Carta Aberta ao Prefeito do Rio de Janeiro
Por Sergio Tasso Vásquez de Aquino
Prezado Prefeito EDUARDO PAES, cordiais saudações.
Gostaria muito que, de alguma maneira, esta minha carta chegasse ao seu conhecimento, pois contém crítica construtiva que, se atendida, creio que traria muitos benefícios para o nosso Rio.
Cheguei ontem de viagem ao exterior, que me manteve ausente da cidade por quase um mês. Primeiro, foi a extensa navegação por mar, de vinte dias, que me levou até Veneza. Depois, excursão de nove dias pela bela Itália.
No trajeto, visitei várias cidades de muitos países e alguns continentes: Ilhéus, Salvador. Maceió e Recife, no Brasil: Santa Cruz de Tenerife, Laguna, Orotava e Puerto Santa Cruz, em Tenerife, Ilhas Canárias; Funchal, na Ilha da Madeira: Málaga, na Espanha: La Valletta, em Malta; Dubrovnik, na Croácia; Veneza, Pádua, Pisa, Florença, Siena, Assis e Roma, na Itália.
Da mesma forma que em ocasiões anteriores, na minha vida de navegante de muitos mares e em variadas viagens a diferentes destinos, tive o desprazer de constatar que as cidades mais sujas, desleixadas e abandonadas são as brasileiras, especialmente as maiores; no caso presente, Salvador, Recife... e Rio de Janeiro! Maceió foi a que melhor se apresentou entre as nacionais, cuidada, bonita e conservada, até onde pude ver, assim como a pequena Ilhéus.
É bom que cada vez maior número de brasileiros esteja podendo viajar ao exterior, para ter a oportunidade de comparar nossa realidade com a de outros lugares, a fim de poder exigir dos nossos governantes, com conhecimento de causa, maiores empenho e responsabilidade na conservação do nosso tão belo e amado País, do seu majestoso e inigualável patrimônio nacional, incluindo as cidades e o meio ambiente em geral.
A verdade é que, no próprio Brasil, as cidades de São Paulo, exceto a capital, do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul exibem, em geral, aspecto melhor do que as demais, chegando a poder comparar-se com as mais civilizadas do mundo. Isso demonstra, também, que estamos diante de mais um problema de cultura, cuja solução demanda sério esforço de educação do povo, a começar pelas crianças em idade escolar, que serão as mestras dos adultos de cada família, além das permanentes atenção, fiscalização e ação reparadora e mantenedora dos órgãos e autoridades públicas de todos os níveis.
Pelo bem de nossa cidade, linda vista do mar e sobrevoada de avião e olhada do alto das montanhas ainda não favelizadas, e para que possa voltar a merecer o título de “Cidade Maravilhosa” e não apenas de Natureza Maravilhosa, tão bem criada e esculpida por Deus, mas deteriorada pela insânia e pela irresponsável ignorância dos homens/mulheres, que se comprazem em agredir e estragar o paradisíaco lugar em que vivem e trabalham, proponho-lhe algumas simples medidas.
A primeira, e mais importante, básica, educar, educar , educar nosso povo, nas escolas, pelos meios de comunicação social, em campanhas educativas permanentes, de ampla difusão, pois está tão acostumado, em todos os níveis sociais e econômicos, a desrespeitar a lei, os direitos do próximo, a depredar o patrimônio comum, a colocar, egoistíca e mesquinhamente, seus interesses e apetites pessoais acima de tudo e de todos, aliás seguindo o exemplo de políticos, governantes e dirigentes.
Quão verdadeira é a expressão:”Cada povo tem o governo que merece”! Certamente que, mais educado, este nosso povo exerceria com mais conciência a cidadania e escolheria governantes e representantes melhores, o que, numa ascendente espiral, virtuosa e inexorável, redimiria e Brasil e o tornaria, definitivamente, na Pátria dos nossos sonhos, segunda para nenhuma outra!
Quanto à Prefeitura em si, proponho que exerça, com todo o empenho, juntamente com as esferas estadual e federal, onde couber, seu papel de cuidar eficaz, eficiente e carinhosamente dos sistemas de abastecimento e tratamento de água e dos esgotos, do asfaltamento das ruas e do reparo das calçadas, da administração adequada dos transportes e do recolhimento e do manuseio do lixo, da infrestrutura urbana, das escolas, hospitais e postos de saúde, das árvores, dos parques, avenidas, ruas e jardins, preocupando-se,.enfim, em manter funcionando, limpo e arrumado, tudo o que já existe e realizando as novas obras que se revelem necessárias, como a construção de mictórios/banheiros públicos por toda a cidade, em praças e ruas mais frequentadas, e sempre mantidos impecavelmente limpo por pessoal próprio, e promovendo prontamente os reparos e consertos que se façam necessários. Além de fiscalizar as concessionárias de serviços públicos, exigindo, sempre, que prestem bons serviços e não estraguem a cidade com obras mal executadas.
