito na Palestina o retrata como uma luta entre muçulmanos e judeus.” A meta não muito sutil de “The Stones Cry Out” é fazer uma nova retratação do conflito como uma luta entre cristãos e judeus.
“The Stones Cry Out” começa com a história de Kfar Biram, uma vila cristã árabe na fronteira de Israel com o Líbano. Israel expulsou os residentes da vila em 1948 a fim de, nas palavras do site do filme, “abrir caminho para os colonizadores no estado recentemente criado de Israel.” O filme então trata da “expropriação da Margem Ocidental em 1967” e da situação difícil da moderna Belém, que está “cercada por um muro.” [3] Como tal linguagem deixa repetidamente claro, os produtores do filme não criaram uma crítica sutil das políticas de Israel. Eles produziram em vez disso uma moderna peça da Paixão.
Numa entrevista sobre o filme, Mitri Raheb, pastor de Belém, resume as mudanças que estão ocorrendo no mundo evangélico dos EUA:
Não é um caso sem esperança. A primeira vez que fui aos EUA em 1991, a maioria das pessoas que encontrei nada sabia sobre a Palestina. Isso mudou muito. Vejo entre os evangélicos americanos mais abertura aos palestinos. [4]
Raheb está certo sobre essa abertura. E isso pode ser uma boa coisa se levar a um exame honesto da questão. Infelizmente, Raheb e seus colegas estão tirando vantagem dessa abertura ao propagar um discurso unilateral da perseguição judaica aos cristãos. Isso pode semear muito ódio futuramente.
Sobre universidades e conferências
A campanha para deslegitimar Israel nas universidades dos EUA rapidamente avançou de algo periférico para algo comum. As campanhas de boicote contra Israel que miram tudo, desde fundos de pensão universitária até os produtos das lanchonetes, se tornaram muito conhecidas. Mas o que muitos observadores não compreendem é que a campanha para demonizar Israel está também sendo feita em universidades evangélicas dos EUA.
Talvez o exemplo mais preocupante venha da Faculdade Wheaton em Illinois, comumente mencionada como a “Harvard evangélica.” Alguns dos mais proeminentes líderes evangélicos dos EUA se formaram em Wheaton, inclusive o Rev. Billy Graham, o senador Dan Coats e Michael Gerson, ex-escritor de discursos de George W. Bush.
Wheaton também abriga Gary Burge, um dos mais proeminentes evangélicos anti-Israel dos EUA. Burge viaja pelos EUA e o mundo acusando Israel dos piores crimes e se engajando em zombarias ao judaísmo que beiram o antissemitismo. [5] Quando a entidade Cristãos Unidos por Israel (CUPI) anunciou planos de realizar um evento em Wheaton em janeiro de 2009, Burge partiu para a ofensiva. Os membros estudantis de CUPI sofreram pressões tão intensas que mudaram o evento para fora da faculdade: Não haveria nenhum evento pró-Israel na Harvard evangélica.
Outra grande instituição educacional evangélica nos EUA é a Universidade Oral Roberts (UOR), que tem profundas raízes cristãs conservadoras. O próprio Oral Roberts era um televangelista pentecostal e forte amigo de Israel. Alguns dos principais pregadores dos EUA se formaram na UOR, e seu conselho de administração já teve tais pastores pró-Israel como John Hagee, Kenneth Copeland e Bishop Keith Butler.
Mas as coisas estão mudando na UOR. O atual presidente do conselho administrativo da UOR é Mart Green, que foi mencionado acima. Ele teria “salvo” a UOR injetando 70 milhões de dólares. Em janeiro de 2013, o conselho administrativo da UOR elegeu Billy Wilson como novo presidente da universidade; poucos meses depois, Wilson foi escolhido como palestrante em 2014 na principal conferência cristã anti-Israel do mundo, a “Christ at the Checkpoint” (Cristo no Posto de Controle).
