quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Vamos falar de economia!

A respeito de inflação!


1. Inflação é um aumento na quantidade de dinheiro e de crédito criado em decorrência desta criação adicional de dinheiro. A principal e mais visível consequência da inflação é a elevação dos preços. Portanto, uma inflação de preços — atenção para o termo correto — é causada unicamente pelo aumento da quantidade de dinheiro na economia.
2. A quantidade de dinheiro na economia é uma variável decorrente das políticas monetárias do governo — mais especificamente, de seu Banco Central.
3. Um dos principais motivos para a criação de mais dinheiro é a existência de um orçamento deficitário por parte do governo. Orçamentos deficitários são gerados por gastos crescentes e extravagantes, os quais o governo é incapaz de cobrir utilizando exclusivamente suas receitas de impostos. Gastos excessivos decorrem principalmente dos esforços do governo em redistribuir riqueza e renda para setores privilegiados — isto é, esforços para retirar recursos dos produtivos para sustentar os improdutivos de todas as classes. Isto corrompe a ética e desestimula os incentivos trabalhistas tanto dos produtivos quanto dos improdutivos.
4. As causas da inflação de preços não são, como se diz frequentemente, "múltiplas e complexas"; elas são simplesmente a consequência inevitável de uma criação excessiva de dinheiro. Não existe algo como "inflação gerada pelo aumento dos custos". Se salários e outros custos trabalhistas ou de produção forem forçados para cima, mas não houver um aumento na quantidade de dinheiro na economia, e os produtores tentarem repassar estes aumentos aos consumidores elevando os preços de venda, a maioria deles irá apenas vender menos produtos. O resultado será um menor nível de produção e a perda de empregos. Custos maiores podem ser repassados para os preços somente quando os consumidores têm mais dinheiro para pagar por estes preços mais altos.
5. Controles e congelamentos de preços não podem interromper ou arrefecer a inflação de preços. Eles podem, no máximo, atrasar a sua manifestação. Pior ainda: eles irão sempre desorganizar a economia. Controles de preços simplesmente comprimem ou eliminam por completo as margens de lucro, desarranjam a estrutura de produção da economia, e geram gargalos e escassezes. Todo e qualquer controle de preços e salários implantado pelo governo, ou até mesmo a sua "monitoração", é apenas uma tentativa de políticos de jogar a responsabilidade pela inflação sobre produtores e vendedores, e não em suas próprias políticas monetárias.
6. Uma prolongada inflação nunca "estimula" a economia. Ao contrário, ela desequilibra e desorganiza a estrutura produtiva da economia, direcionando a produção e o emprego para investimentos que mais tarde revelar-se-ão insustentáveis, gerando prejuízos, desperdício de recursos escassos e maior desemprego. O desemprego assim gerado permanecerá em níveis elevados enquanto o salário demandado estiver acima do real valor de mercado — seja por demandas sindicais, por leis de salário mínimo (que mantém adolescentes e mão-de-obra pouco qualificada fora do mercado de trabalho) ou por prolongados e generosos seguros-desemprego.
7. Para se evitar estragos irremediáveis, a noção de que expansões monetárias podem estimular permanentemente a economia deve ser irreversivelmente rejeitada. Adicionalmente, o governo deve ser retirado por completo do controle da oferta monetária, deixando esta área a cargo das forças de mercado. Por fim, o orçamento do governo deve ser equilibrado o mais rapidamente possível, e não de maneira gradualista e indolor. O equilíbrio deve ser alcançado por meio de um acentuado corte de gastos, e não pelo aumento de uma carga tributária já extremamente elevada, que comprime salários e desestimula o trabalho árduo e a produção.


Henry Hazlitt
(1894-1993), um dos membros fundadores do Mises Institute, foi economista, jornalista e autor do livro Economia em Uma Única Lição.

Publicado no site do Instituto Ludwig von Mises Brasil.



Papel moeda não é dinheiro!



Papel-moeda não é dinheiro porque não é mercadoria (não tem valor intrínseco), não é raro e não é aceito de forma espontânea e universal.

As crises que têm convulsionado os Estados Unidos e que atualmente vão assolando a Europa têm causas já bem conhecidas, especialmente pelos economistas chamados de “austríacos”, muito embora continuem sendo negadas por razões de interesse da parte de certos grupos que compartilham o poder.

