quinta-feira, 28 de agosto de 2014

28/08/2014
 às 19:55

A grande bobagem de Marina. Ou: Como fraudar a história e influenciar pessoas

Há certas coisas que são um tanto penosas porque nos obrigam a contar o óbvio como se fosse uma revelação. Nesta campanha eleitoral, não é apenas a lógica que está sendo aviltada. Também a história passa por um rebaixamento emburrecedor. Vamos ver. Marina Silva, candidata do PSB à Presidência, participou da Fenasucro, a feira internacional de tecnologia sucroenergética, na cidade de Sertãozinho, interior de São Paulo. A candidata tenta se aproximar do agronegócio, setor que foi hostilizado por ela durante muitos anos. Nesta sexta, ela participará de um jantar na capital paulista com 40 empresários do ramo, a convite de Plínio Nastari, presidente da Datagro, uma consultoria de etanol e açúcar. Muito bem.
No seu discurso, Marina tentou responder a críticas mais ou menos veladas que tem recebido do tucano Aécio Neves e da petista Dilma Rousseff. Afirmou duas coisas estupefacientes:“Muita gente, no Brasil, diz que não podemos ser governados por amadores do sonho. Ou apostam no sonho ou vamos continuar nas mãos dos profissionais, dos que fazem escolhas incorretas. A escolha tem de ser feita por essa gente que tem o sonho amador.”E ainda:“Tenho certeza de que é melhor conversar com FHC do que com ACM e de que é melhor conversar com Lula do que com Sarney”.
Então vamos lá. Nego-me a comentar essa bobajada de “amadores dos sonhos”. Não sei o que quer dizer. Quando Marina me apresentar tais quadros, então a gente conversa. O que me interessa é a fraude histórica. O que a candidata quer dizer quando pergunta se é melhor conversar com FHC ou com ACM? Vamos recuperar os fatos. O próprio FHC conversou com ACM para, por exemplo, aprovar o Plano Real. Sem o PFL, então o maior partido do Congresso, isso teria sido impossível. A quem o então presidente deveria ter apelado? Ao PT, que recorreu ao Supremo contra o Plano? Gente como a própria Marina, diga-se, lutou contra o Real, contra as privatizações, contra a Lei de Responsabilidade Fiscal.
A candidata indaga ainda: “Melhor dialogar com Sarney ou com Lula?”. Ora, cabe perguntar a esta senhora por que o próprio Lula sentiu a necessidade de conversar com Sarney. Sabe, de fato, o que isso quer dizer? Que Marina Silva está dizendo a seus interlocutores que é possível governar sem o Congresso. Ou que ela conseguirá a maioria necessária para aprovar algumas de suas propostas apenas na base da saliva. “Ah, então é o vale-tudo ou a ingovernabilidade?” Não! Mas tampouco se consegue governar o país convocando só os varões — e varoas — de Plutarco.
Algumas pessoas descumprem promessas depois de eleitas. Marina já as descumpre antes — se é que vai se eleger. É a nova política.
Por Reinaldo Azevedo


link:

http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/a-grande-bobagem-de-marina-ou-como-fraudar-a-historia-e-influenciar-pessoas/

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