segunda-feira, 20 de outubro de 2014

19/10/2014
 às 11:28 \ Liberdade de Imprensa

Sobre a “demissão” de Xico Sá: a Folha mereceu a repercussão negativa!


Xico Sá
Não havia comentado nada sobre a “demissão” de Xico Sá da Folha por que simplesmente não sabia quem ele era até o episódio ganhar as redes sociais. Já tinha escutado seu nome, pois gente da esquerda caviar gostava de citá-lo por aí. Mas nunca tinha lido nada dele. Parece que escrevia no caderno de “Esportes”, o que explica minha ignorância: não costumo ler tal caderno, por um misto de falta de tempo e de interesse.
O resumo: Xico Sá queria declarar seu voto em Dilma, o jornal “não deixou”, disse que seu espaço ali não era para isso, tem sua política interna da casa, e recomendou que escrevesse para o caderno de “Opinião”. O homem não gostou da “censura”, pediu demissão, e espalhou por aí que foi demitido e censurado, gerando uma comoção da elite burguesa contra o jornal “golpista” da elite burguesa.
Antes de continuar: posso não conhecer Xico Sá, mas se declara voto em Dilma já desconfio automaticamente ou de sua inteligência ou de sua honestidade, quiçá de ambos. É que, parafraseando Meira Penna, “os marxistas (petistas) inteligentes são patifes; os marxistas (petistas) honestos são burros; e os inteligentes e honestos nunca são marxistas (petistas)”. Até hoje não encontrei prova contrária.
Mas voltemos ao Xico Sá. A ombudsman atual da Folha, Vera Guimarães Martins, escreveu hoje sobre o assunto. Seu tom é mais crítico para o lado do jornal, especialmente sobre sua política de não permitir a abertura dos votos, uma vez que o viés de cada um fica bastante evidente para o leitor. Seria hipocrisia, portanto, impedir essa declaração de voto. O jornal tem seus argumentos:
A Secretaria de Redação diz que a regra foi estabelecida para prevenir que as colunas regulares do jornal se transformem em palanques em época de eleição. “Foi instituída também com a finalidade de estimular seus autores a estabelecer um diálogo qualificado com leitores de todos os matizes ideológicos e partidários, inclusive com aqueles, majoritários no público que lê a Folha, que não demonstram afinidades político-partidárias.”
Mas isso escapa ao principal, em minha opinião: jornal é propriedade particular, tem dono. E quem tem o direito e a liberdade de decidir os critérios de aprovação de textos é o proprietário. Censura é um termo bem mais adequado para ações do governo. No mercado, se não gosto de um produto, sou livre para simplesmente evitá-lo. Ninguém é obrigado a comprar a Folha ou a escrever para o jornal.
Os veículos de imprensa buscam pluralidade de olho na própria demanda. Claro que podemos ter veículos de nicho, como certas revistas que só vendem – e pouco – para a turma de esquerda, e precisam compensar a falta de verba de anunciantes com verbas estatais, defendendo o governo em troca. Mas a pluralidade é uma escolha, ainda que normalmente acertada.
O problema é que alguns proprietários de jornal levaram isso ao extremo do absurdo. Em nome da pluralidade, passaram a dar espaço para gente que literalmente odeia e abomina o próprio jornal em que escreve. Qual o sentido disso? Qual a lógica de abrir sua casa para quem te odeia e quer te destruir? Tentando manter uma aparência de plural e tolerante, esses proprietários atraíram a intolerância para dentro de sua casa, e deram voz a quem pretende difamá-los.
Por que a Folha contratou um sujeito como Guilherme Boulos, por exemplo? O líder do MTST é, para começo de conversa, um defensor do crime, pois da última vez que chequei o código penal, ele ainda condenava as invasões de propriedade. Boulos cospe na propriedade privada, na “imprensa burguesa”, na “elite”, e escreve no jornal burguês de elite? Por que abrir seu canal para gente que te acusa de “golpista”? Para não parecer golpista? É uma concessão covarde aos fanáticos de esquerda.
Vejam o que a ombudsman disse sobre o caso:
Xico é uma pessoa querida, mas não posso deixar de mencionar duas atitudes que me incomodaram no episódio de sua saída.
A primeira é que sua “saraivada de posts de escárnio e maldizer nas redes sociais”, como ele definiu em longa nota no Facebook, embolou na mesma vala de suspeição e descrédito todos os jornalistas. No seu “espasmo de ira”, retratou os colegas como pusilânimes que se sujeitam a contar mentiras para produzir um “jornalismo safado”.
A segunda foi escrever que mentiu muito quando era repórter de Folha e “Veja” e que um dia vai contar “tudo o que sabe” sobre assuntos que os grandes jornais não deixam publicar. Conte mesmo, Xico. Insinuações vagas não melhoram o jornalismo, pioram a política e mancham sua biografia. 
Bom, aqui o escritor parece ter confessado que mentia muito, o que já resolve a dúvida que levantei acima, sobre inteligência ou honestidade. Escrevo para o blog da Veja e posso afirmar com a maior tranquilidade de consciência que não adoto a mentira como meio de vida. Talvez por isso eu tenha tanto asco do PT, enquanto Xico Sá é seu eleitor.
Cabe perguntar: o que leva alguém que julga um jornal ou uma revista um instrumento “golpista” e “safado”, “mentiroso” e “manipulador”, a escrever nesse mesmo jornal ou revista? Eu não aceitaria, por exemplo, ser colunista de certas revistas ou blogs que possuem apenas propaganda estatal. Questão de princípio: pratico aquilo que prego.
Por fim, acho que em certo sentido a Folha mereceu a repercussão negativa do caso, colando no jornal a pecha de “censurador”. Afinal, quem mandou contratar, para começo de conversa, esse tipo de gente, que cospe no próprio patrão?
Rodrigo Constantino

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