E não se enganem. O Brasil está muito longe da alegada imunidade que o governo tem proclamado. Em outras palavras: nós somos eles amanhã.
O propósito das linhas a seguir é explicar de uma maneira bem didática e fácil aos leitores um pouco mais leigos as três principais razões pelas quais o Ocidente passa por mais essa fogueira tão pouco depois da “irracional prosperidade”, segundo as palavras de um dos principais responsáveis por tal estado de coisas, o ex-presidente do Banco Central norte-americano, Alan Greenspan.  
Cabem os méritos a Ludwig von Mises por ter descoberto por que ocorrem os chamados “ciclos econômicos”, conhecidos em inglês pela expressão “Boom-Bust” (“boom” = explosão, no sentido de grande momento de prosperidade; “bust”= explosão ou estouro também, mas agora com o sentido inverso, isto é, de golpe, pancada, ou mais precisamente, quebra e falência).
Apenas como um aposto, digne-se mencionar o quanto os defensores dos ideais socialistas prezam os “ciclos econômicos”, que segundo eles, refletem não mais do que as contradições do capitalismo e a sua natural propensão histórica a ser substituído pela implantação do socialismo (“devenir histórico”). Todavia, o que precisa ser desmascarado é que os ciclos econômicos são o resultado de intervenções estatais concebidas justamente à moda socialista, mais especificamente sob as teorias keynesianas.
A saga da moeda percorreu por milênios um caminho tortuoso marcado por erros e acertos, bem como, em certa medida, também pelas condições tecnológicas disponíveis. A humanidade, em seus atos comerciais, deu um grande passo à frente ao descobrir as vantagens das triangulações das trocas, mediante a realização de transações com uma mercadoria que fosse universalmente aceitável e divisível (Um boi, por exemplo, seria inviável para adquirir, digamos, uma peça de roupa cujo valor de troca fosse menor). Daí por diante, tornou-se questão de aprimorá-la.
O antigo império romano já fez uso do sal para tal fim, daí a origem do termo “salário”, que era pago aos seus soldados. Entretanto, hoje esta mercadoria, embora ainda universalmente aceitável, demandaria grandes quantidades físicas para adquirir bens de pouco valor, donde se conclui que outra qualidade desejável para a moeda é a de ser relativamente rara.
Por fim, consagrou-se o ouro, pelas seguintes razões: é uma mercadoria (isto é, possui um valor intrínseco); é relativamente raro, é divisível (cunhável em moedas e barras de diferentes tamanhos), e é universalmente aceito de modo espontâneo.
Nos dias atuais, entretanto, não realizamos mais transações em ouro, mas por algo que recebe o nome de papel-moeda de curso forçado. Para que ninguém tenha dúvidas, trata-se de um mero pedaço de papel pintado (com alguns artifícios para dificultar a sua falsificação por terceiros), que não possui um valor intrínseco nenhum, não é relativamente raro (já explico adiante e detalhadamente por quê), e não é universalmente aceito de forma espontânea, mas ao contrário, tem a sua circulação tornada obrigatória pelo seu emissor, e é válido apenas em seu território (salvo algumas exceções, e ainda assim limitadas, como o dólar, o ouro e o yen).
Vamos agora às consequências práticas da diferença entre o padrão-ouro e o papel-moeda.
Por primeiro, quem tem moedas de ouro, tem as mesmas moedas em qualquer lugar do mundo. Pode ser que este ou aquele bem ou serviço custem mais caro em um país do que em outro, o que é muito normal, haja vista a diferença de disponibilidades de recursos naturais entre eles. Ainda assim, a pessoa que detiver uma certa quantia em ouro permanecerá com ela, que é sua propriedade e que tem valor.
Muito ao contrário, quem tem, digamos, reais em mãos, dificilmente há de conseguir trocá-los no exterior, a não ser em certos países vizinhos e mediante relações de troca bem desfavoráveis, de modo que, se alguém decidir fazer uma viagem para a Austrália, já terá chegado lá com uma significativa perda do seu poder aquisitivo antes mesmo de comprar um mero cartão postal.
A bem da verdade, manter reais consigo no próprio Brasil já implica em perda de poder aquisitivo, por conta do primeiro fator causador de crises que Mises apontou: o poder estatal de imprimir dinheiro.
Não é possível criar ouro. Há quem diga que isto seja possível, mas mesmo assim, seria anti-econômico (gastar-se-ia mais com o processo do que com o resultado). Porém, é possível imprimir mais notas, e é isto o que os governos mais fazem para custear seus gastos cada vez maiores.
