quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013


Governo da Bulgária renuncia após protestos da população Vladislav Punchev
Em Sófia

    Nikolay Doychinov/AFP
  • Manifestante joga pedra contra policiais durante protesto contra o governo no centro de Sófia, na Bulgária Manifestante joga pedra contra policiais durante protesto contra o governo no centro de Sófia, na Bulgária
A crise econômica e financeira na Europa fez nesta quarta-feira (20) uma nova vítima política com a renúncia do governo da Bulgária, liderado pelo populista Boyko Borisov, após dez dias de protestos da população contra os altos preços da eletricidade.

Trata-se de uma renúncia que o próprio Borisov tinha descartado 24 horas antes e que, no final, será formalizada amanhã, com uma moção de censura no Parlamento de Sófia, onde o partido governante (GERB) possui 117 das 240 cadeiras.

O chefe do GERB (Cidadãos para o Desenvolvimento Europeu da Bulgária), Krasimir Velchev, disse hoje que seus deputados votarão a favor da moção, apoiada por outros dois partidos, o que eleva para 194 o número de votos contra o executivo.

"Há unanimidade em nosso grupo - não podemos permitir que o nome do GERB esteja relacionado com a violência popular", afirmou Velchev, em referência aos enfrentamentos entre manifestantes e as forças da ordem que deixaram 25 feridos.

O dirigente governista confirmou, portanto, a pressão popular que provocou a renúncia do gabinete de Borisov, um ex-carateca e ex-guarda-costas, apelidado de "Batman" na Bulgária.

O próprio Borisov não deu as caras hoje perante a imprensa, mas justificou em carta aberta sua renúncia por não poder participar "de um governo que manda a polícia bater nas pessoas".

A oposição socialista, que hoje boicotou uma sessão do Parlamento, declarou através do seu líder, Serguei Stanishev, que amanhã estará presente na câmara e votará contra o governo, assim como o partido da minoria turca no país.

O presidente búlgaro Rosen Plevneliev terá três chances para formar um novo governo, começando pelo partido de maior presença parlamentar (o GERB), depois o segundo (os socialistas) e, finalmente, qualquer outra formação.

Após o previsível fracasso destas tentativas (de sete dias cada uma), o presidente dissolverá a câmara, convocará eleições e designará um Executivo técnico interino encarregado de preparar o pleito que pode ser realizado no final de abril.

Assim como formulou a oposição búlgara, que descartou participar de um governo antes de novas eleições, toda a responsabilidade política está nas mãos do chefe de Estado, um ex-ministro do GERB, que deverá escolher a equipe do Executivo técnico que terá dois meses para organizar as novas eleições.

Apesar do anúncio de renúncia de Borisov, os protestos populares não foram interrompidos. Milhares de pessoas se manifestaram na capital Sófia e em Varna, a segunda cidade do país.

Em Sófia, 2 mil pessoas se manifestaram nas proximidades do Parlamento contra o governo, enquanto centenas de simpatizantes de Borisov expressaram sua solidariedade com o primeiro-ministro.

Com uma forte presença dos agentes de segurança, a polícia búlgara evitou confrontos entre os dois grupos.

"Os protestos continuarão porque exigimos reformas na Constituição que permitam a participação cidadã de pelo menos 50% em todos os níveis de poder", publicou hoje em sua página no Facebook, Yanko Petrov, um dos organizadores das manifestações, convocadas através da rede social.

"Se os partidos políticos se declaram contra (esta exigência), significa que não devem ter lugar na Bulgária", concluiu o ativista em sua mensagem.

Os protestos, que originalmente se organizaram contra os altos preços da eletricidade e os monopólios, se dirigem agora também contra toda a classe política.

Muitos na Bulgária culpam às elites políticas, desde a queda do regime comunista em 1989, pela miséria no país, que também não melhorou após a entrada na União Europeia (UE) no ano 2007.

O salário médio está em torno dos 350 euros mensais e as pensões não chegam aos 100 euros. A Bulgária ocupa junto com a vizinha Romênia as últimas posições entre os 27 países-membros da UE.

Após cinco anos de crise, vários governos europeus foram forçados a renunciar ou sofreram fortes derrotas eleitorais como no caso de Grécia, Espanha, Itália, Portugal e Romênia.

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