domingo, 16 de junho de 2013

Governantes e Polícia Militar de São Paulo deram tiros em seus próprios pés

Na Mira do Regis


 



Dê uma boa olhada na foto ao lado. Olhe com muita atenção. Fique tranquilo, eu espero...
Olhou bem? Então agora me responda: você acha sinceramente que este policial está devidamente preparado para nos proteger do que quer que seja? Reparou no olhar transbordando de sadismo incubado?
Por aquilo que assisti estarrecido pela TV ontem, eu diria que não apenas este policial está completamente descontrolado, mas também seus colegas de farda. Sim, eu sei que os manifestantes também se excederam nos últimos dias – não sei como quebrar vidros, pichar ônibus e botar fogo em pilhas de lixo no meio da rua vai atrair a simpatia e atenção positiva do restante da população para qualquer reivindicação que seja. Mas policiais militares são – pelo menos teoricamente – preparados de modo profissional para enfrentar este tipo de situação. E não foi isto o que aconteceu ontem.
Para começar, sugiro que você leia aqui o ótimo texto escrito pelo colega aqui de Yahoo, Pedro Alexandre Sanches, que esteve presente em corpo e alma no meio da manifestação de ontem em São Paulo que, por pouco, não se transformou em um novo capítulo da “Primavera Árabe”, só que agora no Brasil.
Sei que é “politicamente incorreto” dizer isto, mas gostaria muito que a postura exibida pelos militares ontem contra os manifestantes fosse repetida no combate aos milhares de assaltantes, traficantes, sequestradores e criminosos em geral, que andam por aí impunemente roubando, fazendo arrastões em restaurantes, queimando dentistas indefesos... Porque o que aconteceu ontem foi um tremendo tiro no pé dado pela Polícia Militar, pela Prefeitura omissa e pelo Governo Estadual insensível. Porque muita gente saiu ferida, incluindo profissionais que estavam ali a trabalho – no caso, jornalistas - e, pior, gente que nada tinha a ver com a passeata e os protestos.
Enquanto o dia de ontem já se anunciava tenso, o que fez o governador Geraldo Alckmin? Em uma inacreditável demonstração de desconhecimento da realidade, ele fez exatamente o contrário do que se espera de um governante seguro e responsável: pegou parte de seu secretariado e se mandou para Santos – é, Santos!!! – para participar das comemorações do aniversário de José Bonifácio! E ainda postou em seu perfil no Twitter não uma mensagem de tranquilidade e calma para a população, mas um abraço para o povo de Guaratinguetá! Como é que é?
Já o prefeito Fernando Haddad, do PT, conseguiu ficar com o seu filme bastante tostado com os chamados “movimentos populares”, que foram um dos principais alicerces de sua vitória nas últimas eleições, por se alinhar a favor da ação da polícia e contra qualquer tipo de negociação, posição esta que mudou rapidamente quando seus ele e seus assessores presenciaram as cenas explícita de violência e desmandos da PM nos últimos dias. Não sem antes de tentar se ‘descolar’ de maneira asquerosamente oportunista do governo do Estado. Para quem foi eleito com um discurso de “mudança”, Haddad não entregou o que prometeu.
Polícia Militar, Alckmin e Haddad fizeram aquilo que causa horror em qualquer político experiente e tarimbado: deram motivos para as próximas manifestações de rua em São Paulo e, porque não dizer, em outras capitais. E o que é pior: há uma enorme possibilidade de surgir, a partir de agora, o apoio de grande parte da população ao movimento.
Como este “trio institucional” espera que as pessoas reajam ao ver o festival de porradas da Polícia Militar registradas por câmeras, celulares e até mesmo pelos helicópteros das TVs? Quem criticou o vandalismo dos manifestantes nos dias anteriores passou agora a criticar, de modo quase unânime, a truculência e o despreparo dos policiais e de seus respectivos comandos, estejam eles nas ruas, nos quartéis, nos gabinetes de segurança ou nos ou nos palácios.
Pode apostar que pouca gente vai “tocar na ferida”, como eu farei agora. Preste atenção: tudo isto está acontecendo porque a Administração Pública municipal se recusa a assumir o controle do transporte público, preferindo – por razões desonestas que já estamos carecas de saber – deixar isto a cargo de empresas particulares, gerenciadas por “empresários” que fazem qualquer gângster da Máfia italiana parecer um escoteiro. Com tal cenário, são os prefeitos e secretários de Transporte que deveriam exigir preços justos, conforto, segurança e disponibilidade aos usuários, e não se tornarem reféns dos interesses daqueles que financiam grande parte de suas respectivas campanhas políticas.
Escrevo tudo isto com a convicção de que o que antes era um protesto contra o aumento da tarifa de ônibus está se transformando em algo maior. Muito maior. Ontem, uma manifestação pacífica se tornou um caos porque o Estado, a Prefeitura e os políticos em geral estão com medo. Muito medo. E é justamente este medo que será o responsável por temores ainda maiores.


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