Imprimir mais notas implica em realizar uma espécie de tributação, porque cada nota que temos em mãos, por tornar-se menos rara, perderá uma parte do seu valor de compra. É como se recebêssemos diariamente como salário um copo de leite e dia após dia o governo fosse adicionando, progressivamente, um pouco mais de água ao leite, com a finalidade de prover mais copos a mais pessoas. Em determinado dia, o copo de cada um permaneceria cheio, mas então de uma mistura praticamente transparente formada basicamente por água com algumas gotinhas de leite.
Arrecadar tributos sob a forma de expansão monetária (impressão de notas, ou mais modernamente, por meros comandos eletrônicos) é algo que os governos prezam e não abrem mão, por ser muito mais discreto do que decretar formalmente aumentos dos impostos, o que seria impossível no padrão-ouro.
Não bastante, outra forma de criar riqueza do nada, ou melhor, uma aparência de riqueza, prosperou com a invenção do papel-moeda: as chamadas reservas fracionárias bancárias.
Tratam-se de operações contábeis efetuadas pelos bancos segundo as quais se possibilita que o mesmo dinheiro que foi emprestado a João o seja também a Márcio, Paulo, Juliana, e assim por diante, praticamente sem solução de continuidade.
Se alguém vender um mesmo lote de terra a João e em seguida a José, ninguém duvidará que este sujeito praticou um ato de estelionato. Contudo, os bancos fazem exatamente isto, e o fazem sob proteção legal (às vezes ilegal também, eis que prosperam denúncias de vendas “a granel” de títulos de papel que dizem representar ouro físico!).
Com mais dinheiro impresso pelo governo ou mais créditos oferecidos pelos bancos sem que haja uma verdadeira produção de riqueza que lhes legitime, os beneficiários disputarão no mercado pela mesma quantidade de bens produzidos. Agora basta raciocinar com base na lei da oferta e da procura: se há mais pessoas disputando os mesmos bens, é óbvio que estes últimos aumentarão de preço.
Além disso, no antigo padrão-ouro os bancos somente podiam emprestar dinheiro a terceiros mediante contrato com os donos dos depósitos, sendo que, ao autorizarem suas disponibilidades, viam-se automaticamente sem elas. Desta forma, quem tomasse empréstimos tinha as matérias-primas para seus investimentos sob condição de oferta (e portanto, de preço) inalterada, já que os emprestadores ficaram temporariamente desprovidos exatamente daquelas quantias. Na verdade, ambos, emprestadores e tomadores tinham por acordo tácito justamente isto: segurar voluntariamente o consumo para investir e lucrar com o resultado futuro.
Porém, no atual sistema de papel-moeda e crédito praticamente ilimitado, as matérias-primas não estão à disposição dos investidores, porque os emprestadores continuam com o mesmo poder de compra, quiçá até mesmo aumentado. Isto significa que seus investimentos custarão mais caro do que o esperado, se não tiverem de esperar que se tornem fisicamente disponíveis. Isto fará com que os investimentos se malogrem, e daí, as crises.
Ainda, isto não é toda a desgraça a ser contada. No antigo regime do padrão-ouro, detinha moedas de ouro quem trabalhava e produzia, ou quem deles recebesse alguma quantia, e o governo possuía exatamente o fruto da arrecadação dos impostos, que não podiam ser majorados ilimitadamente sob pena de revolta ou colapso de toda a economia. Com o novo poder de criar dinheiro do nada, mediante a simples impressão de cédulas de papel, a cada dia os governos puderam aumentar seus gastos com funcionários públicos, aposentados, pensionistas e beneficiários de programas assistenciais, e foram neste rumo transformando significativamente a estrutura social, ao criar a cada dia mais pessoas dependentes. Isto é exatamente o que está acontecendo na Europa, onde há mais pessoas recebendo salários como funcionários públicos, como aposentadorias ou pensões, do que gente trabalhando e produzindo.
Aos amigos leitores que ultimamente têm assistido às chocantes cenas de revoltas na Grécia, podem ter certeza de uma coisa: quem por lá carrega o piano nas costas não participou de nenhum daqueles atos de vandalismo.
Resumindo, para fechar: impressão de dinheiro falso, empréstimo falso de dinheiro falso e estilo falso de vida e de estrutura social. Não é imprevisível de que um dia um grande acerto de contas teria de vir à tona. Veio.

