quarta-feira, 24 de julho de 2013

Pressões contra o governador de Buenos Aires e contra a Justiça, na sucessão presidencial

Um fofoqueiro informado sussurrou uma mensagem no ouvido de um proeminente membro do Poder Judiciário: “Eles querem a nossa cabeça, mas primeiro eles vão querer a cabeça de vocês”.   ‘Nós’, é a Justiça; ‘vocês’, a cabeça do governador de Buenos Aires, Daniel Scioli.
Cada vez que o dia começa, o governo de Cristina Kirchner se dispõe a desencadear uma nova batalha, a investir contra um novo ou velho inimigo.


Por RICARDO KIRSCHBAUM


Não concebe a política de outra maneira a não ser com essa concepção de terra arrasada.



Quando só restar terra deserta à sua frente, o governo buscará a forma de declarar guerra às pedras.



Com Scioli, que governa o maior distrito eleitoral do País, a mensagem se cumpriu.


O sindicalista Hugo Moyano, da Central Geral dos Trabalhadores (CGT), verbalizou: querem tombar o governo da província de Buenos Aires e assegurar para eles, nesta praça, um político incondicional, como o vice-governador, Gabriel Mariotto (aliado da Presidência).



Saíram em manada a negar tudo isso, mas em cada desmentida ficou a marca da evidência.



Será que Cristina não necessita mais de Scioli em um território onde uma boa parte dos votos são emprestados?


O governo não se detém nessas especulações: quer vê-lo fora porque Scioli colocou suas aspirações em branco e preto.



Isto é, ser o sucessor de Cristina em 2015 se a Presidente não puder reformar a Constituição (para disputar o terceiro mandato).


E o governador sabe que será muito difícil que o cristinismo atinja esse objetivo, desde que sejam respeitados os procedimentos previstos na Carta Magna.


A resposta a Scioli foi que não existe ninguém que possa suceder Cristina.


Só ela mesma.



Uma forma de galvanizar a polarização.


Por via das dúvidas, as pressões para que o vice-presidente da República, Amado Boudou, saia do pântano judicial em que se meteu, pensando que a impunidade estava garantida para ele, começaram.


É curioso: Boudou é um dos funcionários com pior imagem e quase não pode se mostrar diante um público que não seja próprio (na Bienal de Veneza, a cerimônia de abertura do pavilhão argentino foi tão restrita e custodiada que até o diretor italiano da mostra quase ficou de fora por causa do zelo dos guarda-costas do vice-presidente).


Mesmo assim, querem anotá-lo na lista de candidatos das eleições presidenciais de 2015.


Outra versão surgida de mentes febris afirma que Cristina, se não puder se suceder a si mesma, seria candidata a governadora da província de Buenos Aires.


E de lá acossar o poder central.


O concreto é que as interrogações começarão a ter resposta nos próximos 15 dias (tempo de definições para as eleições legislativas de outubro).


Já se sabe que Scioli não romperá, que parte de seu aparelho apoia (o deputado opositor Francisco) De Narváez, que o prefeito de Tigre, Sergio Massa, da província de Buenos Aires, inscreverá seu partido e que a ministra de Desenvolvimento Social, Alicia Kirchner, tem um bom caudal de votos, mas pode repetir a performance do irmão, o ex-presidente Néstor Kirchner, em 2009, perdendo a eleição legislativa.


E que na Capital Federal, a cidade de Buenos Aires, uma frente de centro-esquerda pode ser uma alternativa.


O macrismo, liderado pelo prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri, está preocupado e os kirchneristas estão com medo de perder outro senador.


A Suprema Corte, por último, logo decidirá o destino do coração da reforma judicial, defendida por Cristina.



O único juiz que poderia votar a favor, Eugenio Zaffaroni, também não se animaria ao vexame e viajaria novamente para o exterior.



Por último, se a eleição direta e popular de conselheiros para o Conselho da Magistratura (responsável por fiscalizar juízes) for derrubada as eleições primárias de agosto serão mantidas?



(Pelo calendário eleitoral, as primárias seriam em agosto e as legislativas em outubro. Os candidatos ao Conselho deveriam fazer parte das listas dos candidatos políticos, o que levou a oposição a apontar a determinação de Cristina de “politizar” o Judiciário).


Fonte:
http://www.clarin.com/br/Pressoes-Cristina-Buenos-Aires-Justica_0_934706978.html


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