segunda-feira, 27 de abril de 2015


Não é uma questão de “divergências”, mas de diagnóstico



Por Olavo de Carvalho
O tipo de charlatão contumaz que encarna na sua pessoa a “cultura do fingimento”, da qual falava Roger Scruton, caracteriza-se pelo uso muito peculiar que faz dos chavões e frases feitas. Estes esquemas verbais “prêts-à-porter” servem para muitas coisas. Um cidadão sem muita cultura ou sensibilidade literária pode usá-los para descrever imprecisamente fatos e experiências cujos equivalentes verbais exatos escapam ao seu repertório. O charlatão emprega-os como instrumentos dotados de força própria, independente de quaisquer fatos ou experiências que, em vez de expressar, eles substituem. O ignorante inocente apela aos chavões como instrumentos de expressão; o charlatão, como instrumentos de falsificação.
O ignorante inocente recorre, por exemplo, ao chavão “intolerância à divergência” para explicar que não o deixaram falar numa assembléia. O fingidor psicopático usa o mesmo chavão para falar de alguém ao qual ele jamais tentou expor divergência alguma e que, decerto, jamais o impediu de fazê-lo. Os dois dão igualmente a impressão de queixar-se de opressores. A diferença é que o primeiro sofreu alguma opressão. O segundo, ao contrário, finge sofrê-la para poder praticá-la.
Estou começando a desconfiar que o fingimento do Villa não é histérico, é psicopático mesmo. É uma questão de comparar currículos. A desproporção entre o conceito de que desfruto nos meios intelectuais internacionais e o prestígio local do pobre Villa num ambiente jornalistico de III Mundo é tão monstruosa, que só reunindo toda a força do blefe psicopático pode ter ele dado a impressão de que era um grande acadêmico falando de um zé-mané sem obra ou referências.
É característico da mente psicopática não ter sentimentos mas saber produzi-los – e infundi-los na platéia — por imitação das suas feições exteriores. O sr. Villa não pode estar realmente indignado com a minha apologia de “um Estado forte” (sic), porque jamais a fiz. Mas pode fingir que está, e fingi-lo com tão perfeito desempenho cênico, que a platéia se convence de que não faço outra coisa na minha porca vida.
Consultado pela Rachel Scheherazade logo após sua explosão de cólera anti-olavística na Veja TV, o sr. Villa disse que tudo não havia passado de um malentendido. Horas depois, repetia o ataque, em dose dobrada, na Jovem Pan. Isso não é fingimento histérico. É mendacidade psicopática.
Nos primeiros minutos, até me senti ofendido com o que o Villa disse. Agora já não me sinto mais. A conversa passou do terreno da política e das ofensas pessoais para o da psiquiatria forense.


link:

http://tercalivre.com/2015/04/27/diagnostico/




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