Sempre enganando os bobos

Acho curioso o modo como por vezes são levados os debates. Se eu criticar os Estados Unidos pela guerra no Iraque ou pelo que acontece na prisão de Guantánamo, ninguém na face da terra vai me cobrar uma crítica ao regime cubano. Ninguém. Todos aceitarão que exerço um direito natural de opinião. Mas se disser qualquer coisa sobre a miséria, o totalitarismo e a opressão que pesa sobre a sociedade cubana imediatamente se forma fila para cobrar posição sobre abusos praticados pelos EUA. Entenderam? Junto à intelectualidade brasileira, para falar mal do comunismo tem que pagar pedágio.
Será o comunismo, como proclamam, uma utopia, uma ideia generosa? Seus 100 milhões de cadáveres devem ficar se revirando na cova. Foi um ideal alheio que lhes custou bem caro! Infelizmente mal conduzido, amenizam alguns cocmpanheiros. Que tremendo azar! Uma ideia tão generosa e não produziu um caso medíocre que possa ser exibido sem passar vergonha.Durante um século varreu com totalitarismos boa parte da Ásia e da África, criou revoluções na América Ibérica, instalou-se em Cuba e não consegue apresentar à História um único, solitário e singular estadista. Que falta de sorte! Tão generoso, tão ideal, tão utópico, e nenhuma coisa parecida como democracia para botar no currículo. E há quem creia que ainda pode dar certo.

Quanto ao sistema econômico que ficou conhecido como capitalismo (que não é sistema político nem ideologia), eu afirmo que seu maior erro foi aceitar conviver com uma designação deplorável. Contudo, chamem-no assim, se quiserem, embora, a exemplo de João Paulo II, eu prefira denominá-lo "economia de empresa". Suas vantagens sobre um modelo de economia centralizada, estatizada, são irrefutáveis na teoria e certificadas pela prática dos povos. É um sistema que não foi concebido por qualquer intelectual. É um sistema em construção na história, muito compatível, também por isso, com a democracia. Promove a liberdade dos indivíduos e a criatividade humana. Reconhece a importância do mercado. A maior parte dos países que adotam esse sistema atribui ao Estado, em sua política e em seu ordenamento jurídico, a tarefa de zelar pelo respeito às regras do jogo em proteção ao bem comum. Aliás, quem quiser organizar as coisas desconhecendo a autonomia do econômico, submetendo-o a determinações que contrariem o que é da natureza dessa atividade (lembram dos tabelamentos de preços?) vai se dar mal. Vai gerar escassez, câmbio negro, fome. Digam o que disserem os arautos do fracasso do sistema de economia de empresa em vista da crise que afeta alguns países, os embaraços deste momento só se resolverão com atividade empresarial, comércio, pessoas comprando, indústrias produzindo, pesquisa e investimento gerando, expandindo e multiplicando a atividade produtiva.

Outro dia, nas redes sociais, alguém acusou o capitalismo de haver matado milhões. E não deixava por menos. Dezenas de milhões! O sistema? Onde? O capitalismo pode não resolver muitos casos de pobreza. Mas essa pobreza sempre terá sido endêmica, cultural, estrutural, de causa política. Não se conhecem sociedades abastadas que tenham empobrecido com as liberdades econômicas. Tampouco confundamos economia livre, de empresa, com colonialismo ou mercantilismo. Qualquer economia que queira prosperar e realizar desenvolvimento social sustentável vai precisar do empreendedorismo dos empreendedores, da geração de riqueza e de renda, e de coisas tão desejáveis quanto produção e consumo, compra e venda, lucro, salário e poupança interna.
Quem quiser atraso vá visitar os países que ainda convivem com economias centralizadas: Coreia do Norte e Cuba, onde só o armamento da polícia e das forças armadas não é sucata. Ali se planta com a mão e se mata lagarta com o pé. E o povo vive da mão para a boca, prisioneiro do "ideal" generoso que alguns insistem em impingir aos demais.
O Brasil vem sendo governado por socialistas e comunistas há mais de uma década. Embora não ocultem, no plano da política, as intenções totalitárias que caracterizam sua trajetória, num sentido geral vêm respeitando os fundamentos do sistema econômico no qual ainda engatinhamos. E, algo que muito os agrada, vão extraindo dividendo político de seus resultados. Mas procedem com indisfarçável esquizofrenia. Agem de um modo, falam de outro e vão enganando os bobos.




