terça-feira, 30 de abril de 2013

Novas restrições intensificam crise cambial na Argentina

Atualizado em  22 de março, 2013 - 07:14 (Brasília) 10:14 GMT
Cristina Kirchner
Dólar registra volatilidade no mercado paralelo desde anúncio de medidas do governo de Cristina Kirchner
As novas medidas do governo da presidente Cristina Kirchner para o setor de câmbio, que desta vez significam o aumento das taxas para os gastos com cartão de crédito no exterior e outros itens do setor de turismo, como pacotes de viagens, sacudiram o mercado cambial argentino esta semana.
A medida foi divulgada na segunda-feira, e desde então a cotação do dólar voltou a registrar volatilidade no mercado paralelo. A moeda americana superou a barreira dos oito pesos na quarta-feira, e nesta quinta-feira, apesar da leve queda, fechou cotada a 8,45 pesos – diferença acima de 60% para a cotação oficial, de 5,1 pesos.
A iniciativa foi considerada pouco comum na agenda presidencial e gerou uma série de boatos na imprensa sobre mudanças na política cambial e substituição da presidente do Banco Central, Mercedes Marcó del Pont.
"Um dia de alarmes, boatos e disputas internas", escreveu o repórter de economia do Clarín Gustavo Bazzan. "Em meio a rumores, dólar 'blue' (no mercado negro) chegou a 8,75 pesos", publicou o La Nación em sua manchete.
Nesta quinta-feira, um cambista de uma loja na Avenida Santa Fé, que trabalha em uma 'cova' (cueva, em espanhol), como os argentinos chamam os esconderijos para a venda do dólar paralelo, disse à BBC Brasil, sob a condição do anonimato: "Terça e quarta foram uma loucura. Chegamos a vender dólar a nove pesos. Hoje (quinta) está mais calmo".

Várias denominações

Desde que o governo implementou o controle cambial, há 17 meses, no fim de 2011, o dólar ganhou diferentes denominações e cotações na Argentina.
"Dólar blue (paralelo), dólar turista (para os que viajam), dólar bolsa (na bolsa de comércio) e o dólar oficial", escreveu Bazzan, do Clarín.
Especialistas referem-se também ao "dólar-cartão de crédito" (que pode ser o mesmo que o turista) e ao "dólar-soja", referente à cotação da commodity.
A espiral na cotação da moeda americana no paralelo voltou a ser motivo de comentários entre os argentinos e de debates nas principais emissoras de rádio e de televisão do país.
"Não há motivos para preocupação. O dólar paralelo representa um mercado muito pequeno e que não afeta o rumo da nossa economia", disse o deputado governista Roberto Feletti à TV C5N.
Na sua visão, o "tipo de câmbio flutuante e administrado (pelo governo) está funcionando" e a prova, entende, é que as reservas do Banco Central continuam em tono de US$ 40 bilhões.
"No ano passado, o governo aguentou a volatilidade. Este ano, a economia está se recuperando e os indicadores estão tranquilos", afirmou Feletti, que foi vice-ministro da Economia no primeiro mandato da atual presidente.
O apresentador da emissora Chiche Gelblung, que o entrevistou, afirmou que os argentinos "de classe média, queira o governo ou não, continuam pensando em dólar e recorrendo à moeda americana para proteger seu dinheiro".
Para o economista Miguel Kiguel, existe uma "fuga do peso", a moeda nacional. A opção dos argentinos pelo dólar é conhecida, pelo menos desde os tempos da hiperinflação no país, na década de 1980.
A moeda americana é usada com frequência, por exemplo, na compra e venda de imóveis – setor que registrou forte queda desde o controle cambiário, de acordo com dados das câmaras imobiliárias.
Já a moeda brasileira, o real, que também faz parte do controle do governo, também possui duas cotações. A oficial está em torno dos dois pesos, e a paralela pode superar, dependendo do dia, a barreira dos quatro pesos.

Inflação

O ex-ministro da Economia Roberto Lavagna disse que o governo "gerou uma crise cambial que disparou o dólar paralelo e alimentou mais a inflação".
Dados oficiais indicam que a inflação anual está em torno de 10%. Mas analistas econômicos estimam que o índice supera 20%. Após a proibição do governo à divulgação de números paralelos da inflação, o indicador informal passou a ser informado, mensalmente, por parlamentares da oposição no Congresso Nacional.
"Cada medida de restrição adicional (ao dólar) provoca alta no dólar marginal, blue, negro ou como o queiram chamar", disse Lavagna à rádio Mitre, da capital argentina.
Lavagna foi ministro no governo do ex-presidente Nestor Kirchner, antecessor de Cristina, sua viúva. Segundo ele, o controle cambial "continua aumentando a desconfiança na economia" argentina.
Como outros economistas, ele também interpretou que a nova medida, que aumentou o imposto para o uso de cartões no exterior, foi responsável pela nova turbulência no mercado cambiário local.
O uso de cartão de crédito no exterior vinha sendo apontado como "vantajoso" diante das limitações de acesso ao dólar no mercado oficial, que depende da autorização formal da Administração Federal de Ingressos Públicos (Afip, a receita federal argentina) para cada contribuinte.
Após ter imposto a medida de controle cambial, em 2011, Cristina Kirchner anunciou que passava seus depósitos em dólares para pesos e pediu que seus ministros e outras autoridades fizessem o mesmo.
Alguns deles disseram publicamente que não poderiam atender à determinação da presidente, como o governador da província de Buenos Aires, Daniel Scioli, que argumentou questões médicas para preservar sua poupança em dólares e não passá-la para a moeda nacional

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