A Universidade Bethel em Minnesota fornece um exemplo adicional. Embora essa universidade não tenha a reputação nacional da Wheaton ou UOR, provavelmente representa mais a direção que as universidades evangélicas dos EUA estão tomando. Os líderes da Bethel não estão nem liderando nem financiando a campanha para deslegitimar Israel, mas são meramente o produto disso tudo. Como muitas universidades evangélicas, a Bethel frisa reconciliação racial e abertura cultural e tem assim desenvolvido numerosas oportunidades para seus estudantes estudarem no exterior. Em 2010, Jay Barnes, presidente da Bethel, e sua esposa Barb visitaram Israel e a Autoridade Palestina para explorar a possibilidade de fazer um programa de estudo no exterior ali. Durante a viagem, eles visitaram Belém e foram expostos ao discurso evangélico anti-Israel padrão. Como muitos outros americanos que viajam para lá, ao que tudo indica Barb Barnes aceitou a apresentação unilateral. Logo após sua volta, Barnes postou um poema no site da universidade que resumia os principais temas anti-Israel dessa viagem:
Um conflito inacreditável existe na terra do nascimento de Jesus. Creio que Deus está chorando.
O muro [6] lembra constantemente muitas liberdades perdidas. Creio que Deus está chorando.
Por mais de 60 anos, as pessoas têm vivido em pobreza nos campos de refugiado. Creio que Deus está chorando.
O apartheid se tornou um modo de vida. Creio que Deus está chorando.
Extrema distribuição desproporcional de recursos, como água, existe. Creio que Deus está chorando.
Centenas de vilas têm sido demolidas para dar espaço para assentamentos. Creio que Deus está chorando.
Violações de direitos humanos ocorrem diariamente. Creio que Deus está chorando.
A população cristã está diminuindo, pois muitos estão partindo para evitar perseguição. Creio que Deus está chorando. [7]
A visita dos Barnes motivou um estudo adicional que no final rendeu uma compreensão mais sutil. Em outubro de 2012, o presidente Barnes realizou um evento chamado “Esperança para a Terra Santa” na Bethel. O evento tinha um discurso unilateral, culpando Israel por tudo, e trouxe como palestrantes Sami Awad, Lynn Hybels e outros antigos críticos evangélicos de Israel.
Não é preciso ser um estudante para ser exposto a esses discursos anti-Israel. Em anos recentes, o número de conferências cristãs focando inteira ou parcialmente em criticar Israel vem crescendo, juntamente com o número de participantes.
Desde sua fundação em 1979, o Colégio Bíblico de Belém na Margem Ocidental vem sendo uma fonte principal de discursos cristãos anti-Israel. Em 2010, esse colégio lançou uma conferência que ocorre a cada dois anos chamada “Christ at the Checkpoint” (Cristo no Posto de Controle). O nome da conferência junto com uma foto do muro de segurança de Israel que forma seu lema apelam para a ideia cada vez mais propagandeada de que Jesus era um palestino que estaria sofrendo debaixo da ocupação israelense hoje tanto quanto ele sofreu debaixo da ocupação romana dois mil anos atrás.
Em 2010, a conferência reuniu 250 líderes cristãos e ativistas em Belém; em 2012, esse número foi mais que 600, inclusive tais líderes evangélicos populares como o Pr. Joel Hunter e Lynne Hybels, esposa do pastor de mega-igreja Bill Hybels, que desde então se tornou um dos principais críticos de Israel.
Os dias em que tínhamos de viajar até Belém para ouvir tais vozes anti-Israel terminaram. O discurso anti-Israel de “Christ at the Checkpoint” está agora sendo disseminado em grandes conferências cristãs nos Estados Unidos, inclusive os eventos organizados por Empowered21 e Catalyst.
Empowered21, a proeminente conferência de cristãos pentecostais e carismáticos, fornece um exemplo preocupante dessa tendência. [8] Sua liderança inclui famosos líderes pentecostais e carismáticos do mundo inteiro, inclusive muitos amigos de longa data de Israel. Entretanto, o principal crítico de Israel entre esses líderes, Mart Green, parece estar desempenhando um papel descomunal em acertar a agenda da conferência: Sua conferência de 2012 na Virgínia incluiu uma palestra de Sami Awad e uma exibição do filme de Green, “Little Town of Bethlehem” (Cidadezinha de Belém).