É imoral ou anti humano ser contra o lucro e a livre iniciativa?

Quando você considera as diferenças que caracterizavam ricos e pobres antes da Revolução Industrial, o mito de que "o capitalismo promove a desigualdade" é desmascarado como uma ficção ignorante, uma história sem nenhum fundamento.

Pessoas auto-intituladas piedosas e caritativas rotineiramente dizem que o livre mercado e a busca pelo lucro não são atitudes que estão em conformidade com princípios morais.Tais pessoas creem estar genuinamente defendendo os mais puros princípios humanitários ao defenderem alguma alternativa ao livre mercado, como por exemplo a
terceira via ou mesmo o "distributivismo", doutrina segundo a qual o melhor sistema social é aquele em que a propriedade produtiva está amplamente dispersa pela sociedade em vez de concentrada nas mãos de alguns poucos.  Apenas para deixar claro, tais pessoas não defendem o socialismo per se, que envolve a estatização dos meios de produção, mas sim a ampla distribuição destes entre o máximo possível de indivíduos.
Em 1871, Carl Menger escreveu Princípios de Economia Política, uma obra de profunda genialidade que essencialmente inaugurou a Escola Austríaca de economia, mas que praticamente nenhuma das pessoas que se arvoram a pontificar sobre a "questão social" leu ou sequer conhece. Todos aqueles que escrevem sobre distributivismo, ou que simplesmente fazem apelos emocionais em prol da "necessidade" da redistribuição, parecem compartilhar da mesma ignorância, jamais se apoiando em argumentos solidamente econômicos para justificar sua posição — como se uma disciplina que se dedica à aplicação da razão humana para a solução do problema da escassez no mundo pudesse ser em si mesma antagonista aos bons princípios morais e aos mais belos ideais.
Mesmo se fizermos uma concessão a uma das principais premissas distributivistas — que diz que as micro e pequenas empresas são constantemente engolidas e destruídas pelas grandes empresas —, a conclusão a que eles sempre chegam, isto é, a de que é preferível para um indivíduo operar seu próprio negócio a ser empregado de outro, não é nada óbvia.É perfeitamente possível um indivíduo estar em melhor situação na condição de empregado, pois assim — para utilizar o argumento moral — ele poderá dar mais atenção à sua família, tendo mais tempo de lazer para usufruir junto a ela, algo que não aconteceria caso ele tivesse de se manter atento a todas as responsabilidades e cuidados inerentes à gerência do próprio negócio. Da mesma forma, caso a empresa para a qual ele trabalha vá à falência, ele próprio não estará falido. Estamos, portanto, lidando aqui com uma questão de circunstâncias individuais e não de generalizações grosseiras.
Suponha, ademais, que o "distributivismo" estivesse em vigor durante a Revolução Industrial na Grã-Bretanha no final do século XVIII. Certamente, teríamos ouvido infindáveis lamúrias a respeito da crescente concentração de poder econômico e o dramático crescimento no número de pessoas trabalhando em troca de salários. Mas o que provavelmente não teríamos ouvido seriam declarações sobre as reais condições daquelas pessoas que estavam procurando emprego nas fábricas.  Elas não foram afortunadas o bastante para conseguir uma vida rentável na agricultura, e também não haviam sido agraciadas por suas famílias com as ferramentas necessárias para empreender algum ofício independente e operar algum pequeno estabelecimento, algo que encantas os distributivistas.  Se elas, portanto, não tivessem tido a oportunidade de trabalhar em troca de salários, suas famílias simplesmente iriam morrer de fome. É realmente simples assim. O capitalismo, e não o distributivismo, foi o que literalmente salvou essas pessoas da mais completa penúria, e tornou possível o enorme crescimento da população, da expectativa de vida, da saúde, e do padrão de vida geral — crescimento esse que foi o maior que a Inglaterra já havia vivenciado até a época e que mais tarde se difundiu por toda a Europa ocidental.