Os dois melhores governantes desta cidade, nos meus já longos 76 anos de vida, foram Carlos Lacerda e Francisco Negrão de Lima, que teve o bom senso de dar continuidade à boa administração do primeiro. Cuidaram muito bem da cidade, fizeram obras importantes, fundamentais para o bem-estar dos cidadãos e o futuro da metrópole e limparam e embelezaram o Rio, inclusive pela exigência de que as fachadas dos prédios fossem repintatads a cada cinco anos.
A propósito, porque não subsidiar a pintura das feias casas de tijolo cru das favelas com tinta ou cal branca, renovada periodicamente, que as tornaria belas ao sol carioca como vilarejos da Grécia, aumentando a auto-estima dos moradores e quiçá os induzindo a maiores cuidados com a higiene ambiental e coletiva?
Outro bom exemplo de Carlos Lacerda, que merece ser seguido, era o de percorrer rotineiramente a cidade, inspecionado obras e ações de manutenção em curso, para conhecer bem a realidade, verificar se suas ordens estavam sendo devidamente cumpridas pelos escalões inferiores. Nunca titubiou em demitir/substituir quem não cumpria adequadamente seu dever para com a administração da cidade, por mais ligado a ele que fosse, colocando servidores mais competentes, dedicados e interessados no lugar. Por isso, Prefeito, por colocar o interesse público sempre em primeiro lugar e por ser extremadamente honesto e competente, será sempre lembrado como um dos melhores governantes cariocas de todos os tempos, além de político sumamente inteligente e o melhor tribuno do Brasil na época!
Muito embora não possamos seguir o exemplo do Primeiro-Ministro de Cingapura, que tornou sua previamente caótica Cidade-Estado num modelo de local limpo e civilizado, por coibir drasticamente toda prática criminosa ou atentatória ao Bem Comum, como a adoção da lei de punir com chibatadas quem pichasse paredes ou monumentos, poderíamos criar legislação que multasse quem emporcalhasse o Rio.
Todas as cidades ao largo da África e na Europa em que acabei de estar têm no turismo sua maior fonte de receita e são visitadas, anualmente, por milhões de pessoas provenientes do mundo todo. Todas, porém, exibem aspecto muito bom , porque sempre bem mantidas e conservadas por suas administrações. No próprio Rio, já tivemos o exemplo de como um ambiente limpo e arrumado inibe as práticas atentatórias dos vândalos, nos primeiros anos do metrô, tratado então com todo o respeito que a coisa pública merece por aqueles mesmos agressores e destruidores do patrimõnio comum que infelicitam nosso dia-a-dia e se comprazem em sujar, quebrar, pichar tudo e em roubar o que exista de valor nos monumentos!
No último domingo, 14 de abril, estive com minha mulher na Praça de São Pedro, no Vaticano, lotada por multidão de centenas de milhares, para receber a bênção do Papa Francisco no Ângelus. Todos ficamos por mais de duas horas no local. Ao final do evento, disperso o povo, nenhum sinal de sua presença, nenhum papel no chão!
Enfim, Prefeito, quero ter orgulho do Rio de Janeiro e não ter de sentir vergonha dos estrangeiros que nos vêm visitar: Jornada Mundial da Juventude, Copa das Confederações, Copa do Mundo, Olimpíadas...sempre!
Quero me sentir bem, viver num ambiente saneado, sadio, agradável, cuidado, “bonito por natureza”, mas também pela atenção, pela dedicação e pelo carinho verdadeiros de homens e mulheres, povo e governantes, cariocas por nascimento ou porque conquistados no coração por este mágico pedaço do maravilhoso, forte, rico e idolatrado BRASIL.
Será pedir demais, sonhar muito alto? A resposta está, agora, em sua vontade e em suas mãos! Avante, porque tudo pode ser feito, se houver fibra, gana e garra !
Desejo-lhe sucesso na tarefa que lhe encomendei.Um forte abraço!
PS. Podemos chegar lá, fazer do Rio um modelo de cidade. Sim, é possível: lembre-se de Carlos Lacerda!
Sergio Tasso Vásquez de Aquino, Vice Almirante Reformado, é membro da Academia Brasileira de Defesa e do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil.
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