Empowered21 anunciou que realizará seu congresso mundial de 2015 em Jerusalém. Considerando as conexões da conferência com Sami Awad e Mart Green, há certo ceticismo se a intenção da escolha do local foi um sinal de solidariedade a Israel. Só o tempo dirá se a liderança dessa organização permitirá que a conferência se torne uma festa cujo único objetivo é criticar Israel.
Eventos preocupantes estão também acontecendo na conferência anual Catalyst. Inicialmente lançada em 1999, Catalyst rapidamente cresceu e hoje é o maior encontro de líderes evangélicos jovens dos Estados Unidos com mais de 100.000 líderes anualmente viajando para Atlanta para participar dessa conferência desde seu começo. Eventos adicionais de Catalyst estão agora sendo realizados na Florida, Texas e Califórnia.
No passado, Catalyst cuidadosamente evitava discussões acerca do conflito árabe-israelense. Em 2012, porém, Lynne Hybels foi convidada para dar a palestra “Pacificação em Israel/Palestina.” Ninguém falou nada sobre apresentar uma perspectiva pró-Israel. Como o jornalista Jim Fletcher observou depois de ir a Catalyst 2012:
Em dezenas de conversas casuais, notei que cristãos milenistas… expressavam solidariedade aos palestinos e raiva de Israel. Essa é uma mudança sísmica nas igrejas evangélicas dos EUA e uma ameaça grave a uma área que tradicionalmente sempre apoiou Israel. [9]
Além de dar palestras em grandes conferências, palestrantes anti-Israel como Burge, Awad, Hybels e Stephen Sizer fazem turnês nas igrejas dos EUA. O folheto de uma palestra de Burge de setembro de 2013 dá um senso do clima nesses eventos. [10] Intitulado “Sionismo Cristão: Um Problema com uma Solução,” o folheto inclui uma sequência de três mentiras que formam a base principal do novo antissionismo cristão:
Os sionistas em Israel criaram um estado que quer pureza racial. Muitos sionistas querem que os cristãos que nasceram em Israel partam de Israel. Os sionistas cristãos nos EUA apoiam Israel porque acreditam que isso acelerará a segunda vinda de Cristo.
Viagens a “Israel/Palestina”
Um número crescente de organizações está levando um número crescente de líderes, influenciadores e estudantes evangélicos para visitar “Israel/Palestina.” Essas viagens são muito comercializadas e buscam evangélicos das grandes denominações afirmando serem a favor tanto dos israelenses quanto dos palestinos — ou simplesmente “pró-pessoas” —, mas nunca anti-Israel. Contudo, essas viagens tendem a focar no sofrimento palestino e culpar apenas Israel por esse sofrimento.
O Grupo Telos, fundado em 2009 e financiado por George Soros[11], representa bem essas novas organizações. Dirigida por uma equipe inteligente que professa ter uma agenda moderada, Telos se promove como “uma das principais organizações do emergente movimento pró-Israel, pró-Palestina, pró-EUA, pró-paz dos EUA.” [12] Suas viagens levam os visitantes tanto a Israel quanto à Autoridade Palestina onde eles se encontram com israelenses e palestinos. O que poderia ser mais imparcial?
Entretanto, essas viagens são cuidadosamente calibradas para ensinar seus participantes que as políticas israelenses são a fonte do sofrimento israelense e árabe e a única barreira para a paz. Os palestrantes palestinos incluem críticos extremos de Israel tais como Mitri Raheb e o arcebispo Elias Chacour (ambos mostrados de forma proeminente no filme “The Stones Cry Out”). Os palestrantes israelenses, embora não sejam tão radicais, são defensores incondicionais da extrema Esquerda que de forma semelhante culpam Israel pelos problemas da região. Uma breve visita a um direitista israelense — geralmente um colono — faz mais para confirmar esse discurso unilateral do que desafiá-lo. Telos organiza aproximadamente quinze dessas viagens a cada ano. [13]
Outra chegada recente na cena é o Projeto de Imersão Global. Fundado em 2011, o projeto busca “cultivar pacificadores comuns por meio de imersão em conflito global.” [14] Mas até agora, o único conflito que eles estudam é o conflito entre Israel e palestinos, e as únicas viagens que fazem são para “Israel/Palestina.” Em 2014, eles têm dois “laboratórios de ensino” programados na Terra Santa.