Em um livro corrigindo o viés esquerdista dos velhos livros de história sobre a Revolução Industrial, o Prêmio Nobel F. A. Hayek reforçou esse ponto. "O proletariado que o capitalismo 'criou'", escreveu ele, "não representava uma fatia de pessoas que teria existido sem ele e que foram degradadas justamente pelo capitalismo a um nível mais baixo; tal proletariado representava, na realidade, uma população adicional que só pôde crescer em decorrência das novas oportunidades de emprego criadas pelo capitalismo."
Ludwig von Mises elabora ainda mais esse mesmo ponto:
É uma distorção dos fatos dizer que as fábricas arrancaram as donas de casa de seus lares ou as crianças de seus brinquedos. Essas mulheres não tinham como alimentar os seus filhos.  Essas crianças estavam carentes e famintas. Seu único refúgio era a fábrica; salvou-as, no estrito senso do termo, de morrer de fome.
É deplorável que tal situação existisse. Mas, se quisermos culpar os responsáveis, não devemos acusar os proprietários das fábricas, que — certamente movidos pelo egoísmo e não pelo altruísmo — fizeram todo o possível para erradicá-la. O que causava esses males era a ordem econômica do período pré-capitalista, a ordem daquilo que, pelo que se infere da leitura das obras destes historiadores, eram os "bons velhos tempos".
Nas primeiras décadas da Revolução Industrial, o padrão de vida dos operários das fábricas era escandalosamente baixo em comparação com as condições de seus contemporâneos das classes superiores ou com as condições atuais do operariado industrial. A jornada de trabalho era longa, as condições sanitárias dos locais de trabalho eram deploráveis.
A capacidade de trabalho do indivíduo se esgotava rapidamente. Mas prevalece o fato de que, para o excedente populacional — reduzido à mais triste miséria pela apropriação das terras rurais, e para o qual, literalmente, não havia espaço no contexto do sistema de produção vigente —, o trabalho nas fábricas representava uma salvação. Representava uma possibilidade de melhorar o seu padrão de vida, razão pela qual as pessoas afluíram em massa, a fim de aproveitar a oportunidade que lhes era oferecida pelas novas instalações industriais.
O distributivismo, dentro deste contexto, teria simplesmente privado milhares de pessoas destas oportunidades, gerando resultados cruéis para o mesmo proletariado que tal doutrina alega defender.
Também constantemente sob ataque dos distributivistas está a sempre difamada "busca pelo lucro".  O argumento emocional é o de que tal prática, além de não ter nada de meritória, é totalmente imoral.  No entanto, é certo que nem mesmo um distributivista negaria — dado que seria incoerência — ser moralmente lícito um indivíduo querer melhorar sua situação, tanto para si próprio quanto para sua família.  Ademais, mesmo a caridade para os mais pobres irá requerer o auxílio de pessoas ricas, e esta riqueza terá de ser adquirida de alguma forma.  Porém, sem a "busca pelo lucro", simplesmente não há como saber ao certo se este moralmente legítimo desejo do indivíduo de melhorar sua situação e a de sua família está sendo buscado de maneira a beneficiar a sociedade como um todo, e não apenas ele.
Ao longo dos anos, tem havido um enorme esforço concertado para fazer troça da "mão invisível" de Adam Smith, a imagem pela qual Smith procurou descrever o salutar processo por meio do qual o desejo de cada indivíduo de melhorar sua condição acaba também beneficiando aqueles à sua volta; e alguns moralistas argumentam que o fato de o padeiro fazer o seu pão não por benevolência, mas sim por estar em busca do lucro, é algo que merece apenas condenação do ponto de vista moral.
No entanto, há apenas duas opções em jogo: ou o indivíduo busca seus objetivos sem qualquer consideração pelas necessidades e desejos de seus conterrâneos, ou ele age levando em consideração estas necessidades. Não há uma terceira opção. Ao buscar "maximizar os lucros", motivação esta rotineiramente tratada como sendo um terrível flagelo sobre a civilização, o indivíduo está apenas garantindo que seus talentos e recursos sejam dirigidos para aquelas áreas que seus conterrâneos, por meio do sistema de preços, indicaram ser a mais urgentemente demandada e necessitada. Em outras palavras, o sistema de preços, e o sistema de lucros e prejuízos cujo cálculo o sistema de preços possibilita, obriga o indivíduo a planejar suas atividades em conformidade com as necessidades expressadas pela sociedade. Tal atitude implica necessariamente uma administração sensata e racional das coisas físicas existentes no planeta.  
