quinta-feira, 25 de outubro de 2012

É complicado!


Como se estimula o consumo de carro num país com estradas péssimas e investimento mínimo em transporte público?

Contradição máxima em duas das principais notícias que pautam jornais e blogs no Brasil nas últimas horas.
Como um país pode estimular o consumo de automóvel com uma malha rodoviária em moldes de queijo suíço?
Pois é exatamente esta situação observada por aqui.
Ao se cruzar a informação de que a presidente Dilma (PT) prorrogou a redução de IPI com os dados de uma pesquisa que aponta que 62,7% das estradas nacionais estão entre os conceitos regular e péssimo, o que se pode concluir?
Que, no mínimo, há um descompasso na gestão. Ou ainda que o poder público desligou-se da realidade.
Claro que existem pressões de ordem econômica que, numa avaliação superficial, podem justificar a extensão do estímulo ao consumo de carros:
A indústria automobilística gera carradas de empregos e dela depende uma cadeia produtiva gigantesca.
Ou seja, além de assegurar postos de trabalho, o IPI mais baixo aquece negócios de pneus, autopeças, som, combustíveis e uma infinidade de acessórios, tintas e por aí vai.
Mas o benefício de uns é a degraça de outros. Menos impostos implica, por exemplo, na queda de recursos que formam o Fundo de Participação dos Municípios (FPM).
E, com o FPM reduzido, boa parte dos municípios brasileiros apresenta sintomas de quebradeira.
Isso, porém, é apenas um dos aspectos esquisitos nessa medida do governo federal.
A predileção pelo socorro constants à indústria automobilística acontece sem que haja ampliação e melhoria do transporte público.
Ao que parece, ao governo só interessa que todos tenham o seu carro próprio.
E sem ter como ir trabalhar utilizando metrô ou ônibus decentes e suficientes, o cidadão opta por sair de casa com o seu bem de quatro rodas.
Em suma, o poder público está contribuindo acintosamente para o engessamento das cidades que, curiosamente, provoca um gigantesco prejuízo para o país (perde-se dinheiro, além de tempo no trânsito).
Isso sem falar que esse quadro de pouca oferta de transporte público é sinônimo de subdesenvolvimento – situação que confronta com os festejados índices de crescimento do país.
Pelo que se vê, a presidente está de vestido curto. Usa uma parte para cobrir um setor (em nome do salvamento do Brasil dos efeitos da crise mundial) e descobre áreas vitais para o andamento da nação.
Voltando à pesquisa da CNT, vê-se que os números traduzem o sentimento de milhões de motoristas e pedestres em todo o país.
A situação das estradas federais e estaduais piorou no último ano. Buracos, desgaste no pavimento e sinalização precária estão entre os fatores que fizeram com que 62,7% das rodovias nacionais recebessem conceito de regular a péssimo.
Em 2011, esse percentual foi de 57,4%.
Em Pernambuco, a situação também é preocupante. Dos 3.107 km percorridos pela CNT, 70,7% estão entre regular, ruim e péssimo – índice ligeiramente maior que o do ano passado, de 70,3%.
Só 1,8% das estradas em Pernambuco, o que corresponde a 57 km, foi considerado ótimo, o que ainda fica abaixo da média do Nordeste, de 3,9%.
A pesquisa, publicada nesta quarta-feira, considerou o pavimento, a sinalização, o traçado e a infraestrutura de apoio, como postos de gasolina e restaurantes.
A avaliação de Pernambuco, segundo a CNT, reflete a realidade de todo o país, que tem estradas com mais de 30 anos de uso, sem manutenção adequada e com sobrecarga de veículos.
“O que ocorre é que o país ficou muito tempo sem investir na infraestrutura de transporte, principalmente nas rodovias, e agora não comporta a expansão da frota”, analisou o diretor-executivo da CNT, Bruno Batista, em matéria publicada pelo Diario, assinada pela repórter Ana Cláudia Dolores.
Essa realidade pode ser constatada a BR-101 em Pernambuco. Apesar de ter boa pontuação na pesquisa, nem toda a rodovia está em bom estado.
A pior parte fica no contorno do Recife, onde buracos se multiplicam. A rodovia está sem receber investimentos por causa de uma negociação emperrada entre o governo do estado e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). O acordo que pode ser fechado é que o estado instale o Bus Rapid Transit (BRT) no trecho metropolitano e o Dnit recupere as pistas. “Esse contorno existe há mais de 30 anos e nunca houve restauração. Estamos aguardando o fechamento do termo de compromisso para começar a atuar”, disse o superintendente regional do Dnit, Euclides Bandeira.
Entre dezembro deste ano e janeiro de 2013, o Dnit promete iniciar um programa que investirá R$ 1 bilhão em 2.150 km nas federais em Pernambuco.
O governo do estado tem um plano nesse sentido, o Caminhos da Integração. A Secretaria de Transportes informou que dos R$ 2 bilhões previstos para serem executados até 2014, o estado investiu pouco mais da metade. De acordo com a secretaria, a má conservação se deve às condições climáticas.
“O resultado ainda traz o reflexo do impacto das chuvas ocorridas entre 2010 e 2011, que aceleraram o desgaste e prejudicaram a execução de diversas obras”, informou a nota.
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