Esses recém-chegados se juntaram a um antigo defensor irredutível do movimento, a Fundação Terra Santa. Fundada em 1998 pelo ativista cristão palestino Sami Awad, essa organização afirma promover soluções não violentas para o conflito com Israel. No entanto, Awad já declarou muito claramente em seu blog que a não violência “não substitui a luta armada. Esse não é um método de normalização com a ocupação [israelense]. Nossa meta é reviver a resistência popular até que toda pessoa se envolva no desmantelamento da ocupação [israelense].” [15] A Fundação Terra Santa promove uma versão fortemente tendenciosa da história na qual só Israel é culpado da ausência da paz. Essa fundação dissemina essa mensagem para os que visitam seus vários projetos de serviço, iniciativa de colheita de oliva e “Encontro de Verão na Palestina.” [16]
A divisão das gerações
Apesar desses avanços preocupantes, é improvável que uma geração mais velha de evangélicos americanos criada para apoiar Israel abandonará esse apoio em massa. A maior ameaça vem da geração de americanos mais jovens que nunca desenvolveu tais vínculos e parece bastante ansiosa para questioná-los. Há um perigo real de que esses ataques de filmes, conferências e universidades combinarão para criar uma mudança entre gerações no que se refere a atitudes para com Israel.
A maioria dos evangélicos que dominou o ativismo político cristão nas décadas passadas — homens como Jerry Falwell, Pat Robertson e Francis Schaeffer — eram apoiadores explícitos de Israel. Embora seus filhos compartilhem essa perspectiva, eles tendem a falar dela menos. Aliás, Frank, o filho de Francis Schaeffer, se tornou um crítico estridente da “influência, em grande parte sem oposição, do sionismo cristão.” [17]
Para piorar tudo, há um grupo de estrelas evangélicas jovens emergentes que fazem viagens a Israel e a Autoridade Palestina e depois voltam para promover a ideia de que seus irmãos evangélicos precisam se afastar do Estado judeu. Esse é um bando em grande parte muito bem vestido dedicado a comercializar o Cristianismo a uma geração cética tornando-o bacana, compassivo e menos descaradamente político. Questionar o apoio a Israel e expressar simpatia aos palestinos está rapidamente se tornando a marca registrada dessa turma.
Essa divisão entre gerações é destacada melhor pelo exemplo do empresário editorial cristão Steven Strang e seu filho Cameron. Steven Strang publica Charisma, uma das principais revistas evangélicas mensais dos EUA com uma perspectiva firmemente a favor de Israel. Ele tem também publicado obras de muitos escritores cristãos proeminentes, inclusive John Hagee, um defensor incondicional de Israel. Strang era, até recentemente, diretor regional de Cristãos Unidos por Israel. Seu filho Cameron publica Relevant, uma revista muito popular entre evangélicos milenistas, afirmando “alcançar cerca de 2.300.000 de cristãos entre as idades de 20 e 30 anos por mês” por meio de suas publicações impressas e online. [18]
Menos de uma década atrás, Relevant era tão pró-Israel quanto a Charisma. Em dezembro de 2005, por exemplo, Relevant publicou um forte artigo pró-Israel intitulado “Israel: Por Que Você Deveria se Importar.” Em 2006, Relevant me entrevistou para seu programa semanal de podcast, e a entrevista foi muito amistosa.