É assim que uma sociedade racional e civilizada garante que seus recursos serão alocados e distribuídos não de acordo com algum esquema arbitrário, mas sim de acordo com as necessidades e desejos das pessoas. A busca pelo lucro, possibilitada pelo sistema de preços, portanto, permite não apenas a cooperação social, mas também o uso mais eficiente possível dos recursos escassos.  Sem a busca pelo lucro, como demonstrou Mises em seu clássico ensaio sobre a impossibilidade do cálculo econômico sob o socialismo, a civilização literalmente irá retroceder à barbárie.
Além do mais, nenhum moralista discordaria que uma vida de total comodismo e permissividade é moralmente inferior a uma vida em que a riqueza do indivíduo é colocada a serviço de investimentos produtivos e duradouros. Mas até mesmo levantar esta questão é retirar a atenção do problema real. Já deveria ser óbvio que reconhecer a "busca pelo lucro" não significa dizer que as pessoas deveriam pensar apenas em dinheiro, ou que o dinheiro é mais importante do que Deus, ou qualquer outra tolice. Como explicou Mises,
A imensa maioria da humanidade se esforça para ter uma maior e melhor abundância de comida, roupas, casas e outros bens materiais.  Ao considerarem como melhoria e progresso uma elevação no nível de vida das massas, os economistas não estão aderindo a um materialismo mesquinho.  Estão simplesmente reconhecendo o fato de que as pessoas são motivadas pelo desejo de melhorar as condições materiais de sua existência.  Julgam as políticas do ponto de vista dos objetivos que os homens querem atingir.  Quem desdenha a queda na taxa de mortalidade infantil e o gradual desaparecimento da fome e das epidemias, que atire a primeira pedra no materialismo dos economistas (ênfase minha).
A questão é que, uma vez que sabemos que o indivíduo possui razões perfeitamente válidas para buscar o mais alto retorno para seu investimento, ou para obter o mais alto salário possível, em vez de perdermos nosso tempo com lamentos tolos e irrelevantes a respeito das pessoas gananciosas deste mundo — uma questão de filosofia moral e não de economia —, devemos empregar a razão humana para aprendermos como este desejo perfeitamente moral de querer obter ganhos resulta em benefícios para a sociedade como um todo, pois gera a produção daquilo que sociedade urgentemente demanda em vez de mais daquilo que a sociedade já desfruta em abundância. Posto desta forma, o sistema de lucros e prejuízos de uma economia baseada na divisão do trabalho — uma instituição indispensável para qualquer sociedade civilizada — repentinamente se revela não apenas profundamente moral, como também algo essencial, sendo provavelmente por este motivo que os oponentes do capitalismo nunca se referem aos lucros desta forma.
Se quisermos que a força motriz que proporcionou o enorme avanço no padrão de vida que todas as pessoas do mundo desfrutaram ao longo dos últimos dois séculos não seja destruída, é essencial que entendamos o mecanismo que torna possível a sua existência.  Tal apreciação por estes indispensáveis aspectos da liberdade econômica está completamente ausente da mentalidade dos defensores do distributivismo — os quais, em sua ânsia para caricaturar o mercado como sendo um local de incessante "exploração" e ganância, consistentemente ignoram ou menosprezam suas conquistas e virtudes.
Dado que é muito mais difícil para um indivíduo crescer na virtude e salvar sua alma se estiver vivendo na mais completa penúria, seria de se esperar que os pretensos moralistas e piedosos demonstrassem maior apreciação pelo sistema que possibilitou a maior criação de riqueza que o mundo já vivenciou — incluindo-se aí um assombroso aumento da expectativa de vida, da ingestão de calorias, da qualidade das moradias, da educação, da alfabetização, e de incontáveis outras coisas boas, bem como reduções dramáticas da mortalidade infantil, da fome e das doenças.  E, contrariamente ao que asseguram os propagandistas, nada poderia ser mais óbvio do que o fato de que os benefícios do capitalismo aprimoraram exponencialmente a vida dos mais pobres.  
