quarta-feira, 10 de dezembro de 2014


Colômbia: a paz chegará com justiça ou com impunidade?



Santos estará submetido a pressões sem precedentes, porque foram os aliados ideológicos dos irregulares que emprestaram a ele um fundamental apoio para que ganhasse o segundo turno

O resultado das recentes eleições efetuadas na Colômbia gera inúmeras expectativas, entre elas, até que ponto o presidente Juan Manuel Santos terá que fazer concessões aos setores da extrema-esquerda durante seu segundo mandato.
É certo que Santos contava com um amplo respaldo popular, mas sua derrota no primeiro turno ante Oscar Iván Zuluaga, mostrava que requeria o apoio de um setor que, embora historicamente contrário à sua política social e econômica, está identificado plenamente com uma parte de sua gestão: os diálogos com as forças da narco-guerrilha.
O respaldo da esquerda e de outros setores políticos do país foi determinante, e esse apoio se produziu porque o candidato presidente reiterou seu compromisso de continuar os diálogos em Havana com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), ao mesmo tempo que anunciava que se iniciariam conversações de paz com a outra força irregular que opera no país, o Exército de Libertação Nacional (ELN), uma entidade também vinculada ao narco-tráfico e ao terrorismo que foi inspirada e apoiada desde Cuba.
A vitória de Santos não foi conseqüência do respaldo de seus partidários naturais, senão do oportunismo político de grupos anti-sistema, facções que têm como objetivo promover e instaurar governos populistas que procuram estabelecer ditaduras institucionais com a finalidade de se perpetuar no poder.
Ricardo Puentes Melo, diretor de Periodismo sin Fronteras, em um parágrafo de uma recente coluna, acusa o presidente Santos de unir a esquerda em torno de seus interesses comuns com as FARC, e com setores políticos corruptos do país.
Não obstante e para benefício do futuro da Colômbia, se surgissem quebraduras institucionais que pudessem facilitar o continuismo político pelo tipo de aliança que estendeu o mandato de Santos, o país conta com instituições sólidas, uma sociedade consciente de seus direitos e uma classe política de convicções firmes. Também está a experiência venezuelana e uma oposição de ampla base representada em Oscar Iván Zuluaga, que não foi derrotado de forma esmagadora, uma vez que conta com o apoio de 45 por cento do eleitorado.
Porém, o inimigo mais feroz da democracia colombiana não é a guerrilha, senão o desencanto com a política de amplos setores da população. A obstinação alcançou quase 60 por cento e esse sim é um inimigo que enterra as liberdades.
Vencer a abstenção entre o eleitorado, é tão importante quanto acabar com as forças irregulares.
A realidade é que as práticas do governo do presidente Santos permitem apreciar que está realmente comprometido em levar a paz a seu país por meio de negociações. Porém, se se produzirem esses ansiados acordos, qual será o preço a pagar pelo povo colombiano e em particular, por aqueles que foram e são vítimas das depredações e crimes dos irregulares que iniciaram sua luta, segundo diziam, para construir uma sociedade mais justa, porém no trajeto se converteram em vulgares criminosos vinculados entre outras ilegalidades ao tráfico de drogas?
Não resta dúvida que os setores que apoiaram o presidente em sua re-eleição pressionaram para que os acordos de paz concluam favoravelmente, como declarou a candidata do Polo Democrático Alternativo, Clara López Obregón, ao dizer: “Vou votar pela paz da Colômbia na cabeça do presidente Juan Manuel Santos”, esta candidata obteve no primeiro turno quase dois milhões de votos e Santos ganhou de Zuluaga por menos de oitocentos mil no segundo turno.
Outra mostra é que, enquanto na capital do país uma área na qual a esquerda conta com maioria eleitoral desde vários anos, o candidato presidente obteve no primeiro turno uns 500.000 votos, no segundo turno alcançou 1.300.000.
A professora Beatriz Franco da Universidade do Rosario manifestou: “A decisão de ontem dos colombianos é um compromisso para todos, para as FARC, para o ELN, para o presidente que deve estar à altura e para os políticos que o apoiaram e que terão que desenhar, desde o Congresso, todas as mudanças estruturais que se necessitam”.
O compromisso é muito sério, e é de se esperar que o Presidente faça todo o possível para chegar a acordos com as FARC e o ELN, sem fazer concessões que permitam à narco-guerrilha a vitória que não obtiveram com as armas. Deve-se ter em conta que o mandatário estará submetido a pressões sem precedentes, porque foram os aliados ideológicos dos irregulares que emprestaram a Juan Manuel Santos um fundamental apoio para que ganhasse o segundo turno.
O Presidente talvez esteja perto de conseguir a ansiada paz, porém, chegará ela com justiça ou com impunidade?
Tradução: Graça Salgueiro
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