Então Lynne Hybels levou Cameron Strang para visitar Israel e os territórios palestinos, e tudo mudou. Durante a Operação Chumbo Fundido de 2008-2009 em Gaza, Relevant publicou um artigo intitulado “Será que Israel Está Sempre Certo?” em que o autor dispensou uma análise equilibrada de operações urbanas antiterrorismo para concluir: “Quando examino as escolhas de Israel como eu examinaria as escolhas de qualquer outra nação, me vejo pasmo que eles não estão fazendo mais para proteger os inocentes [em Gaza].” [19]
Quando Israel confrontou o Hamas de novo em novembro de 2012, Relevant publicou um artigo intitulado: “Como os Cristãos Devem Responder à Crise no Oriente Médio,” escrito por Jon Huckins, co-fundador do Projeto Imersão Global. O artigo foi um exercício prolongado de relativismo moral, comentando o sofrimento de cada lado sem atribuir culpa. Huckins nem uma vez criticou o Hamas, mas desferiu um ataque velado aos sionistas cristãos detonando a “resposta violenta e o racismo, a estereotipação odiosa [aos eventos em Gaza] sendo disseminados por cristãos.”[20]
A capa da edição de maio/junho de 2012 de Relevant destacou Donald Miller, autor do livro “Blue Like Jazz” (2003), best-seller no jornalNew York Times, que virou filme em 2012. Em agosto de 2008, Miller fez a oração de encerramento da primeira noite da Convenção Nacional do Partido Democrático [um partido em grande parte abortista e homossexualista, semelhante ao PT do Brasil]. Ele é considerado uma estrela em ascensão entre os evangélicos de 20 anos de idade nos EUA que compõem muitos de seus 189.000 seguidores de Twitter. Miller visitou Israel e os territórios palestinos com Strang e desde então abraçou o discurso anti-Israel. Em 12 de novembro de 2012, Miller publicou em seu blog: “A Verdade Dolorosa sobre a Situação em Israel.”[21] Aí ele repetiu várias mentiras escandalosas acerca de Israel que provavelmente ele ouviu durante sua visita:
Em setembro um grupo de jornalistas e eu visitamos Israel e ficamos num monte que dá para um muro que separa Israel de Gaza. De nossa perspectiva, conseguíamos ver o território polêmico em que 1,6 milhão de palestinos foram encurralados e isolados do mundo exterior. Eles estão, em essência, presos.
Os muros erguidos ao redor da Margem Ocidental e de Gaza separam famílias de famílias. Muitas mães não verão seus filhos de novo. Milhões jamais voltarão aos lares que suas famílias haviam ocupado por centenas de anos… Milhares de estudantes palestinos em universidades americanas jamais verão suas famílias de novo.
Israel dá água fresca aos palestinos apenas uma vez por semana… Em Gaza, Israel também raciona sua comida, permitindo apenas determinada quantidade de calorias por ser humano.
A resposta
Congele o tempo, e o lado pró-Israel está ainda bem à frente na batalha pelos corações e mentes dos evangélicos dos EUA. Só uma organização pró-Israel, Cristãos Unidos por Israel, tem mais de 1,6 milhão de membros, filiais em mais de 120 faculdades e universidades, e patrocina trinta e cinco eventos pró-Israel nos EUA a cada mês.[22] Os cristãos anti-Israel não chegam nem perto de se comparar ao tamanho, atividade ou influência de CUPI.
Mas as tendências de longo prazo estão agora vindo em foco suficiente para discernir um desafio. Os cristãos anti-Israel estão com sorte. Embora sejam numericamente poucos, esses ativistas parecem receber muito dinheiro. Eles estão conquistando muito mais líderes e influenciadores para sua causa do que o lado pró-Israel. Embora esses sejam aliados criados recentemente, eles estão alcançando uma rede de evangélicos que não para de crescer nos EUA.
A ameaça não é que esses ativistas transformarão a maioria dos evangélicos americanos em odiadores de Israel. Eles nem precisam fazer isso. O perigo real é que eles ensinarão seus irmãos evangélicos um relativismo moral que os neutralizará. O dia em que Israel for visto como equivalente moral do Hamas será o dia em que a população evangélica americana — e por extensão os líderes políticos que ela ajuda a eleger — vão parar de dar a Israel qualquer apoio significativo.
