GABRIELA GUERREIRO
DE BRASÍLIA
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A oposição acusou nesta sexta-feira o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de misturar interesses "nacionais com empresariais" ao viajar para o exterior bancado por empreiteiras que têm interesses nos locais de suas visitas.
Apesar de congressistas da oposição afirmarem que o pagamento das viagens não é ilegal, eles dizem que Lula deveria agir "às claras" em relação aos seus patrocinadores.
"Se ele quer fazer lobby, que faça às claras, que receba honorários para isso. Feito por baixo dos panos é indecoroso. O problema é confundir o interesse de uma empresa com os interesses do país", disse o líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP).
Para o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), o pagamento das viagens pelas empreiteiras mostra que Lula beneficiou as empresas no período em que esteve no comando do país. "Fica a impressão de benefícios governamentais retribuídos com vantagens posteriores ao mandato. É importante que o ex-presidente esclareça isso", afirmou o tucano.
Líder do PPS na Câmara, o deputado Rubens Bueno (PR) disse que Lula manteve "relações incestuosas" com as empreiteiras no governo, que agora vêm à tona com o pagamento de suas viagens. "É a relação incestuosa de um ex-presidente cujo partido está no poder, liberando recursos para esses financiadores de campanha que pagam suas viagens e financiam o seu partido", afirmou.
O PPS vai defender a aprovação, na Câmara, de projeto que proíbe a doação de pessoas jurídicas nas campanhas eleitorais. O texto, que tramita na Casa, vai permitir apenas que pessoas físicas possam fazer doações, no limite de R$ 2.000. O objetivo, segundo Bueno, é evitar as relações "promíscuas" entre grandes empresas e o governo.
"O Lula está agindo nessas viagens não como defensor dos interesses da nação, mas como mercador do PT e de seus financiadores de campanha", disse o deputado.
VIAGENS
Reportagem publicada pela Folha nesta sexta-feira mostra que quase metade das viagens internacionais feitas pelo ex-presidente Lula após deixar o governo foi bancada por grandes empreiteiras com interesses nos países que ele visitou.
Todos eles ficam na América Latina e na África, de acordo com documentos oficiais obtidos pela Folha. As duas regiões foram prioridades da política externa do petista em seus dois mandatos.
A assessoria do ex-presidente diz que ele trabalha para promover "interesses da nação" e não das empresas que bancam suas atividades.
Mas políticos e empresários familiarizados com as andanças de Lula disseram à Folha que ele ajudou a alavancar interesses de gigantes como Camargo Corrêa, OAS e Odebrecht nesses lugares.
Um telegrama diplomático de novembro do ano passado, enviado ao Itamaraty pela embaixada do Brasil em Moçambique após uma visita de Lula, diz que ele ajudou empresas brasileiras a vencer resistências locais ao "associar seu prestígio" a elas.
Desde 2011, Lula visitou 30 países, dos quais 20 ficam na África e América Latina. As empreiteiras pagaram 13 dessas viagens. Na última terça-feira, Lula iniciou novo giro africano, começando pela Nigéria, e patrocinado por Odebrecht, OAS e Camargo Corrêa.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
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