ARTIGO: 21 anos de um impeachment.
Por Nilson Borges Filho (*)
Fernando era irmão de Pedro, filhos de Leda Collor de Mello, a matriarca de uma família de empresários e políticos nordestinos. Fernando, jovem ainda, se fez presidente da República e Pedro manteve-se a frente dos negócios deixados pelo pai, o ex-senador Arnon de Mello. No entorno do caçador de marajás, formou-se uma corte de bajuladores e aproveitadores do dinheiro público.
O protagonista era um homem de meia-idade, com déficit capilar, que gostava de ostentar poder e exibir-se como um dos membros da República de Alagoas. Cafona no vestir e brega no convívio social, PC Farias jogou-se em tempo integral na tarefa de achacar empresários com interesses públicos. Dizia que a eleição de Lula, adversário de Collor, traria um alto custo para o patronato brasileiro e, por isso mesmo, as elites eram devedoras ao presidente eleito.
Com a experiência adquirida na campanha presidencial, Farias agia como o principal arrecadador de fundos para abastecer os cofres do PRN, partido pelo qual Collor se elegeria. Apenas um detalhe, ainda em vigor nos tempos de hoje: nem toda a dinheirama chegou ao partido. Uma boa parcela de tudo que foi arrecadada ficou pelo caminho, mais precisamente em contas bancárias controladas por PC Farias. Em tom de chacota, mas com um final de verdade, propagava-se que PC Farias havia inflacionada a propina, que saíra do patamar dos 10% e entrara na casa dos 30 a 40%.
Não fosse a ganância de Collor e aliados talvez o processo de impeachment não tivesse sido autorizado pela Câmara dos Deputados. Ao tentar montar uma rede de comunicação social em Alagoas, com dinheiro de origem duvidosa, em parceria com Farias, para fazer concorrência às empresas da própria família, dirigidas pelo irmão Pedro, Fernando Collor, neste exato momento, deu início a sua derrocada política.
Pedro Collor, indignado com a postura do irmão, foi para a frente das câmeras de tevês e para as redações da grande imprensa, detonando o governo Collor, acusando PC Farias de estar sistematicamente no encalço de empresários que necessitavam de um empurrão na máquina administrativa para receberem o que lhes era devido, em troca de propina.
Jogando por terra qualquer pretensão de Fernando Collor permanecer na cadeira presidencial, Pedro acusou o irmão de usar PC Farias como seu intermediário. Na falta de outra justificativa, o caminho mais curto foi chamar o irmão Pedro de louco, inclusive com uma nota divulgada pela a patriarca Leda Collor onde destituía Pedro da direção das empresas e o acusava de não estar bem da cabeça.
Pedro Collor juntou atestados de médicos conceituados que provavam estar ele em plena capacidade mental. Aliás, é uma tendência natural de salafrários e vigaristas que roubam dinheiro alheio – inclusive da própria família – de atacar o outro, pelo simples acaso de ter descoberto a maracutaia e acusado os envolvidos de bandalhas. No caso, a própria mãe se voltou contra o filho decente, chamando-o publicamente de louco, para salvar a pele de um outro filho, prevaricador contumaz, que entre um e outro despacho mexia naquilo que não era dele, mas do alheio.
Pedro Collor tombou vitimado por um câncer, mas com a certeza do dever cumprido. Leda Collor, talvez por culpa, sofreu um AVC e permaneceu em coma por meses, até vir a falecer. PC Farias foi assassinado, por motivos até hoje ignorados. Ou não?
Fernando Collor é senador e amigão do peito de Lula, aquele mesmo Lula que derrotou na eleição para presidente. Outrora, diziam um do outro coisas impublicáveis. Hoje, são só afagos. Perto da bandalheira que acontece nos dias atuais, PC Farias não passava de um trombadinha.
(*) Nilson Borge Filho é mestre e doutor em Direito, professor e articulistsa colaborador deste blog.
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