Os que rejeitam tal simplista equivalência moral precisam levar essa ameaça a sério. Eles não podem deixar a população evangélica americana seguir o caminho dos líderes das grandes denominações protestantes dos EUA. Eles não devem esquecer que grandes mentiras precisam ser confrontadas cedo e muitas vezes. E eles não devem ignorar o fato de que os inimigos de Israel estão dizendo mentiras muito grandes para alguns cristãos muito influentes — e dizendo-as com muita eloquência.
David Brog, diretor-executivo de Cristãos Unidos por Israel, é o autor de In Defense of Faith: The Judeo-Christian Idea and the Struggle for Humanity (Encounter, 2010).
[1] O termo “anti-Israel” não se refere meramente a criticar Israel; quase todo cidadão israelense faz isso numa base diária. Seu uso aqui significa contar uma versão unilateral da história na qual só Israel é culpado pelo sofrimento palestino, tal como condenar frequentemente as medidas de segurança israelenses sem uma discussão séria da violência que os requer.
[2] JOCUM é um movimento popular de jovens evangélicos liderado por evangélicos tradicionais pró-Israel.
[3] “About the Film,” The Stones Cry Out website, filme de Yasmine Perni, acessado em 27 de janeiro de 2014.
[4] Graham Liddell, “New Documentary Challenges Evangelical Bonds with Israel,” Ma’an News Agency (Bethlehem), 30 de outubro de 2013.
[5] “Israeli Jews: The Impossible People at Christ at the Checkpoint,” CAMERA, Boston, 11 de abril de 2012.
[6] Israel's security fence.Muro de segurança de Israel.
[7] “Reflections on Our Trip to Israel,” Just Jay Blog, Universidade Bethel, St. Paul, Minn., 29 de junho de 2010.
[8] Os termos “pentecostal” e “carismático” se referem a dois ramos crescentes e coincidentes do mundo evangélico caracterizados por adoração animada, inclusive falar em línguas e outros “dons do Espírito” bem como uma tendência ao literalismo bíblico.
[9] Jan Markell, “When Social Justice Equals No Justice,” World Net Daily, 19 de outubro de 2012.
[10] Presentation by Abraham's Children, First Presbyterian Church, Wheaton, Ill., 23 de setembro de 2013.
[11] Alexander H. Joffe, “Bad Investment: The Philanthropy of George Soros and the Arab-Israeli Conflict,” NGO Monitor, Jerusalem, Maio 2013, p. 50.
[12] “Our Story,” Telos Group, Washington, D.C., accessado em 27 de janeiro de 2014.
[13] McKay Coppins, “New Evangelical Movement Seeks Split from Pro-Israel Line,” Buzzfeed, 14 de janeiro de 2014.
[14] “Curious what our Learning Labs are all about?” Global Immersion Project, Walnut Creek, Calif., 12 de setembro de 2013.
[15] Sami Awad, “Nonviolent Resistance: Wake up every day and ask yourself what you can do to resist the occupation,” Holy Land Trust, Belém, 23 de janeiro de 2007.
[16] “Travel & Encounter,” Holy Land Trust, Belém, accessado em 6 de fevereiro de 2014.
[17] Frank Schaeffer, “With God on Our Side—Christian Zionism Exposed,” The Huffington Post, 9 de novembro de 2010.
[18] “The Relevant Story,” Relevant (Winter Park, Fla.), accessado em 27 de janeiro de 2014.
[19] Ed Gungor, “Is Israel Always Right?” Relevant, 20 de janeiro de 2009.
[20] Jon Huckins, “How Should Christians Respond to the Middle East Crisis,” Relevant, 19 de novembro de 2012.
[21] Donald Miller, “The Painful Truth about the Situation in Israel,” Storyline Blog, Nov. 2012.
[22] Estatísticas compiladas por Cristãos Unidos por Israel, San Antonio, Fev. 2014.
Traduzido por Julio Severo do artigo do Middle East Forum: The End of Evangelical Support for Israel?
Fonte: www.juliosevero.com
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