sexta-feira, 5 de setembro de 2014

América Latina

Venezuela limita compras em supermercados privados

Governo quer impedir que pessoas comprem o mesmo produto duas vezes na mesma semana. Medida desastrada é paliativa e pune a população

O presidente venezuelano Nicolás Maduro
O presidente venezuelano Nicolás Maduro (Carlos Garcia Rawlins/Reuters/VEJA)
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, decretou na noite desta quarta-feira a instalação de um mecanismo de “controle biométrico" para limitar as compras de produtos e alimentos nos supermercados e mercados públicos e privados do país. "A ordem já está dada, através da superintendência de preços, para que se crie um sistema biométrico em todos os estabelecimentos e redes distribuidoras e comerciais da República", disse Maduro durante mensagem em rede nacional de rádio e TV. A regulação do consumo nas redes públicas já vinha sendo aplicada sistematicamente na Venezuela desde o início do ano, mas é a primeira vez que o governo Maduro interfere nas redes privadas de supermercados do país. Em 2010, o então presidente Hugo Chávez desapropriou as lojas da cadeia de supermercados Exito, do grupo francês Casino.
Com a escassez crônica, o mercado negro – mantido por pessoas que estocam produtos básicos para revendê-los – na Venezuela é uma alternativa aos supermercados estatais vazios, porém limitar o consumo não é uma medida que ataca a origem do problema: a péssima gestão econômica do país. Há ainda outra questão problemática na medida anunciada por Maduro, pois limitar o consumo em redes privadas é um ato ilegal, que interfere na administração e nos possíveis lucros das empresas. A medida desastrada ainda penaliza justamente a parte mais afetada pela escassez, a população.
Leia também
Ministros dão carta branca para Maduro mudar o governo

Maduro nomeia filha de Chávez embaixadora na ONU
Chefe de aliança opositora renuncia ao cargo na Venezuela

O mecanismo utilizará leitores óticos de impressões digitais para reconhecer cada comprador de produtos básicos. Segundo Maduro, "o sistema biométrico será perfeito" e servirá para evitar o que chamou de "fraude" envolvendo milhões de litros de gasolina e toneladas de alimentos subsidiados pelo governo, no momento em que a Venezuela enfrenta a falta de diversos produtos básicos e uma inflação anual que supera os 60%.
O sistema visa a impedir que uma pessoa compre o mesmo produto duas vezes na mesma semana, em qualquer supermercado das redes governamentais e privadas da Venezuela. Vários funcionários do governo Maduro indicaram que no prazo de 90 dias haverá um "programa piloto" para iniciar a venda controlada de produtos básicos no país "de maneira ordenada e justa".
Maduro também anunciou "um sistema de referência" que processará a informação de tudo o que for distribuído e armazenado "para todos os produtos e insumos que movem a economia do país". O presidente ordenou ainda o "confisco, de maneira imediata, de todos os elementos" utilizados para contrabando, incluindo galpões e veículos, que serão revertidos para os programas estatais de alimentos. Maduro convocou as forças militares e policiais para deter todos os envolvidos em desvios e contrabando.
Leia mais
Supermercado estatal é o retrato da falência da Venezuela
Venezuela: crise e escassez fazem roubos de alimentos dispararem


O sistema de controle de compras é a mais nova tentativa paliativa de Maduro para combater a escassez causada pela ingerência econômica de seu próprio governo. Desde março, as compras na rede estatal de supermercados – com preços subsidiados – são possíveis apenas dois dias por semana e com limite de produtos por consumidor. Os venezuelanos interessados são fichados e recebem senhas, que funcionam em sistema de rodízio. Nas segundas-feiras podem comprar aqueles com as senhas terminadas em 1 e 2, 3 e 4; às terças e  quartas-feiras são os dias para os finais 5 e 6, 7 e 8. As quintas e sextas-feiras são reservadas aos consumidores com senhas que terminam em 9 e 0.
A Venezuela atravessou uma violenta onda de protestos entre fevereiro e final de maio devido à inflação, à falta de produtos básicos – como papel higiênico, açúcar, farinha ou leite – e à altíssima violência que provoca em média 65 mortes por dia no país. Os protestos foram repreendidos e resultaram na morte de mais de 40 pessoas, além de mais de 700 feridos.
Foto 1 / 11
Ampliar Fotos
Imagem de Hugo Chávez recepciona os clientes que perderão horas tentando encontrar produtos em um supermercado estatal desabastecido
Imagens de Hugo Chávez recepcionam os clientes que perderão horas tentando encontrar produtos em um supermercado estatal desabastecido - Diego Braga Norte/Veja.com/VEJA
(Com agência France-Presse)



link:

 http://veja.abril.com.br/noticia/mundo/venezuela-limita-compras-em-supermercados-privados

Nenhum comentário:

Postar um comentário