Faça o leitor uma experiência imaginária: suponha que um ancestral do ano 1700 pudesse ser transportado para a nossa época atual para vivenciar um dia rotineiro na vida de Bill Gates.  Ele sem dúvida ficaria impressionado com algumas coisas que tornam a vida de Bill Gates algo sem paralelos.  Porém, um bom palpite é que, dentre estes aspectos que tornam a vida de Gates inigualável, aqueles que mais impressionariam o ancestral seriam o fato de que Gates e sua família não têm de se preocupar com a possibilidade de morrerem de fome; que eles tomam banho diariamente; que eles utilizam várias roupas limpas ao longo do dia; que eles possuem dentes claros e saudáveis; que doenças como varíola, pólio, difteria, tuberculose, tétano e coqueluche não apresentam riscos substanciais; que as chances de Melinda Gates morrer durante o parto são de aproximadamente 1/60 em relação a um parto em 1700; que cada filho do casal tem aproximadamente 40 vezes mais chances de sobreviver à sua infância em relação às crianças da era pré-industrial; que os Gates possuem geladeiras e congeladores em suas casas (sem mencionar forno microondas, lava-louça, rádio, televisão, DVD, computadores etc.); que a semana de trabalho dos Gates é de apenas cinco dias e que a família tira várias semanas de férias por ano; que cada filho dos Gates recebe mais de uma década de educação escolar; que os Gates rotineiramente fazem viagens aéreas para locais distantes em questão de horas; que eles conversam sem nenhum esforço com pessoas que estão a milhares de quilômetros de distância; que eles frequentemente usufruem das soberbas performances dos melhores atores e atrizes do mundo; que os Gates podem, sempre que quiserem e onde puderem, ouvir uma sonata de Beethoven, uma ópera de Puccini ou uma balada de Frank Sinatra.
Em outras palavras, o que mais impressionaria nosso visitante são justamente os aspectos da vida de Gates que o magnata possui em comum com boa parte das pessoas do mundo (principalmente dos países desenvolvidos).  Por outro lado, quando você considera as diferenças que caracterizavam ricos e pobres antes da Revolução Industrial, o mito de que "o capitalismo promove a desigualdade" é desmascarado como uma ficção ignorante, uma história sem nenhum fundamento.
Escondida por baixo de todas essas críticas rotineiramente feitas ao mercado está uma ingenuidade a respeito do estado que realmente desafia por completo a lógica da mente humana.  Diga o que quiser a respeito de qualquer empresa da qual você não goste, e eu irei apenas lhe dizer que tal empresa não é a responsável por confiscar 40% da renda das pessoas para gastar em coisas moralmente repugnantes.  Tampouco é ela quem me proíbe de comercializar com o estrangeiro que mais me aprouver, que me impede de ter mais opções no mercado por causa de suas regulamentações, que encarcera pessoas pelo "crime" de ter ingerido ou injetado coisas em seus próprios organismos, que gerencia um sistema educacional que produz idiotas "multiculturais" em massa, e que despeja pessoas de suas propriedades com o intuito de fazer obras públicas naquele local.
Empresas privadas, mesmo as maiores, podem ir à falência. O estado, não. Por mais fã de regulamentações que um indivíduo seja, a simples sugestão de que o aparato estatal deva ganhar mais poderes, ou que tais poderes certamente não seriam utilizados depravadamente, é algo que realmente requer algum tipo de justificação que até o momento ninguém logrou apresentar.
Por fim, não deixa de ser curioso que os críticos da "imoralidade" do mercado não tenham estudado a sério as contribuições dos escolásticos espanhóis, cujas observações críticas sobre uma variedade de questões econômicas deveriam ser mais profundamente difundidas. Porém, como estes escolásticos se posicionaram ao lado da liberdade econômica, os distributivistas os tratam como anátemas.  É de se lamentar, pois os escolásticos eram teólogos que não apenas apresentaram princípios morais, como também procuraram entender os mecanismos daquilo que estavam discutindo, isto é, o sistema de mercado.
Somente por meio de um genuíno conhecimento dos mecanismos da economia livre, em vez de sua caricatura, pode a dimensão moral da ciência econômica ser sensatamente discutida.



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